Creio que não haja dúvidas de que, entre os quatro Beatles, Ringo Starr sempre foi o mais sem sal. Enquanto os outros três encontraram uma linha própria de composição e sustentaram carreiras independentes de sucesso, o baterista de nariz engraçado se manteve às custas dos sucessos da banda famosa. Seus discos solo quase sempre são uma reunião de amigos para dar uma força às faixas, no melhor estilo “With a little help from my friends”. Ainda assim, ele está por aí fazendo show, como os sete que vem trazer para o Brasil este ano. E foi por da primeira vinda de Ringo Starr que a Discobertas colocou nas lojas o disco Ringo! Peace & Love, com artistas brasileiros recriando canções do baterista ou que foram cantadas por ele em algum momento. O tributo faz parte de uma série de discos lançada pelo selo, sempre com produção do beatlemaníaco Marcelo Fróes, recriando a obra dos rapazes de Liverpool. Dessa forma já vieram tributo à John, Paul, George, até Yoko. Ringo! traz apenas 12 faixas (o mais magrinho de todos), das quais sete são inéditas. Apesar da economia de regravações e da obviedade das músicas selecionadas (quase todas canções interpretadas pelos Beatles), o disco é interessante. Não mais que isso. Entre as não inéditas, Zé Ramalho empresta It don’t come easy (tirada do seu tributo particular aos Beatles também lançado pela Discobertas – esse sim empolga), e a releitura viajandona de Good night feita pela banda Ampslina tirada da versão indie do Album branco (2008). Já entre as inéditas, o grande lance foi não mudar muita coisa. Ou seja, não mexer no que já é clássico. A exceção a esta regra veio pela voz feroz de Taís Alvarenga que fez do rock I wanna be your man um blues eletrizado e poderoso que mistura Linda Perry (4Non Blondes) com Janis Joplin. Já os Vibraphones embarcaram num Submarino Amarelo em versão em nacional escrita pelo jovem guarda Albert Pavão, mas que permaneceu inédita até então. Ficou bem curiosa, principalmente por conta da voz agudíssima de Dafne Boms. Já os capixabas Vix Beatles (BoysHoney don’t) e Clube Big Beatles (Act naturallyWhat goes on) assumem a postura descaradamente cover e repetem tudo tim tim por tim tim. Pra encerrar tudo, enquanto Zé Ramalho levou It don’t come easy para o terreno forrozeiro de Luiz Gonzaga, Aggeu Marques e os Yesterdays respeitam o original e fecham o disco com mais um cover. Pra alguém como Ringo Starr, que nunca gozou do mesmo respeito dos colegas, tá de bom tamanho.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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