A 48ª Missa do Vaqueiro, celebrada no Município de Canindé no Sertão do Ceará, emocionou vaqueiros, autoridades e simpatizantes presentes no Parque de Exposição Francisco Diassis Bessa Xavier no Sertão do Ceará, no semiárido Nordestino.

Um fato que vem chamando atenção é o número de crianças e adolescentes vestidos com roupas de couro e, que participam da celebração. É a tradição mantida de pai para filho e de avôs para netos.

Durante sua pregação, o celebrante padre Roberto Reinaldo lembrou que ‘’o bom vaqueiro é aquele que corre atrás da criação. O bom vaqueiro cuida dos seus filhos, do seu lar e de sua comunidade. Seja um vaqueiro e não tenha vergonha de ser vaqueiro’’, ressaltou.

‘’O vaqueiro é um símbolo de coragem e arrojo dos sertanejos. Figura lendária, que desafia o tempo. Há mais de um século eles correm pelo campo em busca das reses desgarradas. Os cavaleiros do sertão usam armaduras de couro para se proteger dos galhos e espinhos da Caatinga’’, observa o religioso.

‘’Mesmo assim, eles arriscam a vida e voltam sangrando em cada pega de boi”, lembrou o historiador César Venâncio, que participa das manifestações culturais em todo o Ceará e que veio prestigiar a missa em Canindé.

Para ele, o rosto é a parte mais desprotegida. Quebrar o nariz, fraturar costelas, cair do cavalo, tudo isso faz parte da rotina do vaqueiro. Destemidos, eles não pensam nas consequências, quando entram no mato. Homens e animais, no mesmo ritmo e sintonia, inspiram versos e aboios dos poetas, como aconteceu no sábado após a celebração da missa, onde os vaqueiros emocionaram o público católico presente na Basílica.

Para o presidente da Associação dos Vaqueiros, Boiadeiros, e Criadores dos Sertões de Canindé, (AVABOCRI) Edilânio Freitas, os vaqueiros são cangaceiros sem armas. Personagens do Sertão, que se destacam na cultura nordestina. “Quem era um bom vaqueiro, na rudeza da vida do gado, se transformava quase sempre em um bom soldado volante ou em um bom cangaceiro. Daí que os recrutamentos se faziam em cima dos vaqueiros”, diz. Cangaceiros e vaqueiros sempre conheceram bem os segredos da caatinga.

Os vaqueiros de Canindé têm histórias interessantes para contar. A cada conversa que se tem com um deles, uma surpresa. Percorrendo as narrativas e o imaginário cultural do Nordeste brasileiro, certamente, nenhum personagem simboliza e traduz a essência do ser sertanejo como a tradicional figura do vaqueiro.

Como forma de proteção diante deste e de outros perigos, além de sua indumentária, o tradicional terno de couro (perneira, gibão, chapéu, peitoral, luvas e botas), o vaqueiro vale-se de uma prática que, segundo ele mesmo, é a mais importante e essencial: a fé.

“A fé é algo extremamente associado a vida do vaqueiro, fundamentando, além de sua espiritualidade. A expectativa de uma vida materialmente melhor, pois parte de seu salário e pagamento dependia de tirar sorte na produção de forma previamente acertada com o patrão, mesmo diante das incertezas comuns, mas confiante em seu trabalho e contemplando o vindouro de forma otimista, ganharia um em cada quatro filhotes de gado que nascessem sob seus cuidados”, lembra o vaqueiro Pedro do São Bernardo, que passou muitos anos trabalhando dessa forma.

Canindé é hoje o Município do Estado do Ceará que mais se destaca nessa modalidade. Como forma de manifestação e exercício de fé da vaqueirama, destacamos também a vivência religiosa, prática comum na região que em todos os distritos prestam homenagens aos vaqueiros nas festas de seus padroeiros. Mas é na festa de São Francisco das Chagas sempre no mês de setembro que uma programação religiosa é marcada por missa, procissão, pagamento de promessas, cavalgadas, pega de bois no mato e vaquejadas.


A Prefeita de Canindé, Rozário Ximenes, a vereadora Sara Ximenes e a Chefe de Gabinete Diana Gomes, o Secretário de Esportes Rômulo Laurênio participaram da celebração.

Fotos e texto de Antônio Carlos Alves