Paulista, com 40 anos de carreira, Célia é dessas cantoras preparadas para conquistar os ouvidos mais criteriosos. Dona de uma emissão rouca, profunda e carregada interpretação, ela está longe de ser o que se convencionou chamar de uma cantora “popular”. Não, ela é sofisticada, jazzista, intensa. Um bom cartão de visitas pra quem quiser se iniciar em seu canto é o disco lançado em 2010, Célia 40 anos – O Lado Oculto das Canções. Entre regravações e inéditas, ela apresenta um repertório afinado com sua voz, com direito a alguns rasgos de ousadia. Esse é o caso por exemplo da versão jazzy de Não vou ficar , bem diferente da pegada soul de Tim Maia. Embora a ideia não seja nova, ela também traz a kitsch Não se vá (Jane e Erondi) para o campo da elegância com o auxílio luxuoso de Ney Matogrosso. O verso que dá nome ao disco é tirado da excepcional Eternamente, apresentada poor Gal Costa em 1983. No campo das inéditas, há composições de Ana Carolina, Adriana Calcanhotto e Zélia Duncan. Um primor, de fato. Mas, toda essa introdução era para anunciar que a gravadora Warner agora planeja colocar nas lojas os dois primeiros trabalhos da paulista em versão dois em um. O disco de estreia de Célia data de 1971 e abre com Blues, de Joyce e Capinam, uma gravação pouco conhecida da carioca que também comparece com Abrace Paul McCartney e To be. Ainda no quesito Beatles, o disco traz ainda Para Lennon e McCartney. Já o disco de 1972, também lançado originalmente pela Continental, abre com a dupla Roberto e Erasmo, num registro inédito de A hora é essa. Clássico da mesma dupla, Célia também mostra aqui sua versão para Detalhes, hoje com qualquer regravação proibida pelo Rei. Completando o repertório deste trabalho, há ainda Marcos e Paulo Sérgio Valle (Dominus Tecum), Vitor Martins e Arthur Verocai (Na boca do sol), Tom e Vinicius (É preciso dizer adeus), Sá e Rodrix (Vida de artista e Toda quarta-feira depois do amor), e outros. Os dois discos trazem como título apenas o nome da cantora, Célia, assim como os dois discos que ela lançou em seguida (1975 e 1977) e que ainda estão fora de catálogo. Ou seja, o nome é comum e nem de longe parece um nome artístico, mas acabou virando sinônimo de coisa boa.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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