l_6d1768a491e74978be1a55d1f97ff57dSempre tive uma discordância muito grande com pessoas que adoram dizer que hoje em dia não se faz mais nada que preste na música. Isso é uma inverdade, inclusive, bem preconceituosa. Esse papo de que é tudo igual e que a última novidade na música foi o Chico Science também já anda bem manjado. Ideias não surgem do nada e a simplicidade também é bem-vinda quando é bem feita. Se vier temperado com alguma ousadia, mehor ainda.

Esse é o caso da dupla Letuce, que tive o prazer de conhecer já no disco de estreia. Formada pelo casal Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos, eles fazem um som moderninho, gostoso e cheio de frescor. Com o nome Plano de fuga pra cima dos outros e de mim, o disco começa com a bossinha De mão dada que, pela repetição constante dos poucos versos, como “se for pra viajar que seja voando, se for pra voar que seja a pé”, ela traz uma ingênuidade que parece uma canção infantil. Mas nenhuma canção infantil traria como lição “sorte dos cavalos que deitam pra comer na sombra”.

Quase na mesma pisada da primeira, começa Sérieuse affaire, uma versão francesa para Caso sério, de Rita Lee, que acaba descambando para um rock, como manda a dona da canção. Esta, por sinal, junto com Acontecimentos, de Marina e Antônio Cícero, são as duas únicas canções que não se autoria da dupla.

Vajando entre canções doces, algumas vezes até minimalistas, o disco basicamente trata de amor, mas sem uma visão muito romântica da coisa. Numa aula de matemática na canção Potência, por exemplo eles dizem “a gente não tem química. Tem biologia, tem geografia. Agente tem história e religião”. Isso é resultado do encontro de uma atriz, ex-estudante de letras, com um dos fundadores do coletivo Binário, projeto audiovisual que desde 2002 atua na cena carioca com intervenções musicais em espaços públicos, pesquisa em vídeo-grafismo e com trabalhos lançados no mercado europeu e japonês. Tem direito até a uma homenagem a Roberta Miranda, Fagner e “encosta tua cabecinha no meu ombro e chora” .

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Passeios por vários ritmos, istrumentos, línguas, o disco de estreia do Letuce é digno de ser ouvido por quem tem os ouvidos bem abertos para boas novidades. Isso não é exagero. Essa mistura é tão bem feita que até onde causa estranhamento, como na própria Sérieuse affaire, o resultado não é pura invencionice. Embora sejam eles próprios que digam, em Seresta quentinha, a balada parisiense que encerra o album, que são um pouquinho birutas.

www.myspace.com/letuceletuce

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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