Maria de Fátima Palha de Figueiredo completou na última terça-feira (9) seus 55 anos. Dona de uma voz poderosa e de dotes físicos marcantes, ela entrou para a música brasileira com o nome que reúne seu nome de batismo e sua terra natal: Fafá de Belém. Como forma de homenageá-la o blog DISCOGRAFIA abre hoje um projeto antigo. Trata-se da série Pra começar, que vai relembrar os discos de estreias de grandes artistas.

No caso de Fafá, sua estreia veio em 1976 com o ótimo Tamba-Tajá. Pra quem conheceu a cantora após os anos 80, tem na lembrança uma sequencia de sucessos populares em tons românticos exagerados. Pior, há quem a conheça por lambadas, bregas e sertanejos. Sem querer ofender os admiradores desses estilos, mas, certamente, não são eles que melhor representam a paraense. Isso pode ficar comprovado logo na primeira audição de Tambá-Tajá. Produzido pelo mesmo Roberto Santana que a incentivou no início da carreira, o disco traz 13 canções amarradas por uma proposta de valorizar ritmos e compositores do norte e nordeste brasileiro. Isso bem antes de ela apresentar seu sucesso Vermelho para o mundo.

O conceito do disco já vem resumido na capa de Aldo Luís, que fotografa Fafá em meio à mata, como uma índia. Logo na abertura, Indauê-Tupã joga uma batucada pura sobre uma letra quebrada de mensagens rápidas. Na sequência, a canção-título é uma toada de Waldemar Henrique que ilustra o conceito do trabalho. No verso, do LP Fafá assina um texto explicando a lenda do Tamba-Tajá, uma árvore amazônica de folhas macias “muito festejada pelos nativos, não apenas por sua graça e feminilidade mas, principalmente, por seus mistérios e segredos”. Mantendo as coisas na parte de cima do Brasil, Fafá acrescenta, com muita propriedade o forró buliçoso Xamego (Luiz Gonzaga e Miguel Lima) e a lânguida Ca-já (Caetano Veloso) ao repertório. No quesito destaque, três canções merecem ser ouvidas por diferentes motivos. Canção da Volta (Antônio Maria/ Ismael Netto) é um lamento de amor acabado que, embora adiante suas futuras dores de cotovelo, mostra uma cantora segura no seu recado. A modinha Pode entrar (Walter Queiroz) é uma das peças mais doces da música brasileira, toda sublinhada por flautas e violões. Encerrando o disco, Fracasso (Mário Lago) ganha uma voz sussurrada, melancólica, que tira o clima pesaroso da letra (“Só me restou da história triste deste amor a história dolorosa de um fracasso”). Trazendo ainda outros batuques e estilos, Tamba-Tajá foi um bom cartão de visitas para a cantora então estreante. Não à toa, foi também um sucesso de crítica e público. Muita coisa mudou em Fafá depois disso. Mas, pra quem viu o DVD Fafá de Belém ao Vivo (EMI, 2007), pode ter certeza que aquela índia de tempos atrás ainda mora ali e pode aparecer a qualquer momento.

P.S.: O primeiro sucesso de Fafá de Belém foi com a rebolada Filho da Bahia, incluída na trilha da novela Gabriela. A canção foi composta por Walter Queiroz, o mesmo de Pode entrar.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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