AGRICULTORES RETORNARAM PARA CASA COM AMEAÇA DE VOLTAR NA QUARTA-FEIRA.

Para tentar dar uma maior pressão nas autoridades Federal, Estadual e Municipal, os manifestantes que acamparam em frente à Prefeitura de Canindé, deste a última quinta-feira, fecharam o prédio do Executivo por três horas, onde ninguém entrou e nem saiu.

Durante os dois dias, nenhuma das reivindicações exigidas pelos assentados foi atendida. Ficou tudo para uma reunião em Fortaleza no Palácio Iracema, sede do Governo do Estado.

Antes eles participaram da Sessão da Câmara Municipal, onde colocaram para os vereadores os problemas enfrentados com a pior seca dos últimos 50 anos no Nordeste brasileiro.

O primeiro a usar da palavra foi o Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Canindé José Maria Coelho – o ZEZITO. Segundo ele, a situação que é do conhecimento de todos nada mudou. ‘’Quem sente na pele é quem sofre com o dia-a-dia das dificuldades no campo’’, denunciou. Falta de tudo, carros pipa, poços profundos, apoio das autoridades, enfim é de total desprezo’’.

O sindicalista falou que já existe até a ‘’PIPA BOI’’ onde os agricultores compram água para os animais, o ‘’JUMENTO PIPA’’, paliativo encontrado para ajudar na caça ao precioso líquido. ‘’Queremos o pagamento do garantia safra o mais rápido possível. ‘’, disse o sindicalista.

A representante do Movimento dos Sem Terra, Antônia Ivoneide, salientou que estavam no movimento por uma situação extrema. ‘’Existem comunidades que recebiam 15 carros pipa por mês, agora só recebem um e com direito a 20 litros de água por dia. Logradouro só irá receber o precioso líquido no dia 21 de outubro’’, criticou.

‘’Queremos que encaminhem a nossa situação de sede. Mulheres com depressão no sertão e tomando remédios controlados. Há mais de 400 anos existem registros de seca e Canindé, não poderia ser diferente. Precisa-se de um estudo geofísico urgente’’.

NENEN cita como exemplo, um poço perfurado na Lagoa Verde com vazão de 20 mil litros por hora, numa profundidade de 80 metros. O garantia safra é outra situação complicada, não se sabe quando vai sair. Canindé não tem força política pessoal, o movimento tem mais força. Em 1915 e 1937 milhares de pessoas morreram de fome, não queremos que isso aconteça mais’’, explicou.

O representante do Fórum dos Assentados Edilson Silva, ao usar a tribuna lembrou um fato preocupante: ‘’Queremos que essa situação seja resolvida. Nós recebíamos 17 senhas por mês no Assentamento Jurema e hoje não recebemos mais nenhuma. Em Jacurutu eram 21 senhas e agora somente uma por mês.

Para a vereadora Zeleide Araújo, discurso não enche bucho (barriga) e nem mata sede de ninguém. ‘’Ou se toma uma medida urgente, ou a coisa vai piorar’’, frisou a vereadora.

Já o prefeito Paulo Justa falou que o Município vem fazendo o impossível para atender as necessidades dos agricultores, mas os recursos são muito pouco. ‘’Conversei com o Delegado do Ministério do Desenvolvimento Agrário no Ceará, Francisco Sombra e ele me disse que não tinha uma posição em relação ao pagamento do garantia safra de Canindé, porque existem 1.120 municípios no Nordeste que ainda faltam receber o dinheiro e o Governo Federal estar pagando aqueles de menor número de trabalhadores habilitados’’, disse.

Enquanto continua esse jogo de empurra-empurra, os assentados esperando pela Prefeitura, a Prefeitura esperando pelo Governo do Estado, o Governo do Estado esperando pelo Governo Federal, a fome e a sede avançam de forma silenciosa e malvada.

FOTOS E TEXTO: ANTONIO CARLOS ALVES