Com perdão do atraso, na noite da última sexta feira pude conferir dois shows, de conteúdos deistintos, mas igualmente deliciosos. Começou às 20h30 (meia hora de atraso) no Sesc Iracema com a apresentação única de “Cantadas”, da cantora cearense Fabíola Líper. Ao longo de pouco mais de duas horas, ela dá sua interpretação a 18 canções de 18 cantoras brasileiras entrecortadas por textos escritos por Ricardo Guilherme. O repertório tem do samba ao tango e, embora Fabíola, que também é atriz, diga que neste show esteja querendo voltar à música depois de se dedicar mais ao teatro, o que se observa é que seu canto é por demais teatral.

fabiolaSeja na magoada “Desacostumei de carinho” (Fátima Guedes), na sensual “Shangrilá” (Rita Lee) ou no sambão “Se acaso você chegasse” (Elza Soares), a atriz aparece no papel de cantora e brinca usando caras e bocas. Os textos de Ricardo são de uma inspiração e criatividade incríveis (“Eu te canto como quem toca um sagrado manto; eu te canto como quem canta um mantra”, diz de Zizi Possi), embora causem um efeito negativo por quebrar o ritmo do show, principalmente depois de canções mais agitadas. Nada que não possa ser revisto nas próximas apresentações. Mas, o que imporat é que Fabíola se mostra em estado de graça no palco acompanhada por três ótimos músicos: Sara Kelly, na flauta: Rodrigo Santos, na percussão; e Eduardo Holanda no violão.
Cantora de voz pequena e grave, Fabíola faz bonito principalmente em canções mais densas como “Foi assim” (Fafá de Belém) e “Contrato de separação” (Nana Caymmi). As outras homenegeadas são Clara Nunes, Angela Ro Ro, Dolores Duran, Maria Betânia, Zezé Mota, Elis Regina, Elizeth Cardoso, Ângela Maria, Maysa, Alcione, Gal Costa e Simone. Já quase tirando do forno seu primeiro disco, onde estreia como compositora, Fabiola deve logo repetir suas “Cantadas” e fica a dica pra quem quiser conferir.

Após o Sesc, segui ao The Pub onde o quarteto The Fly preparava seu show relembrando o apoteótico Zoo TV do U2. Formado por Ítalo Arruda (voz), Marcus Viggo (Guitarra), Augusto Costa (baixo) e Sérgio Costeleta (bateria), a banda que há três anos se dedica a um cover fiel do grupo de Dublin, fez questão de preparar figurino e remontar personagens que ficaram famosos na turne original como o Mefisto e o The Fly. No repertório, “Sunday bloody sunday”, “Misterious ways” e “With or without you”.
Bono_fly_2O mais interessante que eu vejo em banda cover é justamente a brincadeira de ser seu ídolo por um momento. Ali não cabe recriações, reinvenções, novos arranjos. É lance de fã mesmo. Repetir e deixar claro que é cover. No caso do show de sexta, eles ainda colocaram as tvs, telões e carros pendurados, tal qual o palco original. Quem consegue assistir o show sem as tradicionais críticas de que cover é ganhar dinheiro com o sucesso dos outros, vai se divertir a valer.
Importante: os quatro tocam muito bem, embora o som não estivesse legal, principalmente para o vocalista, era clara a satisfação no palco e no público. A festa foi organizada em parceria com o fã-clube U2/Fortaleza que doou sua parte nos ingressos para a Casa do Menino Jesus, no melhor clima U2.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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