Como uma ação referente à Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Ceará – SEBRAE/CE – realizou, ontem, um dia de campo com produtores e representantes da área rural dos municípios de Canindé e General Sampaio.


Segundo a analista técnica do SEBRAE, Cláudia Jane Gomes, a SNCT, criada em 2004 com o objetivo de levar informações sobre Ciência e Tecnologia em linguagem de fácil compreensão para a população brasileira vem se fortalecendo a cada ano. “Este ano o SEBRAE está realizando dezenas de ações em nosso Estado, nas mais diversas áreas. Aqui em General Sampaio, aproveitamos para realizar o repasse de uma técnica que pode contribuir muito para a convivência com o Semiárido, que é a barragem subterrânea”.


O consultor do órgão, Éden Rocha, ministrou a palestra de campo para o grupo na comunidade de Riacho das Pedras, em General Sampaio, para ensinar as técnicas de como construir a barragem subterrânea. Segundo ele, é uma obra construída na areia do riacho, que tem como finalidade principal impedir que a água nela acumulada continue a escoar.


De preferência ela deve ser construída nos períodos de estiagem quando o nível da água subterrânea estiver mais baixo. Principalmente em locais onde as águas das cacimbas possua boa qualidade. Onde existam áreas significativas de aluvião. Melhor ainda se existirem poços amazonas construídos na área.


‘’Após a identificação do local adequado à construção, é feita uma abertura transversal ao leito do riacho. Esta abertura pode ser feita de forma manual ou mecânica (trator de esteira ou retroescavadeira). Em seguida é colocado material impermeável (argila, lona plástica, etc.) de modo que venha impedir o fluxo natural da água subterrânea’’, ensina.


Concluída a obra, a vala é totalmente preenchida com o próprio material que foi retirado. Apresenta maior rapidez na construção (três dias no máximo, se mecanizada).


Os custos são baixos (da ordem de R$ 6.000,00) incluindo o poço amazonas. “Com a construção de um poço amazonas, é possível manter um controle adequado do processo de salinização’’, explicou aos presentes”. O mais importante é que a barragem pode ser executada com a mão-de-obra da própria comunidade beneficiada.
É possível monitorar o nível d’água subterrânea continuamente ao longo do ano. A água nela acumulada pode ser utilizada para diversos fins: consumo humano e animal, usos domésticos, pequenas irrigações, entre outros.


Se a barragem subterrânea não for explorada adequadamente, aconteça um aumento na concentração de sais em suas águas. No entanto, com a construção do poço amazonas, é possível retirar água do manancial subterrâneo, evitando desse modo o aumento da salinização com a renovação de suas águas.


Éden Rocha falou que a construção desse tipo de obra permite elevar o nível das águas subterrâneas, tornando-o mais próximo da superfície. Com o incremento da saturação d’água do solo é possível praticar no local da obra (a montante do barramento) diversos tipos de culturas agrícolas.


Para o caso de se construir apenas um poço amazonas, ele deve ficar próximo e a montante do barramento. Deve-se aproveitar o momento da escavação da vala da barragem. Ele pode ser construído preferencialmente com manilha, devendo ser porosa na base (01 ou 2m de profundidade).


No caso de consumo humano e animal, a água subterrânea armazenada nesta obra pode ser coletada através de poço amazonas, onde será colocado um equipamento de bombeamento a ser dimensionado em função da quantidade de água do poço.


Para o caso de utilização agrícola, ela pode ser feita de duas maneiras, naturalmente, aproveitando a elevação do lençol freático; utilização direta da água do poço amazonas em pequenas irrigações.


Para o consultor do SEBRAE em primeiro lugar é necessário verificar a importância social da obra, pois se a ação não despertar o interesse público estará destinada ao fracasso.
Em segundo lugar, a água subterrânea do local não deve possuir taxas elevadas de salinidade, pois se isso acontecer poderá ocorrer um aumento na concentração dos sais na água da barragem, o que inviabiliza o seu aproveitamento.
O depósito aluvionar (areia principalmente), identificado no leito do riacho, deve possuir espessura suficiente para justificar a construção da barragem (no mínimo 1,5m).
A aluvião (material depositado pelo riacho) deverá ser constituída predominantemente por areias.
É importante que ao mesmo tempo com a barragem subterrânea seja construído, na área de montante, pelo menos um poço amazonas, que terá como função principal permitir a retirada d’água subterrânea ali acumulada. O bombeamento permanente d’água vai servir para evitar a sua salinização através da renovação, principalmente na época chuvosa.
A barragem subterrânea representa um tipo de construção hídrica considerada de baixo custo, com aspectos construtivos simples e que pode ser feita pela própria comunidade.
É necessária a participação de um técnico em hidrogeologia na construção de uma barragem subterrânea. Ele irá selecionar o melhor local para se construir a obra, bem como orientar o processo construtivo propriamente dito. Também vai definir a vazão da exploração do poço amazonas.
É importante que a barragem subterrânea seja construída no período de estiagem após a passagem das chuvas. É nessa época que vai acontecer um rebaixamento do nível freático da água (subterrâneo), permitindo a construção com mais facilidade.
É importante que, após a conclusão da barragem, seja feita uma arrumação de pedras na superfície e posicionado sobre o barramento. Isto servirá para represar a água e inundar a área a ser saturada da barragem.
FOTOS E TEXTO: ANTONIO CARLOS ALVES