Um erro de comunicação acabou por gerar o desencontro. 15h, 17h, 19h, 19h30. Foram várias ligações durante o dia até que fosse possível encontrar um espaço dentro da concorrida agenda de Isabella Taviani. Por fim, a conversa aconteceu à noite, com a cantora ainda ocupada. De sua casa, ela atendeu a ligação do O POVO enquanto preparava o local para receber os amigos que iriam no dia seguinte assistir o jogo da seleção brasileira contra o time de Portugal.

Muito simpática, ela falou sobre sua ansiedade pelo show que traz a Fortaleza hoje e amanhã. Apresentando o repertório do disco Meu Coração Não Quer Viver Batendo Devagar, lançado pela Universal em setembro do ano passado, ela quebra um intervalo de quatro anos sem fazer shows por aqui. “Confesso que estou um pouco aflita. Depois de tanto tempo que você não vai no lugar, fica parecendo que você não cuidou do público. Parece que você não regou a sementinha”.

Apesar do longo hiato, ela conta que guardou boas lembranças do show que fez há quatro anos. “Foi no BNB. Lembro que começou sendo um show pra 400 pessoas e depois virou um show pra bem mais pessoas. Vi que teria que voltar em breve”. Ela ainda acrescenta que a demora para fechar um show em Fortaleza foi um dos motivos para rompimento com o seu antigo escritório. “Não podia acreditar que não conseguia apresentar meu show em Fortaleza”.

Problema resolvido, Isabella vem acompanhada dos violonistas Marco Vasconcellos e Vinícius Rosa e promete uma viagem pelo repertório dos seus quatro discos, mas focando mais no seu novo trabalho. “Vou apresentar um show que só fiz uma vez no Teatro Tom Jobim, no Rio de Janeiro. Pra mim, vai ser uma coisa meio nova”. Nesse formato acústico, onde ela também assume um dos violões, a cantora garante sucessos como Luxúria, Ternura, Borboletas e risos, Arranjo e Presente-passado e ainda deixa escapar seu descontentamento por não vir com o show completo. “Ainda não consegui voltar a Fortaleza com banda. Ainda não chegou essa oportunidade. Quero vir aqui com o cenário todo”.

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Carioca, filha de uma família bastante musical – seu avô era barítono e a mãe pianista – Isabella começou a se interessar por música bem cedo e, aos 16 anos, já cantava ópera. Apesar do convívio com a música erudita, dos recitais e das apresentações ao lado de orquestras, ela mantinha sempre seus olhares para a MPB. No início dos anos 1990, quando dividia seu tempo entre os palcos de barzinhos e o emprego no Detran do Rio de Janeiro, começou a produzir algumas demos. “Eu fazia uma mistura do erudito com o popular. Parecia uma coisa meio Nina Hagen. Era muito chato”. Já com algum material autoral pronto, suas canções chegaram às mãos do produtor Aluízio Reis que gostou do seu trabalho e a contratou para o cast da sua recém inaugurada Green Songs.

Desde o início da carreira, um assunto que sempre perseguiu Isabella Taviani foi a comparação com outras cantoras da sua geração, principalmente com a mineira Ana Carolina. “Comparações já aconteceram muitas. Eu tive uma boa referência que é Ana, o que é positivo, mas é cruel. Os críticos precisam de uma referência, mas é um equívoco. Sou mais velha de idade e comecei a cantar bem antes dela. Ela teve mais sorte que eu e, quando entrei, tive muita porta fechada por conta destas comparações”. Outra crítica que ela sempre ouve é em relação ao estilo “over” de cantar. “Meus ídolos todos são exagerados. Bethânia, Ney, Elis. Quando você interpreta verdadeiramente, as canções são intensas e eu interpreto canções, não cuspo canções”. E faz uma ressalva. “Agora estou num momento de vida mais tranquilo e a composição também caminhou pra esse lado também” Com o disco novo mais leve, ela diz que as críticas estão melhores. “Ele deve tirar a imagem da cantora over, mas no palco continuo assim”.

 

Dentro deste novo momento, Isabella Taviani já adianta seus novos projetos, onde inclui um trabalho especial feito para uma universidade envolvendo o repertório de Noel Rosa e gravação do sucessor de Meu Coração Não Quer Viver Batendo Devagar. Ainda sem querer adiantar detalhes sobre o novo disco, ela só diz que anda fazendo parceiras com Zélia Duncan, Dudu Falcão e Jorge Vercillo. “É a minha primeira vez fazendo parceiras. Tenho essa dificuldade, mas está sendo uma experiência maravilhosa”. Por enquanto, ela prefere se concentrar no show que vem fazer em Fortaleza. “Quero ver como está esse público. Espero que esteja com saudade”.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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