Lobão precisou de quase 600 páginas para contar como se passaram seus 53 anos de vida, completados no último 11 de outubro. Embora a quantidade seja grande, foi o mínimo necessário para registrar uma série de histórias que, de tão improváveis, chegam a causar desconfiança no leitor. Com o nome 50 anos a Mil (Ed. Nova Fronteira), a autobiografia do cantor, compositor e músico carioca é um relato tragicômico, com boas doses de cinismo, sobre um personagem, meio criador e meio criatura, que viveu muitas experiências de sexo, drogas e rock’n’roll enquanto acompanhava o surgimento do rock brasileiro.

Prevenindo esse desconfiança, Lobão convidou o jornalista Claudio Tognolli para escrever a sessão Lobão na Mídia, que intercala os capítulos contando o que os meios de comunicação falaram sobre o cantor. No entanto, o melhor da história fica por conta dos bastidores inéditos e do tom informal do texto que, tal qual alertado pelo editor, mantém “o léxico e a sintaxe peculiares e autorais de Lobão”. Por exemplo, logo no começo, Lobão narra, com detalhes hilários, sua homenagem póstuma ao cantor e compositor Júlio Barroso. Junto com Cazuza, ele estendeu duas carreiras de cocaína sobre o caixão do líder da Gang 90.

E é assim que ele começa a falar sobre um menino de classe média que “deveria ter se tornado um bundão”, mas “conseguiu atenuar e, até mesmo, reverter esta lamentável característica”. Conhecido tanto pela boa música quanto pelo jeito falastrão, Lobão se mostrou econômico na entrevista, por email, ao DISCOGRAFIA. “Foi muito natural e prazeroso escrever essa biografia. Tenho coisas muito importantes, tanto para contar como para esclarecer e revelar”. Entre elas, está a “célebre pendenga” de início de carreira quando acusou Herbert Vianna, vocalista e guitarrista dos Paralamas do Sucesso, de plágio. O que começou numa amigável partida de futebol tornou-se ódio e uma “sucessão de acontecimentos absurdos”. Após o acidente sofrido por Herbert, Lobão já fala em afeto e admiração. 

50 anos a Mil conta ainda sobre o suicídio de sua mãe, sobre quando destruiu um violão na cabeça do pai e, com muita graça, sobre sua prisão por porte de drogas. “A melhor forma de me conhecer é tentar ser aberto e atento com o trabalho de uma pessoa bastante complexa”, explica Lobão que, junto com livro, lança duas músicas inéditas (para download gratuito no http://www.lobao.com.br) – a serem entendidas como prólogo e um epílogo da biografia – e uma caixa com três Cds e o DVD Acústico MTV. Os fonogramas foram remasterizados por Roy Cicala, que já trabalhou com John Lennon, Frank Sinatra e Jimmy Hendrix.

Seja revelando intimidades ou causando risos, Lobão hoje comemora por que “os jornalistas estão, na sua grande maioria, elogiando o livro”. Um dos motivos a que ele atribui esta boa recepção é à participação de Tognolli. “Está tudo muito bem documentado”. Certo de que não se arrepende de nada do que foi narrado, Lobão hoje se orgulha da imersão que fez em sua própria vida. “Tudo o que está lá foi milimetricamente pensado, arquitetado, escandido. Sei que fiz um livro bem escrito, não tenho a menor dúvida”.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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