Tudo no trabalho de Bruno Morais é simples. Isso fica estampado logo na capa do disco A vontade superstar (Gravadora YB Music), que traz um desenho de poucos traços mostrando um homem em seu momento de vôo. Cheio de personalidade, o disco lançado no ano passado foi uma surpresa que só há pouco tempo tomei conhecimento. De fato, eu já tinha ouvido falar no rapaz, mas ainda não conhecia o disco que é, realmente, muito bom. O som tranzita entre algo jazz, folk, bossa, tendo sempre a simplicidade e a criatividade como guia. Sua voz passa certa tranquilidade e melancolia, enquanto as letras curtinhas falam de amores acabados e outros reconstruídos. Já com algumas músicas novas disponíveis no myspace, Bruno Morais adianta por email que planeja um novo disco para o próximo ano. Vale a pena esperar. Confira a entrevista.

DISCOGRAFIA – “A vontade superstar” me parece ser um disco bem pessoal. Como ele nasceu?
Bruno Morais –
O A Vontade Superstar nasceu quase que espontaneamente e foi criando vida própria. Depois de mais de um ano gravando e fazendo produções de músicas novas com amigos, produtores e músicos em vários lugares por onde passei dentro e fora do Brasil por causa do Volume Zero (primeiro disco de Bruno, lançado em 2005) eu já tinha umas seis músicas gravadas sem um destino pré-estabelecendo. Quando a música A Vontade ficou pronta, ela definiu todo o repertório escolhido. Uma grande amiga Ivana Debértolis havia escrito um conto que encomendei pra servir de bio no meu antigo site. Pedi a ela que escrevesse sobre a primeira coisa que lhe vinha a cabeça quando pensava em  mim e o conto falava sobre obstinação, vontade. Isso ficou na minha cabeça. Tempos depois eu recebi uma carta dela com outro texto que dizia “A Vontade é o prazer encostado na dor”, nesse dia, partindo dessa frase eu escrevi a musica, juntei com outras, montei o repertorio, varei noites pirando e pensei: acho que agora isso tudo vira um disco.
 
DISCOGRAFIA – Como você compõe suas canções?
Bruno Morais –
Não tem muito um  método. Acontece de várias maneiras, mas, normalmente eu começo já com melodia e letra. Já pensando também numa possível linha de baixo. Depois eu vou longe naquela idéia. Escrevo muita coisa para depois editar tudo. Vou trabalhando o desapego, corto fora uns 60% para que fique apenas o que é necessário e abrindo espaço para os arranjos. Gosto de pensar já no tipo de arranjo, nos timbres, no discurso sonoro. Depois levo pra algum músico parceiro harmonizar comigo e fico falando sobre as possibilidades de arranjo para que a canção já venha com essas informações desde o principio. Às vezes faço apenas a letra e mando já editada pra algum parceiro.
 
DISCOGRAFIA – Esse novo disco foi feito com uma quantidade generosa de colaboradores. Entre músicos e produtores, são mais de 40. Como surgiram tantas pessoas?
Bruno Morais –
Um dos meus maiores interesses na musica é o processo colaborativo, a troca de experiências. E logo que lancei o Volume Zero, fui convidado pra representar o Brasil no concorrido laboratório de criação e/ou congresso de música e tecnologia Red Bull Music Academy em Seattle. Lá surgiram muitas das parcerias com artistas de outros paises. Viajei pra outros lugares depois e toda vez que eu conhecia algum músico interessante, sacava alguma música da cartola e convidava o cara pra trabalhar comigo. Isso durante uns dois anos. Tem muita gente bacana de vários paises da Europa, Eua e Brasil no disco, um orgulho e um privilégio. Mas aconteceu naturalmente partindo das necessidades de cada canção. Quando decidi que aquele material viraria um disco, convidei muitos amigos de São Paulo e Rio pra fazer as gravações adicionais. Só me dei conta que era tanta gente na hora de fazer a ficha técnica. Isso sim deu trabalho, fazer a ficha técnica, rs.
 
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=sd0xgAS4ugI[/youtube]

DISCOGRAFIA – Ainda assim o disco traz uma carga de pessoalidade muito grande. O que ele revela sobre você?
Bruno Morais –
Que eu amo a música e que eu acredito nos poderes da música feita com verdade. O resto é ouvir e tirar suas próprias conclusões.

DISCOGRAFIA – Você é um cantor de voz pequena e mansa, o que traz ainda mais proximidade com o seu ouvinte. Quando compõe, pensa em suas músicas com outros intérpretes?
Bruno Morais –
Não penso muito nisso quando componho. Talvez depois eu fique fantasiando alguns intérpretes. Mas à principio não penso nem em mim cantando , fico só naquela canção, nas ideias, nos arranjos. Adoraria saber como seria o João Gilberto ou a Maria Bethania interpretando uma canção minha. Tem muita gente nova que fico imaginando também. A Luiza  Maita tem cantado A Vontade no  show dela e é lindo. Seria incrível ver o Letieres Leite e a Orquestra Rumpilezz tocando algo meu também.
 
DISCOGRAFIA – Você comentou recentemente na Trip sobre o quanto gostava, na infância, de ouvir o disco Frevo Mulher, de Amelinha. Que mais você gosta de ouvir?
Bruno Morais –
Nossa, tanta coisa. Na verdade o Frevo Mulher foi só o meu primeiro disco. Ouço de tudo com atenção e acabo sempre gostando de algo, qualquer que seja a música. Mas acho que principalmente Jazz , samba de raiz , bossa nova, swing, mariacchi, soul, rock, folk, afrobeats, musica barroca. Sou fascinado por orquestras sinfônicas, Nina Simone, João Gilberto, Chet Becker, Louis Armstrong, Tom Waits, John Contrane, Tim Maia, Cartola, Nelson Cavaquinho, Beatles, Andrew Bird, João Donato, Beastie Boys, Antonio Adolfo, Gal Costa, Radiohead, Cesaria Évora, Evinha, The Pointer Sisters, Ramsey Lewis, Flaming Lips, Minnie Ripperton, Masekela, Grizzly Bear… É assim, nessa ordem caótica e randômica, que eu ouço música.
 
DISCOGRAFIA – Como estão sendo os shows?
Bruno Morais –
Cada vez melhores. Estou com um time de azes me acompanhando desde antes do disco. Guilherme Kastrup na bateria, percussão e MPC; ZéPa e Estevan Sinkovitz nas guitarras e violões; Guizado no Trompete e MPC e Ricardo Prado no baixo e teclados. Eu os apelidei de os “Homens Polvo”, rs. O show é uma versão mais quente e visceral do disco, na mesma ordem, como se fosse uma série de aventuras. E no final sempre coloco umas surpresas, versões e novidades.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=Vlxo9cGVrTw[/youtube]  
DISCOGRAFIA – Como andam seus planos para um novo trabalho?
Bruno Morais –
Eu lancei  no começo desse ano duas faixas que gravei para o aniversario da gravadora YB. Uma da Lulina e outra do Romulo Fróes com Nuno Ramos. Elas fizeram parte de um especial de fim de ano na MTV chamado Estúdio A. Gostei muito do formato “single“ e estou gravando mais duas, minhas dessa vez. Devo lançá-las depois do carnaval. Álbum novo só em 2012 se o mundo não acabar, rs.

> Para mais: http://www.myspace.com/brunomorais

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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