Nos anos 90, era comum esperar pra saber quando sua banda preferida iria lançar um disco acústico. O programa Unplugged MTV foi quem deu início à moda que ganhou força no Brasil, principalmente, depois que os Titãs lançaram, o que seria apenas um programa de TV, em CD e DVD, em 1997. De lá pra cá, foram muitos os nomes que lançaram nos três formatos – programa de TV, CD e DVD – e conseguiram diferentes resultados. Capital Iinicial teve sua carreira de volta aos trilhos; Rita Lee brincou com a MPB; Roberto Carlos  chutou o balde e lançou o seu; Caetano Veloso fugiu do convite; e Lulu Santos cometeu um clássico. E em 2010, quando a MTV completou seus 20 anos de transmissão no Brasil, foi justamente Lulu quem voltou ao formato e gravou um volume dois do projeto já há três anos esquecido, desde que Paulinho da Viola fez o seu registro desplugado. Antes de Lulu, apenas Zeca Pagodinho havia gravado um segundo Acústico MTV, em 2006. Pena que esta segunda incursão do rei do pop no terreno dos violões não segure o mesmo ritmo do anterior, lançado 10 anos antes. Começa na própria parte gráfica. O primeiro era um belíssimo disco duplo embalado numa elegante capa branca com encarte escuro, enquanto o segundo traz uma sequencia de cores que remete ao cenário do show, mas pouco ou nada diz sobre seu conteúdo. Outro ponto é que Lulu, que caminha para seus 30 anos de carreira, mandou uma sequencia de 23 músicas em 2000, incluindo raridades que pouca gente lembrava. Neste Acústico MTV Vol II são apenas 14, incluindo a chatinha Minha vida. De clássico, Papo cabeça, Um pro outro e Adivinha o quê, esta numa versão bilíngue reforçada com o espanhol da cantora Marina de La Riva. Nos momentos mais inspirados, Lulu faz de Tudo azul um baião e de Brumário um samba-rock. Outra mudança curiosa é a recente Baby de Babylon, que ganhou um arranjo meio bossa nova. Fora isso, uma homenagem a Nanã, de Moacir Santos, na introdução de Pra você parar ( aquela do Eu quero casa, comida e roupa lavada), e, exclusivamente no DVD, versões de Ele falava nisso todo dia (de Gilberto Gil, recentemente regravada por Lulu), Tuareg (de Jorge Ben, e também lançado por Lulu em 1994) e Odara (de Caetano Veloso, essa em versão inédita). De fato, a ideia de Lulu era resgatar seus lados B e, só por isso, o disco já merece ser escutado. Mas, como diz a inédita E tudo mais, que abre este  Acústico MTV Vol II, “cada escolha sempre determina o que vem em seguida”. Então, vale à pena esperar.

Só violões

Quem também saiu com o seu acústico em 2010, embora não seja abençoado pela MTV, foi Zeca Baleiro. Com o nome Concerto, o novo trabalho do maranhense sai junto com Trilhas, uma seleção de trilhas sonoras feitas por Baleiro para cinema e ballet. Lançados para comemorar 13 anos desde que ele lançou o primogênito e ótimo Por onde andará Stephen Fry?, os dois trabalhos são juntos um retrato da criatividade e da versatilidade deste rapaz de 44 anos e 11 discos gravados. No caso de Concerto, ganha volume o repertório propositadamente curioso e variado, que vai do samba de Assis Valente Tem francesa no morro, gravado por Aracy de Almeida, até Best of you, do Foo Fighters, sempre acompanhado dos violonistas Swami Jr e Tuco Marcondes (que também comparece com guitarra e gaita). Ao todo, são 14 faixas gravadas ao vivo no teatro Fecap (SP) em março do ano passado, mais o bônus Mais um dia cinza em São Paulo, registrado em estúdio. O destaque fica para a cômica Armário que apresenta num momento de desabafo sobre sair ou não do armário. Assim como já havia feito com o Charlie Brown Jr, Zeca agora transporta para seu universo Eu não matei Joana D’Arc, da banda oitentista Camisa de Vênus, que vem seguida da obra-prima Autonomia, do mestre Cartola. Canção pra ninar neguim é uma homenagem a Michael Jackson, composta antes da morte do ídolo. Na letra, Baleiro diz: “I don’t know how to dance tua dança, but I like you”. Repetindo a dose de Samba do Approach, Bangalô é uma parceria de Zeca com Vander Lee que brinca com as línguas que habitam a língua portuguesa. A música bem se encaixa no repertório que passa por canções em espanhol (Milonga del amor, em parceria com Vanessa Bumagny) e inglês, e brincadeiras com o francês. Ao fim do disco, tem até músicas em português. Afinal, essa salada completa é o melhor estilo Zeca Baleiro.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles