Para além de qualquer preconceito musical, segue aqui uma ótima dica para um programa gratuito esta noite.

Por Pedro Rocha (@pedroearocha)

Fotos por Iana Soares

“Tô me sentindo um matuto em Nova York”, diz Dorgival Dantas, 40. O compositor potiguar ensaia há três dias com a Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho para dois concertos, amanhã e quinta-feira. No foyer do Theatro José de Alencar, palco da segunda apresentação, o sanfoneiro se admira com a habilidade dos músicos em ler as partituras de suas próprias composições. “Eles chegam, tocam do jeito que vem e eu que sou o dono da música não sei”, brinca. Os músicos gargalham. “É como se eu tivesse fazendo um supletivo aqui”.

Um dos compositores que mais arrecadam direitos autorais no Brasil, autor de grandes sucessos da música popular recente, Dorgival tem em mente as composições que fez na juventude, aos 20 e tantos anos, e que definhavam esquecidas há quase duas décadas. “Na época eu imaginava que ia tocar muito instrumental”, explica. “Agora quem tá tendo dor de cabeça pra tocar sou eu”.

Composições instrumentais como Inseticida, Chorinho e Desafio para acordeon e violino foram arranjadas pelo violinista e regente convidado dos dois concertos, o cearense Paulo Leniuson, 39, membro da Orquestra desde sua fundação, há quase 15 anos. “Deu um prazer enorme dá uma roupagem diferente ao trabalho do Dorgival”, fala.

Leniuson também fez o arranjo de um grande sucesso do compositor. Você não vale nada, mas eu gosto de você deve concluir uma nobre caminhada, saindo do repertório da banda Aviões do Forró, passando por trilha de novela, até chegar aos régios braços da música erudita. Não sem antes se transformar um tanto. “Posso dizer que ficou bem diferente”, adianta Leniuson. “Vai ser algo bem diferente do forró. Inclusive foi idéia do próprio Dorgival”.

Outros sucessos como Coração – “para que se apaixonou / por alguém que nunca te amou” – e Pode Chorar foram arranjados por Argemiro Correia e Marcus Vinícius, respectivamente. O arranjo da instrumental Vôo do Mosquito coube Wellington de Souza.

“Existe a música boa e a música ruim. Eu posso dizer que o trabalho do Dorgival tá muito bem classificado na música boa. Ela pode ser gravada tanto pelos Aviões do Forró como adaptada pela orquestra de cordas. A música é uma só”, afirma Leniuson sobre a suposta distância entre música popular e erudita.

Dorgival não tem do que reclamar – confessa ser esse um dos melhores momentos de sua vida. Quarta-feira o concerto será no auditório do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), antigo Cefet, dentro da série Concerto Universitário. Na quinta, a obra do potiguar sobe o principal palco da cidade que escolheu para morar e criar seus quatro filhos. “Nunca imaginei tocar no Theatro José de Alencar”, admira-se. Ele lembra que receberá próxima semana o Troféu Imprensa das mãos do empresário Sílvio Santos e agradece: “Ainda bem que eu não tenho problema do coração”.

A idéia é que o concerto no José de Alencar vire um DVD. Para isso, Dorgival tem afinado a sintonia com os integrantes da orquestra. Em clima de descontração, ele tem aprendido a tocar novamente suas próprias músicas instrumentais, além de acertar os arranjos preparados especialmente para os concertos. “Tá bom demais. Eles estão sendo realmente muito legais, tão tendo bastante paciência comigo.”, fala. “A gente faz de conta que tá no interior debulhando feijão”.

Serviço:

Concertos de Dorgival Dantas e Orquestra Eleazar de Carvalho

Quando: quarta e quinta

Onde: dia 30, no auditório do IFCE; dia 31, no Theatro José de Alencar

Entrada: aberto ao público

Mais informações: 8828.6405

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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