Com 30 anos de vida e com pouco mais de cinco de carreira, a cantora potiguar Roberta Sá (fotos de Murilo Meirelles) já tem muito o que comemorar. São três discos solo em estúdio, sendo um deles um projeto exclusivo para empresas. Sua estreia de fato, com o elogiado Braseiro, veio após uma breve passagem pelo programa Fama, da Rede Globo. Em 2009, lançou o Cd e DVd ao vivo Pra se ter alegria e baixou no palco do Ceará Music botando o público jovem para cantar um repertório fino de sambas e bossas. Com simpatia e um sorriso constante de satisfação, ela extrapolou os limites da democracia no palco que ainda teve CPM 22, Cine, Cláudia Leite e Lulu Santos. Por fim, este ano, voltou às lojas com Quando o canto é reza, ao lado do Trio Madeira Brasil. Reunindo 13 canções do baiano Roque Ferreira, ela levou o compositor das rodas e terreiros para o palco de um teatro. O compositor achou estranho, mas se rendeu ao tratamento elegante dado pelo quarteto. Em entrevista para o Blog Discografia, Roberta Sá relembra discos e momentos de sua trajetória e solta “o samba faz parte da vida de todo brasileiro que valoriza nossa cultura”.

DISCOGRAFIA – Como surgiu a ideia da parceria com o Trio Madeira Brasil e do disco cantando Roque Ferreira?

Roberta Sá – Conheci o Trio Madeira Brasil em 2005 quando tocamos juntos num festival na cidade do Porto em Portugal, chamado Noites no Palácio. Desde então alimentamos o desejo de gravar um disco juntos. Para este nosso primeiro encontro em estúdio, escolhemos o Roque Ferreira pela riqueza rítmica e poética e cultural de suas canções.

DISCOGRAFIA – Como você entrou em contato com a obra dele?

RS – Através de um disco que ele gravou, chamado Tem samba no mar. Depois de ouvi-lo, liguei para ele para pedir canções para o meu segundo disco Que belo estranho dia pra se ter alegria.

DISCOGRAFIA – Como foi pensada a seleção de repertório?

RS – Ele nos mandou várias canções e juntos, o Trio e eu, escolhemos o que cabia melhor na sonoridade que estávamos criando. Para facilitar esse processo de escolha, fizemos alguns ensaios abertos no Centro Cultural Carioca no início do ano.

DISCOGRAFIA – Antes de gravar, vocês encontraram o Roque e dividiram com ela a ideia do disco. Como foram esses encontros? Ele chegou a dar sugestões?

RS – Nos encontramos para ouvir algumas canções, fomos ao Recôncavo juntos, mergulhamos naquele universo, mas ele só ouviu o disco pronto.

DISCOGRAFIA – O autor, Roque Ferreira, chegou a fazer algumas observações quanto ao resultado do disco dizendo que “ficou light” e que “perdeu em baianidade”. O que você achou das palavras dele?

RS – Já nos encontramos depois dessa declaração que ele fez pro Estadão, conversamos sobre isso. Ele disse que adorou o disco. Só achou diferente da sonoridade do Recôncavo, que era mesmo a nossa intenção.

DISCOGRAFIA – Uma das observações dele foi em relação à falta de percussão que deixou o resultado “light”. Quando pensaram numa releitura das canções de Roque, qual era a proposta de vocês?

RS – Era dar a nossa interpretação para a obra de Roque. Afinal de contas nosso trabalho é de criação e não de cópia. Estamos muito felizes com o resultado. O Roque também.

DISCOGRAFIA – Você faz parte de uma geração de cantoras que vem se dedicando ao samba. Isso já fazia parte do seus planos quando decidiu ser cantora? Como o samba entrou na sua vida? Quem são suas referências neste estilo?

RS – Não sou cantora de samba. Minha relação com o samba é de paixão e reverência. O samba faz parte da vida de todo brasileiro que valoriza nossa cultura. João Gilberto diz que bossa nova é samba devagar. Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, todos já fizeram sambas antológicos. Ou seja, quem faz música popular brasileira tem que passar pelo samba. Comigo não poderia ser diferente. Clara Nunes, Elza Soares, Alcione… é tanta gente boa, tanta referência que fica difícil fazer uma lista. Mas essas são algumas das grandes.

DISCOGRAFIA – Voltando na sua carreira, antes do seu primeiro disco, você teve uma participação no programa Fama. Como foi seu período no programa?

RS – Foi um mês há 8 anos atrás. Foi um início, uma passagem importante.

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DISCOGRAFIA – Você não venceu o programa, mas é a única participante que manteve uma carreira de sucesso. Você ainda acompanha estes tipos de programas?

RS – Isso não é verdade. O Thiaguinho do Exalta fez o programa comigo e está trabalhando muito. O Adelmo Casé, que fez a edição anterior, tem uma super carreira em Salvador. Cada um trilhou um caminho. Sucesso e exposição são duas coisas completamente diferentes. Programas que revelam talentos fazem parte da história musical desse País. Elza Soares, Emílio Santiago, Elis Regina deram os primeiros passos na TV ou no rádio. De vez em quando assisto. Tem muito talento cantando nesses programas.

DISCOGRAFIA – O que acha dos participantes de um modo geral?

RS – Tem muita gente talentosa. Confesso que gosto mais dos que cantam em português.

DISCOGRAFIA – Seu primeiro disco de repercussão, Braseiro, trouxe boas críticas e as participações do MPB-4 e Ney Matogrosso. Como aconteceu o encontro com eles?

RS – De maneira natural. Sonhei, convidei, e eles, como artistas generosos que são, toparam. São pessoas muito importantes na minha história.

DISCOGRAFIA – Antes de Braseiro, você lançou o disco Sambas e Bossas. Queria que você falasse dessa estreia. Pretende relançá-lo?

RS – Esse disco foi gravado para uma empresa e nunca foi lançado (embora possa ser encontrado facilmente para download) . O Rodrigo Campello tocou tudo, produziu. Fizemos tudo em uma semana. Quem sabe um dia?

DISCOGRAFIA – O projeto coletivo Samba meets Boogie Woogie também é pouco falado na sua carreira. Queria que você falasse um pouco sobre ele.

RS – Adoro esse disco! É um projeto do Mário Adnet, com Mônica Salmaso, Zé Renato, Maúcha Adnet, Alfredo del Peño, Mário e eu nos vocais, que foi feito para ser lançado nos estados unidos. Não foi lançado no Brasil, infelizmente. Foi uma delícia de fazer e eu adoro o resultado.

DISCOGRAFIA – Ano passado você se apresentou em Fortaleza num festival que é tradicionalmente de rock, o Ceará Music. O que você lembra deste show?

RS – De uma plateia enorme e receptiva, que cantou tudo junto comigo. Um momento inesquecível.

DISCOGRAFIA – Como está sendo a turnê com Quando o canto é reza?

RS – Correndo bem.

DISCOGRAFIA – Quais são seus planos para o futuro? Já tem ideia para um novo disco?

RS – Não gravo um disco solo em estúdio desde 2007. Já está na hora de pensar. Estamos no plano das ideias. Vai demorar um pouquinho.

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>> Discografia:

2004: Sambas e Bossas  (Inédito)
2005: Braseiro
2007: Que Belo Estranho Dia Para se Ter Alegria
2008: Samba meets boogie woogie  (lançado nos EUA)
2009: Pra se Ter Alegria  (Cd e DVD)
2010: Quando o Canto e Reza

>> Para mais: http://www.robertasa.com.br/ e http://www.myspace.com/robertasaoficial

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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