É muito comum entre os artistas buscar datas redondas para fazer homenagens. Os Rolling Stones estão programando a comemoração dos 50 anos de carreira, assim como os discos Nevermind e Achtung baby, respectivamente Nirvana e U2, estão completando 20 anos com edições especiais. Também há quem não ligue tanto assim pras efemérides. Celso Fonseca e Ronaldo Bastos, por exemplo. Eles estão colocando nas lojas o disco Liebe Paradiso, uma releitura de Paradiso, segunda parceria do guitarrista e do poeta, lançada há 17 anos. Adotando uma linha “Bossa Nova tipo exportação”, o disco trazia arranjos refinados, realizados por músicos de altíssimo gabarito, mas deixava a desejar em emoção. Muito disso era por conta da voz monocórdica de Celso.

É nesse ponto que o projeto Liebe ganha peso. Produzido pelo  carioca Duda Mello e pelo uruguaio Leonel Pareda, o disco traz novos músicos, novos arranjos e vozes melhor dotadas para dar nova vida às canções. O destaque fica para Nana Caymmi, reinando absoluta em Flor da noite. Há ainda Paulo Miklos, Milton Nascimento (única voz convidada em 1997), Luiz Melodia e Adriana Calcanhotto. De quebra, Liebe traz O tempo não passou e A thing of beauty, gravadas originalmente em Sorte (1994) e Juventude/ Slow Motion Bossa Nova (2002).

A dupla Celso e Ronaldo lançou três trabalhos, sempre nessa linha meio bossa, meio lounge. O estilo faz sucesso no calçadão de Copacabana e agrada turistas. Fora do Rio de Janeiro, chegou a fazer algum sucesso quando a faixa Slow Motion/ Bossa Nova, do disco homônimo, fez parte de uma propaganda de chinelos com a Gisele Bündchen. Agora, se querem uma dica de verdade, ouçam a faixa Ledusha com Diamantes, uma pérola desse mesmo disco.

Agora acompanhem o faixa-a-faixa de Libe Paradiso:

1- Paradiso – Cantada pelo próprio Celso, mas com uma nova entonação. O ritmo original saiu pra entrar um clima etéreo. Por sorte, manteve-se o espetacular solo de trompete do saudoso Márcio Montarroyos.

2- Flor da noiteNana Caymmi reina sobrerana numa canção aparentemente feita para sua voz. A voz única da baiana carioca dá nova vida à versão original. Ponto também para as orquestrações sintetizadas de Sacha Amback.

3- Candeeiro – Das canções interpretadas por Celso, esta é a melhor. Mantendo a abertura climática, a canção ficou mais eletrônica, mas mudou pouco a intensão.

4- Quanto tempo/ Minos/ Vento azul – Com a desão de Antônio Cícero, convidado para recitar uma poesia incidental, a canção altera pouco, a não ser deixar mais limpo o vocalise de Milton Nascimento.

5- Você não sacou – Com cara de rock, o convidado da faixa é Paulo Miklos. A letra é uma agressiva sucessão de brados contra a mulher que partiu. A interpretação teatral do titã dá nova vida à composição.

6- Out of the blues – Tal qual diz o nome, trata-se de um blues elegante recantado por Celso. A adesão de Jota Moraes no vibrafone aumenta o clima nostalgico desta homenagem a Dorival Caymmi.

7- Ela vai pro mar – O fender rhodes é de Marcos Valle e a voz de Luiz Melodia. O que se pode dizer mais? Uma bossa com cara mais pra Ipanema que pra Copacabana. Disputando a vaga de melhor do disco.

8- O tempo não passou – Composição exclusiva deste Liebe. A voz doce de Adriana Calcanhotto justifica tudo. A letra versa bem sobre a solidão e a saudade. No instrumental, Domenico, Jacques Morelembaum e Eduardo Souto Neto.

9- Denise Bandeira – Homenagem à atriz carioca. O samba se mantém, mas ganhou corpo com Marcelo Mariano (baixo), Jorjão Barreto (órgão), Marçal (percussão) e Sacha Amback (sintetizador)

10- PolaroidsSandra de Sá leva a canção pras pistas e faz dance music com clima setentista. Grande voz que nem sempre encontra um repertório à altura.

11- Alma de pierro – Antiga balada acústica, ganha novo banho instrumental. Celso canta.

12- A thing of beauty/ Juventude – Com clima de canção de ninar, a canção de letra em inglês encerra o disco em clima de delicadeza. O piano é do inacreditável João Donato. Celso divide os vocais com o cantor bissexto Ronaldo Bastos.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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