A banda CATEDRAL conseguiu a façanha de ser um dos grandes nomes em dois mercados amplamente distintos. O antes quarteto formado pelos irmãos Motta e pelo baterista Guilherme Morgado nasceu no mundo Gospel, abriu-se para o mercado secular, sofreu um terrível baque com a perda do guitarrista Cézar em um estúpido acidente de carro em 2003, mas seguiu lançando discos de estúdio e ao vivo em uma carreira que chega aos 28 anos (e um número similar de itens na discografia). Apesar do sucesso em ambos os mercados, ano passado a banda anunciou que estaria encerrando as atividades, fazendo ainda alguns shows em algumas cidades (Fortaleza entre elas). No sábado, 26 de novembro, fomos ao Teatro Riomar para conferir o que foi anunciado como o último show da banda na cidade,  (o adjetivo aqui não significa apenas o mais recente, mas também o derradeiro, a última oportunidade de ver Kim, Júlio e Guilherme como Banda Catedral, ao vivo). Todas as fotos aqui são de Rodolfo de Oliveira Paiva.

Catedral, foto por Rodolfo Oliveira Paiva

Catedral, foto por Rodolfo Oliveira Paiva

Já falamos aqui, mas não custa relembrar. Diferenciais que aquele teatro oferece na realização de eventos, como o daquele sábado, são segurança e comodidade. Por se localizar dentro de um shopping, o teatro pode contar com amplo estacionamento (a preços não abusivos), segurança e tem as vantagens de ter uma praça de alimentação, lojas, serviços, tudo bem ao lado. Em uma cidade cada vez mais violenta, a tranquilidade de chegar, ficar e ir embora é um ponto sempre importante. Começamos a nos abster de ir em eventos no Centro Dragão do Mar, por exemplo, que seria de fato e direito o maior polo de efervescência cultural da cidade, mas onde estacionar é cada vez mais complicado e a segurança é precária. Naquela noite de sábado, pelo menos, não haveria a menor preocupação.

Com o cenário para o show já todo preparado pela SD Produção, empresa responsável por esta última vinda do CATEDRAL à cidade, teatro absolutamente lotado, ingressos esgotados na véspera, o show começou pontualmente às 22h, com muitos gritos do público. Seguindo o script do DVD mais recente, “Fale mal de mim”, “Quando o Amor Acontece”, “Um novo tempo” abrem o show. Em “Fale mal…”, o baixo de Júlio conduzindo a banda com protagonismo já impressiona e adianta porque a banda fez tanto sucesso nos dois mercados em que participou.

Ao agradecimento de Kim (“obrigado pelo carinho, pela presença maravilhosa”), o público já respondeu com o mote “Ú, é catedral. Ú é Catedral”. Estarmos em um teatro é apenas um detalhe, pois a plateia queria festa, muita festa e muitos sucessos, que vieram na forma de “Balada de Uma Saudade” e “Nada Mudou”, com seu belo solo, e o primeiro medley com a bela “No Quintal da Nossa Casa” colada a “Quando o Verão Chegar” e “Tudo Pode Mudar”, que termina com singalong e mensagem positiva, como a grande maioria das canções do CATEDRAL.

“Do Meu Querer” e “Somos Todos Iguais” vem na sequência. “Tem que ser uma banda muito louca para falar essas coisas em 1998. Hoje em dia, a CATEDRAL é a banda com fãs mais esclarecidos, mais formadores de opinião”, afirma KIM antes de passar para a calma e tranquila “Amanhã” e para a bela “Eu Quero Sol Nesse Jardim”. Em “Enquanto o Sol brilhar”, Caíque, o tecladista, e Júlio fazem breves solos antecedendo o solo arrasador do guitarrista Diego Cezar.

Mais um medley vem com “Dona do Meu Coração”, “Tchau” e  “Ela e o Castelo”, que o público também canta junto. E é o público que dá o show ao reconhecer os primeiros acordes de “O Que Não se Pode Explicar aos Normais”. “Essa eu quero ouvir, quero ouvir todo mundo cantando”, pede Kim, ao que é obviamente atendido, assim como em “Estações”, que emocionou os presentes com o vocalista se derramando aos versos de “cuida do meu coração”. Em “A Resposta de Um Desejo” mais um momento de interação. “Estão preparados? Nessa primeira parte eu só vou regê-los” E a banda passou a ter 800 e tantos integrantes.

As mensagens do CATEDRAL e suas melodias não são o único motivo do sucesso da banda. A excepcionalidade técnica de seus músicos é também um dos motivos que a colocam no mesmo patamar que bandas como OFICINA G3, REBANHÃO, STAUROS, ROSA DE SARON, mas também de LEGIÃO URBANA, ENGENHEIROS DO HAWAII e BARÃO VERMELHO. Em “Amor Verdadeiro”, Júlio faz sem qualquer traço de humildade (e que fique claro que isso aqui é um elogio) um solo de agudo de baixo. Agudo, eu repito. Agudo.

“Agora vamos esquentar”, conclama KIM. E o público acabou ficando em pé, a maioria já dançava, no terceiro medley, com “O Nosso Amor”, “Quem Disse Que o Amor Pode Acabar? e “Eu Amo Mais Você”. Esse é talvez o único defeito do show (e, analogamente, do DVD “Música Inteligente Ao Vivo”, que tem estrutura bem similar a daquele show). A canção deveria ter seu momento individual, não estar em um medley. Afinal, para ficarmos com um exemplo do Led Zeppelin que tocava no camarim, não se insere “Stairway to Heaven” em um medley simplesmente porque não. Ponto.

Na próxima parte do show, Kim fica só no palco com Diego e Caique para momentos mais intimistas com “Sempre Apaixonado” e “Meu Bem”, a versão de  “Mandy”, de Barry Manilow. E ainda brinca, “a próxima o cara tem que cantar mostrando pra namorada, pra noiva que está sofrendo”, antes de “Você É o Meu Amor”. O tecladista, um menino ainda, leva bem a canção.

 

Com toda a banda no palco novamente, o show continua com “Cotidiano”, “Hoje”, “O Silêncio” e “O sapo, o Escorpião e a Paixão”. Kim ressalta que não costuma atender a pedidos de fãs (veio para cantar para todos, não para este ou aquele), mas abrirá uma exceção para uma fã na plateia. O pedido fora feito no camarim momentos antes do show. Confira reportagem especial no link abaixo:

“Já não canto essa música desde os 20 anos. É claro que vai ser complicado e vocês vão me ajudar”, avisou Kim antes de “O Sonho Não Acabou”. “O título dessa música representa esse momento”, completou ele.

Antes de “O Labirinto de Fausto”, Kim mandou sua crítica também à Teologia da Prosperidade (conforme verbete na Wikipedia, “doutrina religiosa cristã que defende que a bênção financeira é o desejo de Deus para os cristãos e que a fé, o discurso positivo e as doações para os ministérios cristãos irão sempre aumentar a riqueza material do fiel”). “Não caia nessa. Deus não é imobiliária“, completa KIM. “Se seu pastor falar isso pra você, mande-o plantar batata, porque ele só quer o ‘seu dinheiro”. E complementa: “Eu falo mesmo porque eu não tô nem aí. Não devo nada a ninguém. Quero mais é que eles se danem. Principalmente quem apoia essa coisa leviana, asquerosa, nojenta que é a Teologia  da Prosperidade”. Sob muitos aplausos, ele continuou: “todos os que apoiam a Teologia da Prosperidade eu quero que se danem, até porque eu querer que eles se danem é muito pouco diante do que vai acontecer com eles depois. Vocês acham que Deus quer isso? Então quer dizer que a história de Jesus toda… rasgue então a história de Jesus, meu amigo, porque se você acredita na Teologia da Prosperidade você não acredita em Jesus. Você está aceitando a outro deus. Sabe que deus você está aceitando? O dinheiro. Ah, Kim, mas é muito fácil você falar isso. Eu trabalhei, meu amigo. Eu tenho talento e eu trabalhei. Mas eu nunca fiz um show com a Banda Catedral e passei a sacolinha, estou precisando comprar um carro, um ônibus… Nunca fiz isso porque eu tenho vergonha na cara. E é por isso que eles falam que a gente é safado. Porque a gente não faz o jogo deles. Eu não faço o jogo desses safados, sem vergonha, esses canalhas”. E conclui. “Eu respeito Deus. Sempre respeitei. E é por isso que eles falam mal da gente. Vou falar sério. Eu quero que eles se danem”.

“A Poesia e Eu” foi mais uma das canções tocadas pela banda. “Para Todo Mundo”, “Terra de Ninguém” e “A Revolução” ainda estavam no setlist, mas, depois de tanto, apenas “A Revolução” entrou. De fato, muitas outras que nem estavam no repertório original já haviam sido incluídas. “Obrigado por todo esse suporte, obrigado, Deus é fiel, Deus é muito fiel”, arrematou Kim, fechando a noite e a trajetória do CATEDRAL em Fortaleza.

Pela grande quantidade de músicas no setlist e medleys com canções quase completas e até adicionando coisas ao setlist original, o trio quinteto fez valer o show que arremata a carreira. Merecia repeteco. Mais de um nos anos que virão. Quem sabe? Como eles mesmo falam na canção “Hoje”, “o amanhã não pertence a você nem a mim / O amanhã, pertence a Deus!”.

 

Agradecimentos:
SD Produção e Samuel Ferreira, pela atenção e credenciamento.
Rodolfo de Oliveira Paiva, pelas imagens que ilustram esta matéria.

Setlist

  1. – Fale Mal de Mim
  2. – Quando o Amor acontece
  3. – Um novo tempo
  4. – Balada de Uma Saudade
  5. – Nada Mudou
  6. – No Quintal da Nossa Casa
  7. – Quando o verão chegar
  8. – Tudo Pode Mudar
  9. – Do meu querer
  10. – Somos todos iguais
  11. – Amanhã
  12. – Eu quero sol nesse jardim
  13. – Enquanto o Sol Brilhar
  14. – Dona do Meu Coração
  15. – Tchau
  16. – Ela e o Castelo
  17. – O que não se Pode Explicar aos Normais
  18. – Estações
  19. – A Resposta de um Desejo
  20. – Amor verdadeiro
  21. – O nosso Amor
  22. – Quem disse que o amor pode acabar?
  23. – Eu amo mais você
  24. – Sempre Apaixonado
  25. – Meu Bem
  26. – Você é o Meu Amor
  27. – Cotidiano
  28. – Hoje
  29. – O Silêncio
  30. – O Sapo, o Escorpião e a Paixão
  31. – Sonho Não Acabou
  32. – O Labirinto de Fausto
  33. – Poesia e Eu
  34. – A Revolução

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Daniel Tavares

Daniel Tavares começou a escrever fazendo poemas para conquistar a Sílvia Amora. Demorou muito, mas, depois de casar com ela e trazer o João Daniel ao mundo, passou a escrever para o Whiplash.net, Scream & Yell, Metal Militia Web Radio e para o Ceará & Rock.

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