CAFUNDÓ NO SERTÃO CEARENSE VIU A COPA DO MUNDO PELA PRIMEIRA VEZ DA SUA HISTÓRIA.

Cafundó, segundo o dicionário Houaiss, significa “local de difícil acesso, especialmente quando situado entre montanhas ou quando longínquo e pouco habitado”. Ou ainda, “baixada estreita entre encostas ou lombas altas e íngremes” e, por fim, “parte ou aposento de prédio ou habitação sem muita iluminação”.
As definições não poderiam ser mais cabíveis para designar um lugar de dificuldades, sonhos, lutas, e esperança que atende por esse nome. À exceção da última, pelo menos a partir do final de 2011: em Cafundó, comunidade que pertence ao município de Choró, em um rincão do Sertão Central cearense, encravado em uma serra onde predomina uma vegetação mista de caatinga, cerrado e floresta tropical, e aonde só se chega a pé após 50 minutos de uma subida íngreme e põe íngreme nisso a energia elétrica só apareceu lá há em 2011, dentro do programa federal Luz Para Todos.
E foi graças também ao helicóptero ‘ESQUILO’’ que transportou 46 postes de iluminação, além dos jumentos que subiam e desciam a serra, conduzindo materiais necessários para a implantação da rede.
Com isso, as 23 famílias dessa localidade, onde a agricultura de subsistência é a principal atividade feijão, fava, milho, jerimum e muita manga, entre outros, quando dá chuva, trocaram o breu das lamparinas e as fumaças de querosene e diesel pelas lâmpadas doadas pela empresa que designou o projeto.
Alguns ganharam da COELCE, outros compraram geladeiras, para armazenar e estocar alimentos; máquinas de lavar também chegaram. E pequenos televisores, quase todos de tubo, com acesso a 31 canais pela parabólica.
De maneira que Cafundó assistiu a Copa do Mundo de 2014 pela primeira vez.
Deitado em uma rede, enquanto acompanhava em um televisor de 14 polegadas, um filme de ‘’Zorro’’ o garoto Valdenir Queiroz do Nascimento, 16, disse em tom de orgulho: “Quando assisti jogo de futebol pela primeira vez, entre URUGUAI e INGLATERRA foi uma reação muito forte. Fiquei emocionado e até fui as lágrimas. O tamanho do campo me impressionou. Não sabia que era tão grande assim, nunca tinha visto os torcedores e nem o juiz”.

Valdenir, que calça sua chuteira todos os dias para bater bola com seus colegas, afirma que seu sonho agora é um dia ir ao estádio. “A vontade existe, mas é difícil, né? Pelo menos a TV dá uma noção de como é”.
Flamenguista, ele é fã de Neymar e achou que Daniel Alves, na lateral direita, ficou devendo na última Copa.
E como foi que Valdenir acompanhou a Copa de 2010? “Aquela Copa não foi nada. Basicamente assistia no rádio de pilha. Era muito ruim: você nem sabia quem era o jogador”. Seu irmão Valdelino, que ficou fã do apresentador, GALVÃO BUENO, narrador da Rede Globo e MARCOS MONTENEGRO, apresentador do Globo Esporte no Ceará ambos da RG de Televisão emenda: “pela primeira vez a gente viu o Brasil jogar”.
Depois de subirmos e descermos serras, pois em Cafundó não há vizinhos de porta as casas são espalhadas-, estava Raimundo Silva de Oliveira, também conhecido como “Piroca”, em frente à TV.
“A Copa foi nosso grande presente depois da energia. A gente aprende sobre os outros países. Camarões, por exemplo, eu nem sabia que existia direito, nunca tinha visto a gente de lá. É bonito o tanto de seleção, de gente do mundo inteiro. Fora esses estádios. Não sabia que no Brasil tinha tanto estádio bonito”.
Na Copa de 2010, Raimundo conseguiu fazer funcionar seu aparelho de TV à base de placas solares e bateria de carro. “Mas a gente dependia basicamente do sol”. Se fizesse um dia quente, dava pra assistir um jogo inteiro. Hoje não dependo mais do sol para assistir televisão’’, disse.
Todos entrevistados pela Reportagem do PORTAL C4 NOTICIAS DO POVO ON LINE apontaram algumas mudanças na rotina de vida, com a chegada da TV. Antigamente o pessoal dormia por volta das sete, agora dorme mais tarde. As visitas aos vizinhos se tornaram mais escassas. Na falta de outras opções de lazer, há relatos de quem assista mais de sete horas de TV por dia.

“A televisão informa sobre o que está acontecendo. Mas tudo depende da interpretação. Muitos mudaram tentando imitar o que passa na tela”, diz Otaciano Gomes de Souza, 23, professor que ganhou um televisor e uma antena parabólica da COELCE.
Ele dá aulas diariamente, do primeiro ao quinto ano. Depois, as crianças precisam pegar ônibus para seguir até a Escola Municipal de Choró, o que leva duas horas.
Na primeira TV instalada na casa de Otaciano. O primeiro programa que viram, ele conta, foi “Chaves”. “As crianças ficaram tão impressionadas que pareciam querer entrar na tela”.
Entre as mulheres, o sucesso são as novelas. Tatiana Silva de Oliveira, 16, que também assistiu à Copa, gosta da novel “A REGRA DO JOGO”.
Segundo a Coelce, empresa responsável pela implantação da rede elétrica em Cafundó, a obra durou 40 dias; 46 postes, 18 transformadores, 12 cruzetas e cerca de 300 kg de condutores foram levados em 30 viagens de helicóptero. Só assim era possível transportar o material até a região. Enquanto isso, jumentos subiam a serra transportando equipamentos acessórios, como ferramentas.
“Quando a gente viu aquele bicho avoando eu pensei, agora vai!”, afirma Antônio Preto, 76, um dos mais antigos moradores do Cafundó.
O Luz para Todos, cujo desafio é acabar com a exclusão elétrica no país, é coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, operacionalizado pela Eletrobrás e executado pela Coelce. Segundo a Coelce, o programa beneficiou 178 mil famílias no Ceará desde 2004, fazendo com que mais de 99% da população do Estado tenha eletricidade.
AMANHÃ VAMOS CONHECER A HISTÓRIA DA LAVADEIRA DO CAFUNDÓ CONHECIDA COMO RITA DO PIROCA.
Forte abraço e até outra série de Reportagens.
Fotos e texto de Antônio Carlos Alves