Estou publicando esse texto exatamente no dia de todos os santos (01/11). Ouvindo o quadro Academia CBN, com o filósofo Mario Sergio Cortella eu fiquei refletindo sobre a profundidade da palavra santidade. [link aqui].

Até escrevi um texto bem interessante no ano passado falando sobre a palavra santidade a partir da sua etimologia, que é conhecida por pouquíssimas pessoas. Ela significa “todo”, “inteiro”, “universal”. O que destoa imensamente do que entendemos convencionalmente.

Na nossa cabeça, ser santo é ser abnegado, é ser um mega religioso que passa a vida inteira ajudando os outros e, de preferência, promovendo milagres. Eu discordo de quem pensa assim e acho essa visão extremamente limitante.

Não vou me alongar nessa questão porque já deixei bastante explicado nesse texto, se quiser lê-lo basta clicar [aqui].

O título do Academia CBN é “A filantropia é uma forma de santidade”, o que encaixa perfeitamente com a frase que o Cortella falou referenciando o pensador francês do século XVII François de La Rochefoucauld. Sua frase diz o seguinte:

Muitos desprezam a riqueza, mas poucos sabem dá-la”.

François de La Rochefoucauld

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São apenas 8 palavrinhas, mas que transmitem muita sabedoria. La Rochefoucauld está falando sobre a filantropia, outra palavra que acho linda em sua origem. Ela é a junção de philos (amor) com anthropos (ser humano). Ou seja, ser um filantropo é ter um profundo amor pelo ser humano.

Infelizmente, não só no Brasil, mas no mundo todo, a filantropia está associada mais com doação de dinheiro ou de mantimentos. Claro que isso não deixa de ser filantropia, mas essa palavra é absurdamente mais abrangente.

Em minha opinião, existe uma filantropia muito mais bonita, que é a doação do seu tempo a partir de qualquer trabalho voluntário.

Quem me acompanha, talvez já tenha percebido que amo conhecer as raízes das palavras. Uma das minhas palavras preferidas é VOLUNTARIADO, derivada da palavra volutas, que significa VONTADE.

O ponto principal que liga todas as palavras que coloquei aqui é VONTADE.

Perceba que bonito. Tendo dentro de mim uma vontade genuína, eu posso me tornar voluntário em algum projeto. Esse projeto é algo que promove melhorias na vida das pessoas. Isso é o amor ao ser humano, ou seja, filantropia. E a filantropia é uma forma de santidade.

Logo, o maior de todos os pré-requisitos para ser santo é ter vontade para amar as pessoas de forma genuína e universal.

Sei que são muitas informações, mas coloquei de uma forma bastante simples, que dá pra internalizar.

Em nenhum momento eu falei que precisa promover milagres, ou que precisa se vestir com uma túnica branca, falar com voz de veludo, ou nada das ideias estereotipadas que temos sobre os santos.

Ser santo é ser humano! Ser santo é amar as pessoas e doar aquilo que temos de melhor, o nosso tempo. Cada um faz isso da sua maneira.

A sociedade distorceu demais a ideia de santo. Certamente você já ouviu alguém falar assim: “Nossa! Fulano(a) é um santo(a)…”. Mas tais pessoas dizem isso explicando que elas são santas porque conseguem ter paciência para lidar com alguém difícil no convívio diário, ou pior ainda, porque ela todo mês ajuda alguém a se manter financeiramente.

No primeiro caso, a pessoa não é santa, ela é apenas muito paciente, percebe? Ela aprendeu a ser resiliente e que não adianta querer a fina força que outra pessoa seja diferente do que é ou se adeque ao que ela gostaria que fosse. Isso não é santidade!

No segundo caso, digo que é pior por um motivo muito simples, leva a outra pessoa a uma espécie de acomodação. Ela não arregaça as mangas para superar suas próprias dificuldades financeiras porque sabe que alguém cuidará de bancar a sua subsistência. Só esse ponto dá pano pra manga, também não vou me alongar porque teria que escrever outro texto para aprofundar essa questão.

Quero concluir falando sobre a verdadeira riqueza. Aprendi tempos atrás a melhor definição de riqueza que imagino que exista: “Ser rico não é sobre quanto se tem, mas sobre quanto se pode dar”.

Muitos desprezam a riqueza, como diz La Rochefoucauld, mas poucos sabem dá-la. Dar a riqueza é dar um pouco de si mesmo. Dar dinheiro não é dar algo de si mesmo entende? Dar dinheiro é simplesmente doar um pouco de algo que você conquistou por fruto do seu trabalho. Claro que é valido e claro que pode ajudar muitas pessoas, mas se não existe amor pelo ser humano (filantropia), não vale a pena! Isso não é ajuda, é apenas vaidade, algo para inflar o ego.

Infelizmente existem muitos que se dizem filantropos, mas apenas assinam um cheque bem gordo uma vez por mês. Não saem de casa para ir a um abrigo de idosos, ou a um hospital de crianças com câncer, ou algum projeto de reflorestamento, ou de reciclagem, ou de ajuda a moradores de rua, ou animais abandonados etc etc. Esses são apenas pseudofilantropos. Os verdadeiros filantropos estão em contato real com a dor humana, com as necessidades universais já citadas acima e muitas outras!

Que nesse dia de todos os santos possamos aprender um pouco que a santidade não é algo para indivíduos especiais que saem por aí fazendo milagres. A santidade é ser uno, ser total, e amar os seres humanos de forma genuína…

 

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Isaias Costa

Isaias Costa. Sou Bacharel em Física, Mestre em Engenharia Mecânica e Psicanalista Clínico. Descobri o meu amor pela escrita nas dificuldades que passei no meu caminho, aliado ao prazer de ler sobre Filosofia, Psicologia e Autoconhecimento. Este blog trata de assuntos em sua maioria voltados para o autoconhecimento, com o objetivo de nos fazer pensar e se questionar sobre as grandes questões da vida. Também escrevo nos blogs "Para além do agora" e "Universo de Raul Seixas". www.paralemdoagora.wordpress.com www.universoderaulseixas.wordpress.com Além disso também atendo online como psicanalista. Aos interessados basta entrar em contato comigo por mensagem pelo whatsapp (85) 98610-6688 Sejam todos bem-vindos ao "Artesanato da mente"...

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