Quem ouve o trabalho atual de Joyce, que tanto agrada estrangeiros e é tão pouco ouvido no Brasil, não imagina como era diferente o som que ela fazia em início de carreira. Hoje ela adota um som mais jazzy, voltado para uma carreira internacional que ela leva com muitos bons frutos. No início, a coisa era mais brasileira, delicada e menos virtuosa. É como se saísse de uma forma mais natural. A prova está no disco Feminina, que volta às lojas 30 anos depois do seu lançamento em 1980. Este quinto trabalho de Joyce vem após dois discos com repertório dividido entre intérprete e compositora, uma parceria com Nelson Ângelo e um disco todo de intérprete. O que parece em Feminina é que ela estava com sede de mostrar quem era ela. E o fez muito bem. A abertura, com Feminina, mostra os questionamentos da filha pra mãe querendo saber o que é ser feminina. Não é nenhum hino feminista, mas também não era essa a intenção. Tal como dito, a palavra aqui é delicadeza. Não por acaso, esta foi um dos dos sucessos do disco que ainda traz Da cor brasileira, gravada por Maria Bethânia no disco Mel (1979), Essa mulher, que batizou o disco de Elis Regina (1979), e Mistérios, lindamente cantada por Milton Nascimento no segundo Clube da Esquina (1978). Ou seja, Joyce pegou o que tinha de melhor e lançou em Feminina com interpretações bem pessoais que mantém o nível dos nomes que a lançaram. Classificada para o Festival MPB 80, Clareana é uma declaração de amor da mãezona Joyce para as filhas Clara (Moreno, também cantora) e Ana. Elas inclusive participam com um vocalzinho bonitinho. Clareana ainda faz ponte com Coração de criança que, apesar do nome, parce mais ser feita para o maridão Tutty Moreno do que para as filhas. Também é de feminina a instrumental Aldeia de Ogum, música descoberta pelos DJs japoneses e que virou hit das pistas orientais. Outro destaque de Feminina é Revendo Amigos, canção melancólica que remete àqueles que estavam voltando dos seus exílios após a ditadura. Encerrando, Compor fala sobre o ofício a que Joyce estava retornando após uma longa parada por conta da maternidade. Para quem já conhece Joyce, Feminina é um artigo obrigatório. Para quem não conhece, aqui é um bom começo.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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