Não vamos nos enganar. O Oscar sabe que o discurso sobre representatividade é, para si, talvez até mais importante do que a representatividade de fato. Se todos acharmos que a indústria do cinema está incluindo minorias, ótimo. Pode-se manter o status quo. Depois de uma edição marcada pelo maior erro da história do prêmio (tirando o Oscar de Crash – No Limite, em 2005… brincadeira), a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas entrou 2018 com não apenas um, mas dois pepinos na mão.
Não bastava ser uma cerimônia empoderadora, onde os negros, as mulheres, a população LGBTQ se sentissem representadas. Era também sobre esquecer que, há pouco mais de um ano, “La La Land – Cantando Estações” foi anunciado erroneamente com o (justo) Oscar que era, de fato, de “Moonlight – Sob a Luz do Luar”. Daí, o retorno do apresentador, o engraçadinho Jimmy Kimmel – com pirotecnias e uma tentativa repetitiva de empatia com o público. Daí a volta da dupla que protagonizou o infeliz erro no principal prêmio em 2017, Bonnie e Clyde em pessoa: Faye Dunnaway e Warren Beatty.
Já no ano passado, o script pedia maior diversidade – resposta à cobrança por acusações de assédio e pela campanha #OscarSoWhite. Esse ano, o destaque absoluto foi a magnânima Frances McDormand, que conclamou todas as mulheres indicadas a qualquer um dos Oscar entregues a se levantar junto à ela na comemoração por levar a categoria melhor atriz (pela segunda vez na carreira). Posso até não gostar (nem um pouco) de “Três Anúncios para um Crime”, mas Frances merece sempre e é certeza de discursos poderosos. Houve ainda espaço para Jordan Peele, diretor estreante, fazer história como o primeiro negro a ganhar o Oscar de melhor roteiro original por “Corra!”, fácil o mais original entre os cinco indicados. E teve espaço ainda para o chileno “Uma Mulher Fantástica”, de Sebastián Lelio, levar o Oscar de melhor filme em língua estrangeira.
Pode até parecer repeteco, mas é importante ver um latino, um mexicano ganhando os dois prêmios principais. Além de melhor filme, por “A Forma da Água”, Guillermo del Toro levou melhor direção, estatueta que os amigos e conterrâneos Alejandro González Iñárritu (2015 e 2016) e Alfonso Cuarón (2014) levaram recentemente. Ou seja: quarta vez que um mexicano leva a estatueta de direção em cinco anos. Ano passado foi o americano Damien Chazelle. Antes de Cuarón, o taiwanês Ang Lee e antes o francês Michel Hazanavicius. Em 2010, um inglês, o mediano Tom Hooper. Ou seja, Chazelle é a exceção em uma categoria globalizada.
Tudo isso aconteceu e marcou. Foi importante. Mas nas quase quatro horas de exibição da principal cerimônia de premiação do cinema mundial, um jet-ski pairou sobre todos. Pode parecer bobo. Logo de cara, Jimmy Kimmel prometeu o veículo para o agraciado com o Oscar que fizesse o menor discurso. Coube a Mark Bridges, figurinista de “Trama Fantasma”, a honra de levar para casa o disputado objeto. Mas aí cabe a pergunta: por que uma cerimônia milionária precisa oferecer um prêmio extra de alguns milhares de dólares?
A resposta é simples e vale para tudo no Oscar. Quem fala ali é o dinheiro. O Oscar, prêmio da indústria cinematográfica, vê tudo em cifras. E hoje, a representatividade rende dinheiro – e se você duvida disso, basta olhar as bilheterias de “Mulher-Maravilha” e “Pantera Negra”. Só que é bem diferente ver Frances McDormand chamar Meryl Streep para a festa de ver Mark Bridges dedicar a estatueta ao marido. E, depois de meses de escrutínio geral por conta das acusações de assédio, dos erros do ano passado, o Oscar tinha de enfrentar o perigo de uma cerimônia enorme, com discursos político fortes e repetitivos. E, como dizem, “tempo é dinheiro”.
O jet-ski era um movimento defensivo. Um ataque preventivo. A maioria dos premiados “pequenos” falava dele, ainda que por brincadeira, mas entenderam a missão dada por Kimmel:”faça discursos rápidos”. O Oscar vende a igualdade entre brancos e negros, entre homens e mulheres, entre homossexuais e heterossexuais, enquanto pede, de forma charmosa, que os menos importantes mantenham-se na sua insignificância.
No final das contas, o Oscar é isso. Indústria. Não é política, não é inclusão. E é por isso que as minorias gritam e devem continuar gritando, cada vez mais. Espaço não é concessão. Espaço naquele palco é um direito conquistado. E um primeiro passo de tantos. Depois deste domingo, muitos roteiristas negros talvez ganhem uma oportunidade – assim como mulheres roteiristas, que viram Greta Gerwig concorrer com “Lady Bird: A Hora de Voar”. Outros latinos, quiçá brasileiros, tentem uma carreira que os leve ao patamar de del Toro. Outras mulheres trans, como Daniela Vega, talvez subam naquele palco. E isso é mérito deles. À Academia, só cabe a difícil tarefa de engolir e fingir que o sabor é doce.
OS VENCEDORES DA NOITE
Melhor ator coadjuvante: Sam Rockwell (Três Anúncios para um Crime)
Melhor cabelo e maquiagem: “O Destino de uma Nação”
Melhor figurino: “Trama Fantasma”
Melhor documentário: “Icarus”
Melhor mixagem de som: “Dunkirk”
Melhor edição de som: “Dunkirk”
Melhor design de produção: “A Forma da Água”
Melhor filme em língua estrangeira: “Uma Mulher Fantástica” (Chile)
Melhor atriz coadjuvante: Allison Janney (Eu, Tonya)
Melhor curta-metragem de animação: “Dear Basketball”
Melhor animação (longa): “Viva: a Vida é uma Festa”
Melhores efeitos visuais: “Blade Runner 2049”
Melhor montagem: “Dunkirk”
Melhor documentário em curta-metragem: “Heaven is a traffic jam on the 405”
Melhor curta-metragem: “The Silent Child”
Melhor roteiro adaptado: “Me Chame pelo seu Nome”
Melhor roteiro original: “Corra!”
Melhor fotografia: Roger A. Deakens – “Blade Runner 2049”
Melhor trilha original: Alexandre Desplat (A Forma da Água)
Melhor música original: “Remember me” (Viva: a Vida É uma Festa)
Melhor diretor: Guillermo del Toro (A Forma da Água)
Melhor ator: Gary Oldman (Destino de uma Nação)
Melhor atriz: Frances McDormand (Três Anúncios para um Crime)
Melhor filme: “A Forma da Água”
Uma tremenda perda de tempo assistir estes já programados OSCAR do ano.
A verdade é que esse discurso politicamente correto tem feito o interesse do público pela festa do Oscar despencar. A cada ano, cedem mais à política, ao mesmo tempo em que a audiência cai. A impressão que dá é que não é mais uma festa de celebração da arte (a sétima arte no caso), e sim de repercussão de ideias políticas de esquerda. Já nem acompanho mais a cobertura do Oscar, porque me causa tédio a cobertura da mídia. Não ligo para a cor da pele das pessoas, nem para o que elas têm entre as pernas, nem para o que fazem ou deixam de fazer na cama. Só me interessa a qualidade das atuações, dos roteiros, das direções de arte, das trilhas sonoras, etc. Somente. Alfonso Cuarón e Gulermo del Toro, por exemplo, são dois grandes cineastas, pouco ou nada importando sua nacionalidade mexicana. Aliás, não entendo por que seria “injusto” que La La Land tenha ganhado o Oscar. Quer dizer que agora só filmes sobre negros e gays podem fazê-lo!? Em outras palavras, ainda que um filme não seja bom, deve ser privilegiado na premiação só porque fala de minorias? Sinto muito, mas isso não é defender a arte. É exatamente o oposto. É prostituir a arte, submetendo-a ao programa político de determinado partido – sim, porque essas ideias não encontram eco em boa parte da população (cerca de metade dela), a parcela conservadora, que tem representatividade próxima de zero nesse meio, como se nem existisse. Imagine só um ator ganhando o Oscar e fazendo um discurso pró-vida, contra o aborto, por exemplo. Seria enxotado dali e teria sua carreira acabada, certamente. Essa “diversidade” que a mídia e o beautiful people propagam é totalmente falsa, só vale para eles próprios, e limita-se a gravitar em torno de coisas como cor da pele e comportamento sexual – que, no final das contas, são sempre secundárias, já que não definem nenhum ser humano por si sós.
Opa, Vitor, duas considerações.
Primeiro, quando falo da justiça do prêmio de “Moonlight”, não defendo porque é um filme negro, LGBT e sobre gente pobre. Defendo porque acho (muito) melhor do que La La Land.
Sobre “representatividade da minoria conservadora”, aponto a arte, historicamente, como terreno de resistência. Ele ter virado coisa “de esquerda” é mais erro da “direita” do que qualquer outra coisa. Apesar de isso ser beeeeeeem relativo – ainda mais em se tratando da indústria de Hollywood, totalmente dominada por homens brancos etc (você conhece a ladainha). Ali tá bem longe de ser esquerda e, como disse no texto, isso tá em evidência porque as minorias resolveram gritar.
Em 90 anos de Oscar, tivemos cinco mulheres indicadas a melhor direção. Por que mulher é incompetente? Não. Porque só cerca de 10% dos filmes são dirigidos por mulheres. E ainda assim são julgados por homens.
Sobre discurso conservador, eu preferia que ele ficasse no passado, mas tá longe de ficar. Ele tem palco em muitos espaços – em especial na política, onde minorias têm quase nenhum destaque. E sobre representatividade digo o mesmo. Até março do ano passado, era impensável fazer um filme de super-herói protagonizado por mulher ou negro. Por quê? A gente teve de provar que era lucrativo.
O discurso, os filmes com ideias conservadoras existem. E espero que sejam feitos grandes filmes nessa linha. É democrático. Existem dezenas, centenas de diretores conservadores. A maioria é muito ruim, mas um ou outro se salva. A dificuldade da direita é que ela tem pouca tolerância à crítica. E adora chamar a esquerda de vitimista. Fazer uma obra artística é dar a cara à tapa. É se propor ao erro.
Se falta um espaço, a direita conservadora pode fazer como a esquerda artística. Cobrar, reclamar, fazer textão, fazer filme ruim e sem dinheiro, fazer filme bom e sem dinheiro, conseguir lucro, se provar viável e conquistar um espaço. É do jogo não ter espaço. Por que “Moonlight” tinha um orçamento pífio (para o padrão de Hollywood) e ainda foi feito.
Acho que tem espaço para todo mundo.
Ah, e sobre ter a carreira acabada por discursos conservadores, confesso que nunca vi. Vi gente ter carreira acabada por assediar mulheres, por estuprar mulheres, por ser racista, por ser antissemita… Isso é ser conservador? Espero que não.
Primeiro, quando falo da justiça do prêmio de “Moonlight”, não defendo porque é um filme negro, LGBT e sobre gente pobre. Defendo porque acho (muito) melhor do que La La Land.
Comentário: no contexto em que você escreveu, qualquer bom intérprete entenderia que há uma forte correlação entre a alegada injustiça do prêmio ter ido a La La Land (um filme com protagonistas brancos e héteros) em vez de a Moonlight (protagonista negro, gay, pobre e vitimizado). Se não foi essa a intenção, ficou parecendo.
Ademais, todos sabem que o melhor filme (em termos absolutos) vencer é exceção em Hollywood. O vencedor é escolhido sobretudo com base no “sentimento predominante vigente” em determinado momento histórico. No ano em que La La Land venceu, predominava um sentimento nostálgico entre os jurados da academia. Pelo fato de o filme resgatar bem a Hollywood dos anos 1950 e ser tecnicamente impecável, levou com facilidade.
Sobre “representatividade da minoria conservadora”, aponto a arte, historicamente, como terreno de resistência. Ele ter virado coisa “de esquerda” é mais erro da “direita” do que qualquer outra coisa. Apesar de isso ser beeeeeeem relativo – ainda mais em se tratando da indústria de Hollywood, totalmente dominada por homens brancos etc (você conhece a ladainha). Ali tá bem longe de ser esquerda e, como disse no texto, isso tá em evidência porque as minorias resolveram gritar.
Comentário: A arte nunca foi “terreno de resistência” até meados do século XIX, com a eclosão do espírito revolucionário, que, uma vez enraizado na sociedade, rompeu com a noção de tempo, espaço e sentido da existência vigorante em toda a história humana conhecida. Não à toa, a arte foi se barateando e superficializando, até chegarmos a este início do século XXI, onde um grupo de pessoas inserindo os dedos nos orifícios das outras é considerado…arte! A verdadeira arte, no entanto, nada tem a ver com “resistência”: simplesmente busca satisfazer a busca constante do espírito humano por beleza. A beleza é tão fundamental para nossa existência plena quanto nossa liberdade e dignidade. Mas, na arte contemporânea, essa noção anda muito em baixa, infelizmente.
Sobre discurso conservador, eu preferia que ele ficasse no passado, mas tá longe de ficar. Ele tem palco em muitos espaços – em especial na política, onde minorias têm quase nenhum destaque. E sobre representatividade digo o mesmo. Até março do ano passado, era impensável fazer um filme de super-herói protagonizado por mulher ou negro. Por quê? A gente teve de provar que era lucrativo.
Meu caro, se sua vontade for feita e o discurso conservador for completamente eliminado, a civilização não existirá mais. Isso porque um mínimo de conservadorismo é vital para a permanência de qualquer sociedade humana. Toda sociedade, aliás, é naturalmente conservadora, na medida em que determinados valores enraizados que a fundamentam vão se transmitindo de pais para filhos ao longo de gerações.
Por outro lado, se todos os valores passarem a ser relativos e mudarem assim, do dia para a noite, a pura e simples coesão social restará inviabilizada. Não haverá mais o que transmitir às próximas gerações – se é que elas existirão, já que no mundo ocidental moderno as pessoas cada vez menos querem ter filhos, e as populações de vários países estão encolhendo e envelhecendo rapidamente.
Por fim, quanto a super-heróis negros e mulheres, o sucesso de filmes recentes me parece sobretudo uma questão de qualidade. Mulher Maravilha é MUITO melhor que Mulher-Gato, Elektra ou qualquer outro filme de super-heroínas já feito. Com Pantera Negra, ocorre o mesmo, com a ressalva de que não é o primeiro filme bem-sucedido de super-herói negro. Will Smith, por exemplo, já protagonizou vários filmes bem sucedidos, como Hancock, Eu Sou a Lenda, MIB e Independence Day.
Primeiro, quando falo da justiça do prêmio de “Moonlight”, não defendo porque é um filme negro, LGBT e sobre gente pobre. Defendo porque acho (muito) melhor do que La La Land.
Comentário: no contexto em que você escreveu, qualquer bom intérprete entenderia que há uma forte correlação entre a alegada injustiça do prêmio ter ido a La La Land (um filme com protagonistas brancos e héteros) em vez de a Moonlight (protagonista negro, gay, pobre e vitimizado). Se não foi essa a intenção, ficou parecendo.
Ademais, todos sabem que o melhor filme (em termos absolutos) vencer é exceção em Hollywood. O vencedor é escolhido sobretudo com base no “sentimento predominante vigente” em determinado momento histórico. No ano em que La La Land venceu, predominava um sentimento nostálgico entre os jurados da academia. Pelo fato de o filme resgatar bem a Hollywood dos anos 1950 e ser tecnicamente impecável, levou com facilidade.
Sobre “representatividade da minoria conservadora”, aponto a arte, historicamente, como terreno de resistência. Ele ter virado coisa “de esquerda” é mais erro da “direita” do que qualquer outra coisa. Apesar de isso ser beeeeeeem relativo – ainda mais em se tratando da indústria de Hollywood, totalmente dominada por homens brancos etc (você conhece a ladainha). Ali tá bem longe de ser esquerda e, como disse no texto, isso tá em evidência porque as minorias resolveram gritar.
Comentário: A arte nunca foi “terreno de resistência” até meados do século XIX, com a eclosão do espírito revolucionário, que, uma vez enraizado na sociedade, rompeu com a noção de tempo, espaço e sentido da existência vigorante em toda a história humana conhecida. Não à toa, a arte foi se barateando e superficializando, até chegarmos a este início do século XXI, onde um grupo de pessoas inserindo os dedos nos orifícios das outras é considerado…arte! A verdadeira arte, no entanto, nada tem a ver com “resistência”: simplesmente busca satisfazer a busca constante do espírito humano por beleza. A beleza é tão fundamental para nossa existência plena quanto nossa liberdade e dignidade. Mas, na arte contemporânea, essa noção anda muito em baixa, infelizmente.
Em 90 anos de Oscar, tivemos cinco mulheres indicadas a melhor direção. Por que mulher é incompetente? Não. Porque só cerca de 10% dos filmes são dirigidos por mulheres. E ainda assim são julgados por homens.
Com todo o respeito, acho um tanto infantil essas comparações meramente numéricas/percentuais que fazem por aí para dizer que “se só tantos por cento são mulheres, então é porque é machismo”. Esses dados, na verdade, devem-se a uma série de fatores, e a explicação é muito mais complexa, não tendo uma só causa.
Por exemplo: no caso da carreira de diretor de cinema, o problema maior não é os estúdios recusarem mulheres na direção, é sobretudo as mulheres se interessarem por essa carreira. A frequência de mulheres nas cátedras de artes cinematográficas, que formam a maioria dos grandes cineastas, sempre foi bem menor. Além disso, é notório que os homens, pelas diferenças estruturais do cérebro masculino, geralmente têm maior propensão à criatividade e à execução de tarefas de comando e direção.
Por isso que, até mesmo em áreas onde as mulheres são maioria entre os estudantes, como o estilismo e a arquitetura, os homens permanecem sendo destaque. Os maiores estilistas são homens, e não por preconceito de gênero ou sexualidade, até porque quase todos são abertamente gays.
Essa é uma discussão muito complexa, não adianta querer simplificar e dizer que tudo é machismo. Se assim for, vamos também questionar por que a maioria das manicures são mulheres e só 1% são homens, e dizer que é machismo invertido.
Sobre discurso conservador, eu preferia que ele ficasse no passado, mas tá longe de ficar. Ele tem palco em muitos espaços – em especial na política, onde minorias têm quase nenhum destaque. E sobre representatividade digo o mesmo. Até março do ano passado, era impensável fazer um filme de super-herói protagonizado por mulher ou negro. Por quê? A gente teve de provar que era lucrativo.
Meu caro, se sua vontade for feita e o discurso conservador for completamente eliminado, a civilização não existirá mais. Isso porque um mínimo de conservadorismo é vital para a permanência de qualquer sociedade humana. Toda sociedade, aliás, é naturalmente conservadora, na medida em que determinados valores enraizados que a fundamentam vão se transmitindo de pais para filhos ao longo de gerações.
Por outro lado, se todos os valores passarem a ser relativos e mudarem assim, do dia para a noite, a pura e simples coesão social restará inviabilizada. Não haverá mais o que transmitir às próximas gerações – se é que elas existirão, já que no mundo ocidental moderno as pessoas cada vez menos querem ter filhos, e as populações de vários países estão encolhendo e envelhecendo rapidamente.
Por fim, quanto a super-heróis negros e mulheres, o sucesso de filmes recentes me parece sobretudo uma questão de qualidade. Mulher Maravilha é MUITO melhor que Mulher-Gato, Elektra ou qualquer outro filme de super-heroínas já feito. Com Pantera Negra, ocorre o mesmo, com a ressalva de que não é o primeiro filme bem-sucedido de super-herói negro. Will Smith, por exemplo, já protagonizou vários filmes bem sucedidos, como Hancock, Eu Sou a Lenda, MIB e Independence Day.
O discurso, os filmes com ideias conservadoras existem. E espero que sejam feitos grandes filmes nessa linha. É democrático. Existem dezenas, centenas de diretores conservadores. A maioria é muito ruim, mas um ou outro se salva. A dificuldade da direita é que ela tem pouca tolerância à crítica. E adora chamar a esquerda de vitimista. Fazer uma obra artística é dar a cara à tapa. É se propor ao erro.
Se há, estão todos no armário. Vamos fazer campanha para saírem. Hehe.
Se falta um espaço, a direita conservadora pode fazer como a esquerda artística. Cobrar, reclamar, fazer textão, fazer filme ruim e sem dinheiro, fazer filme bom e sem dinheiro, conseguir lucro, se provar viável e conquistar um espaço. É do jogo não ter espaço. Por que “Moonlight” tinha um orçamento pífio (para o padrão de Hollywood) e ainda foi feito.
À diferença da esquerda, as ideias da direita não têm muito, digamos, “apelo hype”.
Acho que tem espaço para todo mundo.
Se alguém fizer um discurso pacifista/feminista/ambientalista na festa do Oscar, é aplaudido. Se fizer um a favor das armas/contra o aborto, é vaiado. Aliás, alguém já fez algum como este último?
Ah, e sobre ter a carreira acabada por discursos conservadores, confesso que nunca vi. Vi gente ter carreira acabada por assediar mulheres, por estuprar mulheres, por ser racista, por ser antissemita… Isso é ser conservador? Espero que não.
Longe disso. Quem acabou com a escravidão negra nos EUA, aliás, foi o Partido Republicano. E quem defende a existência e a permanência de um estado para os judeus são os conservadores ocidentais.
A carreira de alguém assim nunca acabou porque nunca começou. Simplesmente não há espaço para essas ideias na grande mídia e no show business, embora aproximadamente metade da população (ou mais, em alguns casos) sejam simpáticas a elas.
Abraços e grato pelas respostas.