raul1A gravadora Universal acaba de colocar no mercado a caixa 10.000 anos à frente, com seis discos da melhor safra do baiano Raul Seixas. Mesmo sem trazer nada inédito, livro com informações, ou qualquer mimo que venha a atrair fãs antigos (uma vez que todos os discos ainda podem ser encontrados separadamente), os novos admiradores poderão conhecer a partir deste box o que houve de melhor e mais bem explicado do que foi a obra do roqueiro.

Abaixo, segue cada um deles comentados pelo fã, admirador e seguidor do trabalho de Raul, João Batista Júnior.

  • KRIG-HÁ BANDOLO

Em 1973 a MPB fervia com o lançamento de alguns dos álbuns mais significativos daquela década.  Entre eles, pode-se destacar, Secos e Molhados, Luiz Melodia ( Pérola Negra ), Sérgio Sampaio ( Eu quero é botar meu bloco na rua ) e Krig-ha,bandolo de Raul Seixas. Que já na primeira faixa se ouve aos berros “Good Rockin’ Tonight” na voz do próprio Raul Seixas aos 9 anos de idade, passando em seguida para “Mosca na Sopa“, uma macumba metafórica em que ele missigena o ritmo dos atabaques ao rock’n’roll e se auto determina “Atenção,eu sou a mosca, a grande mosca que perturba o seu sono“. As parcerias com Paulo Coelho renderam ao álbum uma variedade de temas e ritmos em que eles se permitiram ir do hard rock ao baião com criatividade, contundência, conteúdo, poesia e sentimento. Metamorfose Ambulante, finca as bases ao Raulseixismo (culto ao maluco beleza que se perpetua até hoje) e o disco termina com a emblemática Ouro de Tolo com seus versos de insatisfação, questionamento, medo e genialidade. Enfim, um álbum que deve ser ouvido, lido e admirado como uma obra prima de um grandioso e raro artista.

  • GITA
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=U0IXq1x1wcU[/youtube] Inspirado na bíblia hindo ( Krishna chamada Mahabarata, Bhagavad-Gita, escrito 6.000 a.C), Raul Seixas lança em 1974 o álbum Gita, novamente em parceiria com Paulo Coelho. Os dois estavam imersos nas artes do ocultismo, que eles expressam em Sociedade Alternativa, uma música com a pegada místico-transgressora de Raul, em que ele brincava com a filosofia e contestava a sociedade da época, oferecendo e apresentando a uma nova possibilidade de se viver (“faze o que tu queres, pois é tudo da lei!”), defendendo as idéias do inglês Aleister Crowley. Na faixa-título do disco, Raul Seixas diz “Eu sou o tudo e o nada” sem realmente se explicar e mais por insitar. Músicas como Super-Heróis, As aventuras de Raul Seixas na cidade de ThorS.O.SMedo da Chuva, O trem das 7, mostram a verve criativa de Raul Seixas em abordar os mais variados temas em sua música de maneira satírica e criativa. Na capa ele se apresenta como uma espécie de guerrilheiro visionário. Usando uma boina vermelha, uma guitarra vermelha e um enigmático brilho nos óculos escuros. Em plena ditadura militar, Raul seguia e surgia provocando e alicerçando o rock tupiniquim.
  • NOVO AEON

Em 1975, Raul Seixas em parceria com Paulo Coelho anunciam a chegada do Novo Aeon, a chegada de um novo tempo. Seria a evolução e a afirmação da anteriormente proposta Sociedade Alternativa, na qual o homem teria o direito de fazer tudo o que ele queria. A faixa-título nos diz: “Direito de ser ateu ou de ter fé…Direito de ter riso e ter prazer. E até direito de deixar Jesus sofrer“. No mesmo disco vem Rock do Diabo (“O Diabo é o pai do rock! ” ), são seguidas pela música Tente outra vez que fala de persistência e fé em Deus. Outra baladas como A Maçã, grandiosamente orquestrada e com uma letra poética condenando a monogamia, Para Nóia é uma musica sobre os vícios (álcool e cocaína) confrontando e constatando a oniciência e onipresença de Deus, que vê tudo que se faz. Já as faixas Tu és o MDC da minha vidaÉ fim de mês carregam consigo o bom humor e a sátira crítica do olhar de Raul Seixas. Esse é sem duvida um de seus mais expressivos trabalhos. Ouçam! Leiam! Cantem! Assimilem e admirem o Novo Aeon.

  • HÁ DEZ MIL ANOS ATRÁS
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No ano de 1976, aos 31 anos, Raul Seixas surge como um velho profeta. Em Eu nasci há 10 mil anos atrás Raul Seixas diz ter passado por toda a história da humanidade, e que não havia mais nada de novo, pois ele já havia visto tudo. Ele era o início, o meio eo fim. O disco todo é repleto de poesias melancólicas, Raul se mostra depressivo na maioria das musicas. Em Canção para minha morte, Meu amigo Pedro, O homemCantiga de ninar, ele fala sobre confrontos, fracassos, mesmices e sobre o mistérioso fascínio que a morte lhe causava. Ave Maria da rua e em Os números, o disco inrompe em beleza e alegria. Ainda temos a faixa  Eu também vou reclamar em que Raul lança toda sua sagacidade para falar do seu álcoolismo, dos novos musicos da MPB a de toda a sociedade daquele período. Na minha modesta opinião, apesar do peso trágico é a sua obra mais contundente.

  • ROCK SEIXAS

Em 1977, Raul lança esse disco com os clássicos do rock. Inspirado no disco Rock’n’Roll de 1975 gravado por Jonh Lennon. Raul inclusive regrava algumas faixas do disco de Lennon. Era um desejo antigo dele apresentar para o grande público um pouco de suas referências musicais, apresentar aos seus fãs as origens do Rock Raul Seixas. O mundo da música nesse ano mergulhava na onda punk e Raul levantou a bandeira do seu “Rockão Antigo”. O disco tem gravação que remete ao rock de garaguem. As faixas são assinadas por astros como: Neil Sekada, Chuck Berry, Paul Anka, Gene Vincent e Little Richard, alé da compilação entre Asa Branca de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira dentro da música Blue Moon of Kentucky“. Esse disco é basicamente a prova material do que Raul dizia na musica Rock’n’Roll de autoria dele e de Marcelo Nova: Pois a muito percebi que Genival Lacerda tem a ver com Elvis e com Jerry Lee. Só mesmo um astro da grandeza de Raul Seixas para ter essa sensibilidade e capacidade sonora.

  • LET ME SING MY ROCK’N ROLL

Vou começar dizendo que é sem dúvida um disco heróico! Uma produção independente alavancada por Sylvio Passos (presidente do fãn-clube Raul Rock Club). Em 1985 aconteceria um Rock’in’Rio e sem Raul Seixas (um absurdo histórico!). O disco tem ares de documentário, começando com um depoimento de Raul em 1979 entrando em seguida por uma viagem pelo túnel do Rock. A música Let Me Sing, Let Me Sing de 1972 vem seguida por Teddy Boy, rock e brilhantinaEterno carnaval. As parcerias com Paulo Coelho também fazem parte do set list, Caroço de manga, Loteria da Babilônia (ao vivo), Não pare na pista (versão furiosa!) e  Como vovó já dizia. Além das compiladas, Rua Augusta e O bomBlue Moon of Kentuck e Asa Branca. Vale ressaltar que nessa época Raul estava voltando de um exílio em salvador e passava por problemas com o álcoolismo. Trata-se de um disco que trás o bom e velho Raulzito em suas bases rockeiras.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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