Em 1970, O Brasil vivia uma época de efervescência sem tamanho. O terror da ditadura ainda rondava e em seus períodos mais terríveis. Por outro lado, era época dos festivais de música, que excediam o ambiente musical e esbanjavam engajamento e ousadia. Era época de Toni Tornado e sua BR-3, de Ivan Lins e O amor é o meu país de Taiguara e Universo do teu corpo. Nesse ano, um certo Wilson Simonal de Castro vivia sua beatlemania particular. Intérprete e entertainer como nunca se viu neste país, ele era capaz de reger corais de mais de 50 mil vozes, todas formadas pelas plateias que lotavam estádios em busca de vê-lo cantar Meu limão, meu limoeiro. Seu sucesso era tanto, que ele foi convidado pela seleção canarinho para ir ao México animar os jogadores na concentração para a Copa do Mundo. Ou seja, comparável a Pelé e Jairzinho, só Simonal. Convite aceito, ele aproveitou a viagem e lançou por lá o disco México’ 70, inédito no Brasil até agora, quando foi relançado pela EMI. Para quem acha que este é mais um caça-níquel em busca de exumar sucesso de artista morto, se engana e muito. O velho Simona vivia um período de muita segurança artística e, em cada disco que lançava, vinha a certeza de um gol de placa. Com os arranjos (sempre) criativos de César Camargo Mariano, o disco exibe o filé de um cantor em dia com a soul music, sem perder a velha malandragem habitual. César também toca seu piano no disco junto com as outras duas pontas do Som Três, Sabá (contrabaixo) e Toninho Pinheiro (bateria), que há tempos acompanhava Simonal. Para abrir os trabalhos, Aqui é o país do futebol, de Milton e Fernando Brant, chega suingando em clima de festa. Intérprete magistral da obra de Jorge Ben (ainda sem o Jor), Simonal mantém a batida original em Crioula e Que pena pra provar que ali não precisa mudar nada. Repertório aberto para todas as línguas, Simonal faz ótimas versões de Raindrops Keep Falling´ On My Head e I´ll Never Fall In Love Again. Há ainda uma curiosa versão em “espanhol” para Aquarius, do musical Hair, e a italiana Ecco Il Tipo Che Io Cercavo. No campo da pilantragem, em As menininhas do Leblon Simonal dribla o ritmo e a letra de uma canção dedicada ao charme e a beleza da mulher brasileira. Outro gol de placa é a ingênua Kiki, que conta a volta por cima da neta do Marquês de Idolaiêr. No campo da tradição, Simonal dá show ainda em Eu sonhei que tu estavas tão linda e numa versão “Soul&dance” para Ave Maria do Morro. Ou seja, para animar a festa ou exibir elegância, Wilson Simonal de Castro continua sendo único e insubstituível.

> Set list:
1. Aqui É o País do Futebol (Milton Nascimento/ Fernando Brant)

2. Raindrops Keep Falling´ On My Head (Hal David/ Burt Bacharach)

3. Kiki (Wilson Simonal/ Nonato Buzar)

4. Ave Maria no Morro (Herivelto Martins)
 
5. I´ll Never Fall In Love Again (Hal David/ Burt Bacharach)

6. Crioula (Jorge Ben)

7. Que Pena (ela Já Não Gosta Mais de Mim) (Jorge Ben)

8. Aquarius / Let the Sunshine In (Ragni/ Gerome/ Macdermot/ Galt/ Rado/ James)
 
9. Garota de Ipanema (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes)

10. Ecco Il Tipo Che Io Cercavo (Nino Tristano / Simoni / Pontiack)
 
11. As Menininhas do Leblon (Silvio Cesar)

12. Eu Sonhei que Tu Estavas Tão Linda (Lamartine babo/ Francisco Matoso)

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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