Olá, queridos leitores. Após uma breve temporada de férias (20 dias de muita música nos ouvidos), o DISCOGRAFIA está de volta para mais um temporada de críticas, notícias e impressões sobre nossa música. Ao mesmo passo que julho se despediu levando consigo nossa diva black & white Amy Winehouse, o mês de agosto entrou com uma ótima notícia: os 70 anos de Ney Matogrosso. Começando pelo fim, afirmo, antes de qualquer coisa, que Ney Matogrosso é um dos maiores artistas que existe e existiu neste planeta. Exagero? Pois me mostre mais alguém que alie voz, performance e repertório com tanta maestria. Intérprete de voz aguda e corajosa, Ney é compositor bissexto (sim, ele compôs duas músicas para seu disco Bugre, de 1986) mas deu ares de autor na hora de defender pepitas douradas como Rosa de Hiroshima, Poema e Retrato Marrom (do nosso cearense Rodger Rogério). Com a criatividade sempre à flor da pele, ele também compôs um figurino exuberante, berrante e estardalhante que só encontrou eco pouco mais de década depois no também brilhoso e brilhante Michael Jackson. Por falar no americano, Ney e MJ também se assemelham na mestria com que usam o corpo para se apoderarem do palco. Num misto de provocação e sedução, eles pouco economizaram em ousadia na hora de se requebrar. Michael acabou sucumbindo diante do próprio mundo, enquanto Ney Matogrosso fecha suas sete décadas cada vez mais belo, provocante e lúcido. Sei que é desnecessário, mas quem dizer um dica para se iniciar na obra deste mato-grossense sugiro começar pelo clássico maior da sua discografia, o disco de estreia do trio Secos & Molhados (1973). O que você vai encontrar ali é um repertório explosivo que mistura rock, blues e MPB nas mãos de um cantor ainda em construção, reagindo aos próprios instintos, mas já demonstrando o que viria pela frente. Ave, Ney Matogrosso.

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And in the end…

Talvez a notícia mais triste que o mundo da música poderia receber, Amy Winehouse se foi. Incrível saber em pleno 2011, com tantas informações pipocando por aí sobre os efeitos das drogas no corpo, na alma e na sociedade, ainda perdemos grandes artistas para os exageros. E, sim, Amy foi uma grande artista. Das maiores dos últimos tempos. Lembro que na primeira vez que ouvi o disco Back to black, já depois de ler bastante sobre o fenômeno Amy Winehouse, fiquei no mínimo impressionado. Este fã colecionador de discos de soul music tradicional se viu diante de uma nova Esther Philips ou de uma nova Spanky Wilson. O susto é explicado qundo se descobre que aquela autêntica voz negra parte de uma cantora branca. Claro que não deve ser esquecido o mérito da espetacular banda The Dap Kings, que agora volta para sua dona original, a também maravilhosa Sharon Jones. Mas, enfim, ela era Amy Winhouse, cantora que com apenas dois discos, um DVD raríssimas participações em discos de outros artistas (a última foi em Duets II, de Tony Bennett, ainda inédito. A canção escolhida foi Body and soul) tomou os ouvidos do mundo de assalto. Acontece que a força dos excessos acabou levando esta divina cantora para a memória. Completamente doente e já bastante deformada, ela foi encontrada morta em casa no último 23 de julho. Se lançando no mundo artístico por volta dos 13 anos, ela deixou ir embora belas formas voluptuosas para mergulhar num coquetel de drogas e escândalos que vinham mantendo seu nome na mídia, mais do que sua música. Chegou a passar este ano pelo Brasil para uma sequencia de três shows bem fracos que só serviram para aqueles que estiverem presentes futuramente dizer para seus filhos. Mas, assim como num sonho, o mundo teve que acordar e deixar partir esta grande cantora que fazia o novo à moda antiga. Um link perfeito entre dezenas cantoras lendárias. Ella, Billie, Sarah, Thornton, Etta, tudo tinha espaço ali. A idade para sua morte não poderia ser mais emblemática: 27 anos, mesma idade com que Janis Joplin, Jim Morrison e Jimmie Hendrix e Brian Jones partiram. Não por acaso, todos também repartiram um “J” no nome (Amy era Amy Jade Winehouse de nascença). A sensação que fica é que, pra quem já vinha há tanto tempo dançando à beira do precipício, o destino não podeira ser outro. Ainda assim, quem não a queria por aqui por mais muitos anos? Agora só podemos desejar que ela tenha um bom descanso.

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About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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