Uma movimentação diferente tomou conta do Shopping Via Sul na última quinta-feira (26). Por volta das 20h, uma enorme fila já estava formada em frente ao teatro da casa, com jovens e senhores cantarolando músicas latinas. O motivo da cantoria é que dentro de uma hora subiria ao palco a cantora Marina de La Riva (foto: Kleber Gonçalves) estreando uma nova turnê onde pretende encontrar várias orquestras pelo Brasil e, quem sabe, pelo mundo. Em Fortaleza, a escolhida foi a Orquestra Contemporânea do Ceará, regida pelo sereno maestro Alfredo Barros.

Dona de uma voz doce e segura, a cantora carioca filha de cubano com mineira é um exemplo para o Ministério das Relações Exteriores ao unir canções cubanas e com sotaque jazzista americano, sem perder a bossa brasileira de vista. Com uma pontualidade de corar os famosos atrasadinhos, o primeiro toque para o início do show foi dado exatamente às 21h. Com os músicos já a postos atrás dos seus instrumentos, Marina de La Riva subiu ao palco pouco depois ao som de Central Constancia. Nem precisou terminar a primeira música, a casa totalmente cheia já estava aos seus pés.

Marina, estonteante num vestido longo vermelho, seduziu seus ouvintes por mais de uma hora. Ao seu redor, um som esplendoroso envolvia todos que estavam reunidos ali. Era algo em torno de 60 músicos, somando banda e orquestra, interpretando bossas e boleros capazes de amolecer até os corações mais duros. Numa espécie de recital latino, o repertório incluiu pérolas conhecidas como Pedacito de cielo e Tu me acostumbraste, esta última com uma participação inesperada do pai da cantora, que cantou do seu canto na plateia. “Quando dois de La Riva se juntam dá nisso”, brincou a filha emocionada. Adiantando Idílio, disco que está prestes a ser lançado, ela mandou Assum preto, numa interpretação que ressaltou o tom trágico da letra, e Ausência, canção de Vinícius de Moraes e Marília Medalha lançada em 1972 no disco Encontro e Desencontro. Até o Rei Roberto Carlos teve sua Desabafo vertida para o espanhol, numa interpretação arrepiante.

Um destaque especial tem que ser dado à Orquestra Contemporânea do Ceará. Executando com perfeição os arranjos cinematográficos a la Henry Mancini, os músicos provaram que nem só de forró se faz o nosso Estado. Isso ficou claro numa interpretação de Drume negrita, que deixaria Mercedes Sosa orgulhosa. “Se tiver gente de dinheiro na plateia que queira investir em cultura, aqui tem um grande futuro para o Ceará”, alertou o maestro Alfredo Barros lembrando que agora a orquestra se chama Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual do Ceará.

“Isso é um mar de música”, elogiou Marina de La Riva (Foto: Priscila Lima) que foi se encaminhando para o fim. O encerramento foi em alto estilo com Adeus, Maria Fulô, de Sivuca e Humberto Teixeira. Convidando ao palco o sanfoneiro Zé do Norte, sugerido por Alfredo Barros, a apresentação terminou em clima de arrasta-pé, com Fortaleza encantada e já esperando um novo encontro, como aquele que havia acabado de acontecer.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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