O povo nem bem se recuperou das polêmicas carnavalescas – como a pouca repercussão do Tchubirabiron e o novo layout pelado do Chicleteiro Bell Marques – e já veio a mais nova polêmica baiana. MARIA BETHANIA VAI CAPTAR r$1,3 PARA  A PRODUÇÃO DE UM BLOG. Como não poderia deixar de ser, o assunto dominou a mídia e o twitter com uma série de piadas, ofensas e críticas fundadas e infundadas. Apesar do humor empregado por tanta gente nos comentários, uma coisa não foi levada em conta: Maria Bethania é diva para os fãs, mas, para seu emprego, ela é uma profissional como qualquer outra. Repito, como qualquer outra. O que dá a ela o direito sim de entrar com o projeto que achar que deve. Claro que um projeto de Bethania entregue para uma equipe comandada pela irmã de Chico Buarque tem tudo pra ser aprovado. Mas aí é um problema político, não da Bethania. Tentaram encampar via twitter a campanha “devolve essa porra Bethania”. De fato, ela não vai devolver e nem deveria. É um direito dela entrar com o projeto e, se foi aprovado, é obrigação dela cumprir prazos, combinados e prestar contas. É mais ou menos assim: se um professor de literatura entrasse com um projeto do mesmo valor com artistas cearenses declamando textos do Patativa do Assaré em vídeos produzidos pelos cineastas cearenses, iria ser motivo de comemoração por aqui e geraria comentários como “é preciso valorizar este grande poeta”. Ou seja, mudando os personagens, muda a percepção das coisas. A ideia do blog de Bethania, chamado O mundo precisa de poesia, é de reunir 365 poesias de diversos autores declamados pela cantora em vídeos postados diariamente. Os vídeos serão dirigidos por Andrucha Waddington. Teve que dissesse que ninguém iria olhar esse blog. Espero que ninguém aposte nisso. A julgar pela legião de fãs da cantora, o blog seria muito visto sim. Escolas também poderiam aproveitar a ferramenta pra incentivar a leitura, e não só de poesia. Se é um blog, o conteúdo é gratuito e disponível pra quem quiser ver, tantas vezes queira ver. Precisamos rever nossas leis de incentivo à cultura e captação de recursos públicos sim e urgentemente. Mas também precisamos de poesia.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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