Chegou um momento em que artista falar sobre seus excessos nas drogas virou clichê. Principalmente quando o assunto são os roqueiros. Mesmo nos tempos atuais, onde o discurso de bom moço tomou conta da classe, não são poucos os astros da música que metem o pé na jaca, usam e abusam do que bem aparecer, e depois aparecem na televisão falando para “os jovens” que “esse negócio de drogas não tom com nada” e que tem que “ter atitude”. Mas, houve um tempo onde s coisas não eram bem assim. Alguns rockers de primeira linha decidiram fazer dentro do próprio corpo um laboratório de química melhor do que o da NASA e descobrir o que dava misturar, ervas, pós, comprimidos, bebidas, remédios e alguns injetáveis. Em contrapartida, eles transpunham para o papel e para seus instrumentos tudo aquilo que viram e sentiram enquanto estavam “viajando”. Elvis Presley, Jimi Hendrix, Jerry Garcia, John Lennon, Janis Joplin e Jim Morrison são alguns (poucos) deles. Habitantes da era de ouro do rock, os anos 1960/70, todos morreram e ou sofreram consequências dos abusos das drogas e protagonizaram histórias que viraram lendas agora vem reunidas no recém lançado O livro dos Mortos do Rock (Ed. Aleph). O autor David Confort, fez um retrato contundente e pouco glamouroso sobre bad trips, overdoses, tentativas de homicídios, suicídios e outras coisas mais. Pra coroar o time de celebridades, ele inclui Kurt Cobain, guitarrista e vocalista da banda grunge Nirvana. Apesar de afastado temporalmente em relação aos outros seis, Cobain talvez seja o último rockstar a trazer uma nova proposta, criar uma nova cena, e não suportar a própria barra. O livro traz uma breve biografia de cada personagem, priorizando detalhes íntimos que explicam as ações futuras, e os interlúdios: capítulos que explicam o que significavam temas como orfandade, loucura, morte, amor, para cada um deles. O grande barato (ops!) do Livro dos mortos… é que David não adota um tom moralista, paternal, careta para falar de seus biografados. Pelo contrário, ele não ameniza nas cores trágicas e escatológicas, mas também enaltece a obra imortal de cada um deles. Isso tudo numa escrita envolvente e despretensiosa, que prende o leitor pela ironia e pela riqueza de detalhes. Por falar em escatologia, esse é um tema que permeia todas as histórias do livro. Por exemplo, o Rei Elvis Presley tinha sérios problemas de prisão de ventre por conta das doses cavalares de medicamento que ingeria diariamente. Em compensação, costumava usar um poderoso laxante para rebater. Resultado: não raro se sujava todo enquanto dormia. Kurt Cobain, em relação à higiene, não rendeu histórias melhores. “Ele raramente tomava banho ou escovava os dentes, e evitava comer maçãs porque faziam sua gengiva sangrar muito”, conta David. Ele também conta histórias que ficaram mal contadas. Pela história oficial, Morrison e Hendrix foram vítimas fatais de uma overdose. No entanto, alguns detalhes que constam nos depoimentos de suas amantes deixam dúvidas a respeito de como o sinistro aconteceu de fato. Da mesma forma com Cobain e sua Curtney Love. Alguém sabia que ela estava prestes a sair do testamento do cantor? Mas o que de fato não falta em O livro dos Mortos… é um festival de exageros, egocentrismos, tentativas de suicídio e composições que definiram um conceito de rock psicodélico.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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