Ao longo da história, muitos estilos musicais já sofreram com críticas vindas de veículos especializados ou de musicólatras xiitas. Foi assim com o rock, lá pelos anos 1950, foi assim com o samba, algumas décadas antes. Algum tempo depois, foi a vez da música sertaneja e do forró. Bregas, apelativos, melosos, sem conteúdo é o mínimo do que dispara os “defensores da MPB”. Por outro lado, o que não falta é gente que fecha os ouvidos para a crítica e lota enormes arenas para ouvir e dançar ao som das duplas de gogó poderoso ou das sanfonas envenenadas.

Isso vai ser comprovado amanhã, no Arraiá dos Namorados, no Marina Park. Misturando o romantismo do Dia dos Namorados com a chegada dos festejos juninos, a festa vai contar com as presenças dos forrozeiros do Garota Safada, com o vocalista pop Wesley Safadão, e do Kbra da Peste, encerrando com os ídolos Zezé di Camargo e Luciano. Pra deixar claro que a crítica passa longe dos fãs, a venda de mesas já se esgotou desde a última quarta-feira.

Impulsionados por um certo presidente jovem vindo das Alagoas que se declarava abertamente como fã do estilo, as duplas sertanejas invadiram rádios e TVs nos anos 1990, com um repertório de amor rasgado e sem meias palavras. Um dos primeiros hinos da época foi É o amor, dos irmãos Mirosmar José de Camargo e Welson David de Camargo, naturais de Capela do Rio do Peixe, Goiás, mais conhecidos como Zezé di Camargo e Luciano.

Comemorando em 2011 seus 20 anos de carreira fonográfica, a dupla desafiou aqueles que viam na mistura de moda de viola com o country americano apenas um modismo passageiro. Ao lado de Chitãozinho & Xororó e Leandro & Leonardo, eles se tornaram ídolos no gênero que foi se modificando até chegar ao atual sertanejo universitário, do qual são sempre apontados como uma forte influência. Se quando surgiram, ameaçando o reinado do rock nacional, ouviram de Lulu Santos que “espingarda de cano duplo é pra matar dupla sertaneja”, eles responderam em 1999 com a diva Maria Bethânia gravando É o amor, no disco A força que nunca seca.

Parece que não seca mesmo. Donos de uma numerosa lista de sucessos gravados em 16 discos – tirando DVDs, coletâneas, trabalhos ao vivo e outros feitos para o mercado internacional -, eles já venderam mais de 15 milhões de discos. O mais novo deles, de 2010, é Double Face. Tal qual dito no título, trata-se de um disco duplo dividido entre canções inéditas e regravações. No caso das primeiras, a música de trabalho foi Tapa na cara, um pedido de perdão apaixonado vindo de alguém que já sabia o que esperar como resposta. Já as regravações eram um sonho antigo de Zezé, que era homenagear os artistas que abriram caminho para que o sertanejo fosse sucesso, como Chitãozinho & Xororó, João Mineiro & Marciano, Trio Parada Dura e Christian & Ralf. Seja na regravação ou no repertório próprio, o que interessa é que não vão faltar casais apaixonados para alimentar o coral da noite de amanhã. Afinal, é o amor…

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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