Cantora, poetisa e ativista política, Patricia Lee Smith nasceu em Chicago em 30 de dezembro de 1946. Aos 21 anos, decidiu botar uma mochila nas costas e se mandar para Nova York. Filha de uma família amorosa e presente, ela preferiu a descoberta de um mundo novo no lugar da segurança de lar. Respirando os novos ares da cidade grande, ela pulou de emprego em emprego até começar a trabalhar numa livraria. Sopa no mel. Gostando de exercer tal ofício, ela aproveitava pra ter contato com autores beats e poetas como Allen Ginsberg e William Burroughs. E foi nesta livraria que ela conheceu Robert Mapplethorpe. É aí que nasce Só Garotos, livro lançada pela Companhia das Letras, e vencedor do National Book Award, um dos prêmios literários mais importantes dos Estados Unidos. Mais do que um relato pessoal sobre uma série de fatos, Só Garotos é um retrato emocionado de uma juventude em busca de ideais. Vivendo intensamente e atentamente os anos 70, Patti narra em tom poético momentos aparentemente banais como dormir abraçado, a troca do calor dos corpos em noite fria e a montagem de um lar. Num ano onde grandes estrelas do rock, como Ozzy Osbourne e Keith Richards, decidiram limpar as gavetas da memória, Só Garotos se destaca pela imensa sensibilidade da autora ao contar a sua história. Robert, que posteriormente iria se tornar uma referência na fotografia, principalmente pelos seus nus (ele viria a ser reconhecido como um documentarista da cena sadomasoquista gay), quando conheceu Patti era um garoto descobrindo o prazer da pintura e dos alucinógenos, regularmente combinados. Sabendo que estava próximo de alguém também vocacionado para as artes, ele viu ali chances de apoio para dar e receber. Bissexual, Robert também viu nela uma amante querida e uma amiga inseparável. E assim o foi até ele morrer de AIDS em 1989. Mesmo depois de separados, a amizade e a admiração mútua permaneceu. “Por ser um grande conhecedor de arte, ele é muito clássico. Quando trabalhava com temas difíceis, como o lado marginal da vida, sadomasoquismo e outros aspectos da sexualidade, não estava interessado apenas em chocar as pessoas”, comentou Patti à Folha de SP. Só Garotos levou vinte anos para ficar pronto. Foi escrito à mão e, nesse meio tempo, Patti chegou a perder alguns cadernos de anotação, tendo recomeçar tudo novamente. O esforço foi válido. Quem espera saber detalhes picantes sobre os muitos amantes de Robert ou conhecer mais histórias sobre drogas e roqueiros loucos, esqueça. Conhecendo ou não o trabalho musical de Patti Smith, este livro pode ser lido como um romance ou como uma poesia em prosa. E, se este gênero não existe, Patti acabou de criar.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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