Em seu sétimo livro, Tony Bellotto narra a trajetória errática de Teo Zanquis um guitarrista que fez muito sucesso nos anos 80 com a banda Beat-Kamaiurá. No estilo banda de um hit só, o conjunto fictício estourou com no BRock com Trevas de luz, e desapareceu. com o título No buraco, o livro faz referência à situação em que o músico se encontra, de toal ostracismo, e ao fato de Tony já iniciar a narrativa com o protagonista acompanhando uma discussão erótico-gramatical com a cabeça enterrada na areia da praia. Tony Bellotto escreve com liberdade e leveza, o que faz da leitura um momento de extremo prazer. Narrado em primeira pessoa, a de Zanquis, não faltam histórias de sexo, drogas e música. No Buraco é uma boa dica do Discografia para os fãs de literatura e de música. Acompanhe abaixo Tony Bellotto, em entrevista exclusiva, falando sobre No Buraco

DISCOGRAFIA – Como veio a ideia para este seu sétimo livro?

Tony Bellotto – A ideia nasceu de um desejo antigo de falar sobre a minha vivência como artista. Sobre esse meio em que eu vivo. Muita gente pensou que seria algo autobiográfico, mas ali são coisas que eu criei. Já tinha tempo que eu queira ambientar essas histórias. Como eu já tinha feito muitas coisas policiais, me deu vontade de fazer diferente.

DISCOGRAFIA – E quanto tempo ele levou pra ficar pronto?

Tony Bellotto – Demorei um ano e meio, a dois anos pra terminar. Eu já tinha alguns contos escritos dentro desse universo do rock. Coisas que eu vinha armazenando em arquivo.

DISCOGRAFIA – Quem conhece algumas histórias dos artistas percebe muita coisa se confunde com a realidade no seu livro.

Tony Bellotto – É verdade, mas o livro não tem nada de memorialismo. Me baseei em coisas que vivi. Algumas coisas aconteceram, mas até as que eu vivi passam pelo filtro da ficção. A situação do traficante que vende guitarra da polícia, por exemplo, aconteceu. Mas o tete a tete com uma freira, isso não aconteceu. Quando se está no universo da ficção, as coisas vão acontecendo de acordo com a lógica do personagem.

DISCOGRAFIA – Em muitos momentos, No Buraco me lembrou o filme Quase famosos. 

Tony Bellotto – É mesmo. Lembra mesmo. 

DISCOGRAFIA – Queria que você me dissesse quem é Teo Zankis?

Tony Bellotto – Ele é um guitarrista que fez sucesso na juventude. Agora, na crise dos 50 anos, ele se pega num beco sem saída. Ele tem lembrança da juventude com certa melancolia e acha sua vida atual sem sentido. É uma forma de falar no fim das ilusões da juventude.

DISCOGRAFIA – O que colegas de geração acharam do livro? Algum membro de alguma one hit band falou alguma coisa?

Tony Bellotto – Tive pouco retorno dessa galera. Acho que esse pessoal não lê muito. No máximo, algumas pessoas fizeram comentário de que isso é minha vida, mas é baseado.

DISCOGRAFIA – No início dos Titãs, você chegou a ter medo de estar em uma one hit band?

Tony Bellotto – No começo, você é tão jovem e tão determinado que não pensa muito nisso. Sei que no meio se comentava sobre “agora vai ter o desafio do segundo disco”. O primeiro é diferente por que você pega o que já tinha feito de uma forma mais espontânea. Lembro que, na televisão, os Titãs não foi tão sucesso. Tivemos o zzar de ter o Ultraje a Rigor como companheiros de geração que estouraram com Nós vamos invadir sua praia na mesma época.

DISCOGRAFIA – Como e quando começou seu interesse pela literatura?

Tony Bellotto – Vem desde a adolescência quando comecei a tocar guitarra. Antes disso, eu já gostava de ler. Quando eu estava sonhando em tocar guitarra, também sonhava em escrever. Até mandei alguns contos pra concurso, mas nunca fui nem classificado. Quando veio os anos 80, comecei a escrever, mas ainda de forma esparsa. Foi no começo dos anos 90, que comecei a escrever mesmo.

DIsCOGRAFIA – Em mais de vinte anos de banda, você raramente compôs sozinho pros Titãs. Em A melhor banda… (2001), por exemplo, você compôs Isso que uma música belíssima. Alguma vez pensou também em escrever poesia?

Tony Bellotto – Não. Acho, talvez, que a disciplina da literatura foi me ajudando mais na composição. A gente sempre compunha muito em parceria, mas eu sempre fiz bastante coisa sozinho e ficava muita coisa de fora. Pouca coisa entrou. Eu produzi mais do que foi gravado. Mas acho que, como escritor, sou mais disciplinado.

DISCOGRAFIA – Mas, desde essa composição, o compositor Bellotto tem aparecido mais. Tem tido vontade de se mostrar mais neste lado?

Tony Bellotto – Cara, poesia eu amo, mas acho muito difícil. Sempre fizemos tudo de forma bem coletiva, o que até me instiga mais. Mas, tenho uma facilidade maior com o romance. Quanto menor, mais complicado. O fluxo da narrativa do romance pra mim é mais fácil.

DISCOGRAFIA – Pra encerrar, que saber dos seus planos de livro e disco.

Tony Bellotto – Ainda não tenho uma ideia definida do que quero fazer em termos de literatura. Eu tenho um método de trabalho que eu consigo escrever quando estou de folga no meu escritório e imprimo e reviso enquanto estou viajando. É um trabalho bem importante. Mas, não estou com nenhum projeto literário encaminhado por enquanto. Quanto aos Titãs, já estamos trabalhando no disco novo que ainda está bem no começo, ainda sem data de lançamento. Como não tem mais contrato com gravadora, estamos fazendo bem devagar e depois vamos atrás de parcerias pra lança-lo.

>> Bibliografia de Tony Bellottto:

Bellini e a esfinge (1995)

Bellini e o demônio (1997)

Bellini e os espíritos (2005)

BR163: Duas histórias na estrada (2001)

O livro do guitarrista (2001)

Os insones (2007)

No Buraco (2010)

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles