nego“Nos Estados Unidos do início do século XX, os imigrantes judeus já possuíam uma tradição musical trazida de seus países de origem. Na nova terra, muitos deles, músicos, incorporaram elementos da música dos negros norte-americanos, para construírem obras que contribuíram para elevar a canção popular a um nível poucas vezes atingidos na história dessa arte. Essa empatia não se deu apenas no âmbito musical, já que negros e judeus nutriam uma identificação mútua por sofrerem, ambos, discriminação.”

Assim começa a apresentação do disco Nego reunindo clássicos da canção americana compostos por judeus, em versões escritas por Carlos Rennó e arranjadas por Jacques Morelembaum. O disco, lançado pela Biscoito Fino, é uma continuidade do “Canções e Versões”, lançado pelo Selo Geléia Geral, em 1999, com canções de George e Ira Gershwin e Cole Porter nas vozes de Sandra de Sá, Rita Lee e outros.

Aqui o ritmo que manda é a Bossa Nova. Até o que não é Bossa Nova, parece Bossa Nova. Em versões coll jazz, sucessos de Billie Holiday e Ella Fitzgerald, entre outras, ganham novas interpretações, umas boas, outras nem tanto, e letras ora inspiradas, ora curiosas de Carlos Rennó. Maria Rita, por exemplo, canta em sua versão de Bewitched, Bothered and Bewildered “Após nove ou dez conhaques, Acordei qual uma flor. Sem engov nem ataques, nem senti tremor“.

Siga o Faixa-a-faixa:
1) Meu Romance Gal Costa anda meio sem vontade de ser cantora. Aqui ela faz uma versão pouco inspirada para um sucesso de Barbra Streisand.
2) Inquieta, tonta e encantada Maria Rita da show em um letra inspirada de Rennó. A voz está quente e sensual. Se parece com a mãe?! Claro!!
3) Tão fundo é o mar – Não, não é o Caetano e, sim, seu filho Moreno Veloso numa bossinha simples e delicada.
4) Verão – Esqueça a versão trovejante de Janis Joplin para Summertime e coloque Erasmo Carlos, quase prestando tributo a este clássico. Uma das melhores do disco.
5) Estava escrito nas estrelasEmílio Santiago é uma das melhores vozes masculinas do Brasil e aqui ele mostra isso.
6) NegoPaula Morelembaum aposta no que sabe e faz uma bossinha “bunitinha”.
7) Sábio rioJoão Bosco faz um cruzamento entre  o folk e Dorival Caymmi, mas não funciona. Parece ser maior do que precisa.
8) Fruta estranhaSeu Jorge se apega ao título da música e desconstrói uma canção de Billie Holiday. Experimental demais.
9) Tenho um xodó por tiElba Ramalho e Dominguinhos embarcam num clima parisiense e fazem a mais bela canção do disco. O piano é de João Donato. Precisa mais?
10) Queria estar amando alguém – Dueto de Ná Ozzetti com Wilson Simoninha esbanjando ritmo e cumplicidade.
11) O homem que partiuLuciana Souza dá um show de afinação neste versão de The man that got away. Ainda pouco conhecida do público, ela é responsável por um dos destaques de Nego.
12) Mais além do arco-írisZélia Duncan relembra o clássico de Judy Garland como quem faz uma canção de ninar.
13) Natal lindo – onipresente em todo final de ano, a White christmas ganha versão na voz de Olivia Hime.
14) Meu romanceGal Costa volta à canção, dessa vez em dueto com Carlinhos Brown. O baiano canta bonito, mas não acrescenta muita coisa.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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