Do portal UOL


A música de Robert Plant o levou de Kashmir a The Ocean e Over the Hills and Far Away. Ele subiu a Stairway to Heaven e visitou as Houses of the Holy. Mas agora, com 62 anos e 30 anos distante do trabalho ativo no Led Zeppelin, o cantor britânico encontrou um novo lar criativo em Nashville. Lá, suas raízes de rock pesado deram lugar ao country, ao rockabilly e até ao gótico sulista em seus dois últimos álbuns: o ganhador do Grammy Raising Sand (2007), com Alison Krauss, e seu novo Band of Joy.

“Acho que tenho ouvidos grandes”, diz Plant, falando por telefone de Nashville, um dia depois que ele e sua banda atual, também batizada de Band of Joy, terem feito o lançamento do novo disco em um show. “Já passei por diferentes cores de música, atmosferas e sucessos. E a música e os artistas aos quais estive exposto recentemente são muito familiares. Sinto a mesma soul neles quanto em tudo mais que já fiz, por isso não me sinto afastado de minha velha raiz”.

Plant acha que “renascimento” é um termo sério demais para dizer. “É um sentimento diferente dentro de mim, mas vagamente familiar, de que agora posso fazer qualquer coisa, ir a qualquer lugar e desfrutar de meus flertes com todos os tipos de música, que é um lugar maravilhosamente puro para se estar, principalmente a esta altura da minha vida”, ele diz.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=FqS9jWkDdtM[/youtube]

Plant se saiu bem em seu novo ambiente. Raising Sand estreou no 2º lugar na parada Billboard 200, a posição mais alta do músico nas paradas pós-Led Zeppelin, e o álbum recebeu disco de platina e levou para casa seis prêmios Grammy, incluindo disco do ano em 2009. Band of Joy estreou no 5º lugar, a posição mais alta dentre seus álbuns solo.

Foi tão forte o interesse de Plant por Raising Sand que ele recusou as muitas ofertas lucrativas para uma reunião do Led Zeppelin, feitas após o badalado concerto beneficente do grupo em 2007, na O2 Arena em Londres. Apesar dos inúmeros rumores, Plant diz que o assunto nunca foi levantado. “Para ser sincero, eu acho que ninguém de fato fez essa pergunta fora a mídia. Então aqui estou eu, apenas fazendo o que faço”, ele diz.

Sequência de Raising Sand
A estrada para Band of Joy teve início com Krauss e uma tentativa de gravar uma sequência para Raising Sand. “Nós conversamos a respeito disso e compartilhamos várias ideias”, lembra Plant, “daí entramos no estúdio e tentamos algumas delas. E foi desafiador tentar suceder Raising Sand tão cedo após concluirmos aquele projeto. Talvez não tenhamos dado espaço suficiente para ele. Chegamos a um ponto onde percebemos que teríamos que deixar para depois”.

Mas enquanto fazia a turnê de divulgação de Raising Sand, Plant arrumou um novo aliado, Buddy Miller, o guitarrista, produtor e compositor que era integrante da banda. Quando as sessões com Krauss pareciam infrutíferas, Plant alistou Miller – cujos créditos de produção incluem trabalhos com Solomon Burke, Jimmie Dale Gilmore e Lucinda Williams – para ajudá-lo no novo projeto.

“Buddy é um colecionador ávido. Seu apreço musical não se baseia em um área em particular. Ele passa por tudo, da batida psicodélica inglesa de 1962 até coisas do norte da África. Ele cobre tudo, como eu. Você pode mencionar um estilo em particular de um momento específico e ele saca. Não era necessária muita leitura de mapa para encontrar uma fonte de referência em particular que ambos entendíamos”, conta Plant.

Essa amplitude de influência levou Plant a batizar o projeto, e o grupo que o toca, de Band of Joy. Este era o nome do grupo no qual Plant, natural de West Bromwich, na Inglaterra, e o baterista John Bonham tocavam por volta de 1967/1968, até serem chamados pelo guitarrista Jimmy Page para integrarem os New Yardbirds, que se transformaria no Led Zeppelin.

A Band of Joy original não era um mero grupo de hard rock, já que explorava vários estilos musicais que tingiriam a música de Plant pelo restante de sua carreira. “Para falar a verdade, é um estado de espírito para mim”, diz Plant, que ainda se considera “apenas um fanático por discos de vinil e um nerd musical total”, sempre em busca de coisas raras e obscuras. “[Na Band of Joy] eu era bastante ingênuo, movido pelos meus próprios interesses e capaz de todos os tipos de erros, faux pax, explosões da minha vontade em prol da minha vontade”, ele conta.

Plant continua: “antes [do Led Zeppelin] eu era fascinado pelas voltas que a música contemporânea norte-americana estava dando em 1967, com seus efeitos desde o Yardbirds até Searchers, assim como a sonoridade metálica ouvida em Da Capo (1967), do Love. E também pelo comentário social e todo o impacto social diferente que existia quando eu era um garoto, ao descer do avião nos Estados Unidos”.

Foi esse mesmo espírito que o inspirou a se concentrar em Band of Joy, diz Plant. “Eu estava no meio de todas as minhas aventuras, com as mãos erguidas para o ar. Eu senti que podia fazer mais ou menos qualquer coisa. E poderia ser um sucesso ou um fracasso. Não houve um grande momento de parceria, eu não precisei perguntar nada para ninguém. Era um pouco como quando eu tinha 17 anos”, lembra.

Covers e parcerias
Sua versão de Band of Joy acabou indo mais longe do que Raising Sand. “Eu pensei: ‘espera aí. Eu quero viajar um pouco mais'”, diz Plant. O resultado foi uma mistura eclética de canções escolhidas por ele e Miller, todas covers, com exceção de Central Two-O-Nine, que eles compuseram juntos, e três tradicionais – Cindy, I’ll Marry You Someday, Satan Your Kingdom Music Come Down e Even This Shall Pass Away – com arranjos da dupla. “Eu tenho uma caixa cheia de canções, elas estão por toda parte, caem dos meus cabelos. Nós gravamos muitas canções, mais ou menos 22, e então, no final, tentamos criar uma trama que unisse tudo”.

O primeiro single das 12 faixas de Band of Joy é Angel Dance dos Los Lobos, do álbum The Neighborhood (1990). “Eu sempre adorei essa canção”, diz Plant, que recrutou seus compositores, David Hidalgo e Louie Perez do Los Lobos, para aparecerem no vídeo da canção. “Eu acho que todo o sentimento dela, toda a ideia é muito compulsivo, um ritmo e canção envolventes”.

Entre as outras gemas do álbum estão House of Cards (1978) de Richard Thompson, I’m Falling In Love Again (1966) dos Kelly Brothers, e You Can’t Buy My Love (1965), uma resposta a Can’t Buy Me Love (1964) dos Beatles, gravada por Barbara Lynn. Plant e Miller também exploraram o passado mais recente com duas canções do Low, um trio de Minnesota – Silver Rider e Monkey. “Gosto delas há dois, três ou quatro anos, daquele álbum Great Destroyer (2005), mas nunca pensei em cantar essas canções. E enquanto eu escutava [‘Band of Joy’], pensei que ele precisava de algo mais aguçado. Elas transformaram todo o sentimento do álbum”.

Trabalhar com Miller, com a cantora Patty Griffin, com o guitarrista Darrell Scott, com o baixista Byron House e com o baterista Marco Giovino também mudou a atmosfera do disco, ele acrescenta. “Fez com que parecesse mais jovem. Fez com que eu não soubesse o que aconteceria a seguir, o que realmente não importava”.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=MpjnaGOeHH4[/youtube]

Ele espera que a Band of Joy tenha continuidade, não apenas fazendo turnê 2011 adentro para divulgação do álbum, mas também se reunindo no estúdio para um próximo disco de composições do próprio grupo. “Estamos conversando”, diz o cantor. “Agora temos que compor as canções. É tudo uma celebração da composição de outras pessoas, e sei que alguns artistas passam toda sua carreira fazendo isso, seja Elvis, Sinatra ou muitos artistas country que nunca compuseram. Mas seguiremos por esse caminho em breve”.

Plant reconhece que não tem muita autoestima quando se trata de composição. “Eu não tenho ideia de como funcionará e também será a primeira vez que componho uma canção, com uma psique americana em pleno vapor, então veremos. Mas gosto de pensar que conseguiremos levar isto adiante e proporcionar alegria onde for apropriado”.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles