Marina de La Riva (fotos dos ensaios por Priscila Lima) não é uma mulher fácil. Com todo o respeito, é claro. Digo isso pois, apesar de ser toda sorrisos durante uma conversa (quase) informal, ela sabe exatamente o que tem pra dizer e não entrega o jogo antes da hora. Por isso mesmo, poucas linhas a seguir vão entrar nos detalhes do novo disco que ela prestes a lançar, com produção de Pepe Cisneros e Pupillo (Nação Zumbi). Mesmo que o sucessor do Ao Vivo Em São Paulo (2010) esteja programado de chegar às lojas nas próximas semanas, ela ainda não revela pistas sobre o repertório nem o título.

Por enquanto, o único assunto em pauta é o show que ela vai fazer hoje junto com a Orquestra Contemporânea do Ceará, regida pelo maestro Alfredo Barros. A apresentação única, promovida pelo Minc via Lei Rouanet, acontece no palco do Teatro Via Sul, com apoio do Jornal O POVO. “É um projeto grande e um sonho de muitos que vai se realizar”, confessa Marina que já está na Cidade desde a semana passada. Após ensaios separados com a própria banda e depois com a Orquestra, todos se encontraram no auditório da Universidade Estadual do Ceará pela primeira vez na última segunda-feira (23) para ver no que daria a mistura.

Filha de pai cubano com mãe mineira, a carioca Marina de La Riva estreou em 2007 com um disco elegante que trazia ao longo de 14 faixas os sotaques da sua ancestralidade. Três anos depois, ela releu o mesmo repertório e acrescentou temperos num lançamento ao vivo. Com leveza e sensualidade, ela mistura Ernesto Lecuona e Carmen Miranda, samba e rumba, marmeleiros e chancleteras. E essa será a base do show desta noite, somado com algo do novo disco e algumas surpresas, como Contigo aprendi e a participação do sanfoneiro Zé do Norte.

“Uma série de fatores foi acontecendo para começarmos esta turnê por Fortaleza. Eu adorei. Ainda não tinha tido oportunidade de conhecer a cidade como estou conhecendo agora”, conta Marina. De fato, sua participação no Festival de Cultura da UFC, em outubro de 2011, foi uma surpresa geral. Convidada para abrir a programação, ela mesma não acreditava na receptividade calorosa do público. Em retribuição, agradeceu com charme, improvisos, mudanças no roteiro e grandes canções.

Esse retorno ao Ceará, depois de três meses, é um início de um novo projeto em que pretende encontrar com várias orquestras brasileiras (e internacionais, quem sabe). No caso da de Fortaleza, ela foi só elogios. “Eles todos são ótimos. Super disciplinados, competentes, talentosos”, comentou a cantora que vai subir ao palco cercada por 54 músicos da Orquestra que tem apenas dois anos de história.

Sem economizar elogios, o maestro Alfredo Barros revela que o encontro surpreendeu a todos. “Como nós somos os primeiros no projeto dela, foi um privilégio. O resultado sonoro está de primeira qualidade. Estamos impressionados”. Ele ainda acrescenta que o convite vai coroar um novo momento da Orquestra Contemporânea do Ceará, que vai deixar de existir hoje mesmo. Após um ato do reitor Francisco Moura Araripe, agora o grupo vai se chamar Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual do Ceará, com direito a ajuda de custo para os músicos. “De fato estamos fazendo história. É a primeira orquestra sinfônica pública do Estado. Isso é muito importante”, comenta o maestro que, embora não conhecesse Marina de La Riva, vê nesse convite uma confirmação do trabalho da Orquestra. Por outro lado, Marina também não conhecia muito sobre a música cearense. Mas, depois de ouvir os discos Massafeira, Chão Sagrado e Meu corpo, minha embalagem, tudo gasto na viagem, e de ver a resposta do público, é certo que seus laços com Fortaleza vão ficar ainda mais fortes.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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