Não é curta a lista de bandas e artistas que despontaram nos Anos 80, muitos deles atrelados ao então nascente Rock Brasileiro. No entanto, com a chegada de novos movimentos, tecnologias e o fácil acesso ao que está acontecendo do outro lado do mundo, muitas dessas bandas foram perdendo sua conexão com o público e, consequentemente, com o sucesso. Para estas, ficaram apenas as músicas que hoje alimentam revivals e festas temáticas. No entanto, esse, definitivamente, não é o caso dos gaúchos do Nenhum de Nós. Estourados em 1987 com o álbum de estreia que trazia o hit Camila Camila, eles entraram na história já no apagar das luzes daquela década e mantiveram o nome com canções como Ao meu redor, Amanhã ou depois, Eu caminhava e, principalmente, Astronauta de mármore. Um tanto afastados das rádios e TVs, eles continuam da batalha sem interrupções e acabam de lançar o ótimo Contos de água e fogo. Ao longo das 13 faixas, eles comprovam o quanto são fieis ao estilo que apresentam há quase 25 anos. A propósito, após um trabalho ao vivo (A céu aberto), eles preferiram comemorar este um quarto de século com um trabalho de inéditas. Atitude rara. No novo trabalho estão presentes as guiatarras, o peso, até a voz de Thedy Correa se mostra intacta. Contos de água e fogo é o 14º álbum da banda, sendo o 10º de estúdio. Increvelmente, ao longo desse tempo o grupo também se mantém intacto com Carlos Stein (guitarra), Sady Homrich (bateria), Veco Marques (guitarra), João Vicenti (teclado), além de Thedy. Certo que, entre os membros, alguns entraram depois depois, mas ninguém saiu. E certamente é com essa mesma cumplicidade e fidelidade que eles moldaram o som ao mesmo tempo urgente, melodioso e atual, que se ouve ao longo deste novo disco que abre com Corrente, um hit com forte influência do rock inglês do Oasis, por exemplo. O mesmo pode ser dito da rapidinha Água e Fogo, que conta ainda com os vocais de Duda Leindecker, parceiro de Humberto Gessinger no duo Pouca Vogal. Aliás, um ponto interessante deste disco é a simplicidade das composições (o que não deve ser confundido com simploriedade) que logo devem fazer sucesso nos shows. Entre as baladas, a triste Primavera no coração é um destaque. Mas, destaque mesmo fica com a sofrida Início fim com um refrão cortante (“Nem mais um passo sem um novo vício. Isso é só o começo de um fim que já foi o meu início”) e reforço dramático de um quarteto de cordas. Menos doída é a delicada Pequena, feita em parceria com Fábio Cascadura (que também canta na faixa) em homenagem à filha de Thedy. O disco traz ainda parcerias inéditas com Leoni (Melhor e diferente), Frederico Lima e Sebastián Peralta (Mistério profundo) e Pablo Uranga (3000 léguas). Mesmo com agenda cheia com os shows nacionais, o Nenhum de Nós agora planeja viajar mais pela américa latina e no novo disco eles trazem uma primeira composição em espanhol Tu vicio.  Um fato curioso é que oito das 13 faixas são creditadas à banda. Mesmo sabendo que as letras são responsabilidade de Thedy, o coletivo pesa mais do que a disputa por espaço e holofotes. Talvez seja este o segredo para se manter há tantos anos num mercado cruel e se manter com dignidade.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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