Dono de uma privilegiada voz de tenor, Elymar Santos sempre teve seu nome ligado a um repertório de tons exageradamente cafona. Mesmo em momentos mais felizes do seu canto, o estilo kitsch nunca lhe abandonou por completo. Mesmo assim, ele trilhou uma carreira sólida que começou numa ousada jogada de mestre. Em 1986, depois de anos cantando em bares e restaurantes, ele, um desconhecido do mainstream com uma boa carta de fãs, decidiu alugar o nobre palco do Canecão para uma única noite. Era 30 de outubro e no dia seguinte ninguém menos que Maria Bethânia subiria no mesmo palco. O resultado da empreitada foi um passaporte carimbado para o sucesso popular. O espetáculo batizado Assim somos nós virou CD editado pela finada Arca Som e que agora volta às lojas pelo selo Discobertas. O repertório do espetáculo vai do óbvio a momentos curiosos, como uma versão rock para Mabembe (Chico Buarque). Para exibir a boa voz citada no início deste post, Corsário é um momento luminoso, apesar de ser uma canção sempre usada por artistas que querem mostrar o poderio do seu gogó. O blues cabaré Vários casos é uma boa composição de Eduardo Dusek feita sob medida para a voz clara e límpida do intérprete. que parece ter sido feito por Um escorregão acontece em Yolanda, também de Chico, quanto Elymar troca “caudalosa” por “cautelosa”. Da sua porção compositora, o artista apresenta Lucidez e Loucura, Assim somos nós e Cachaça, todas com forte acento kitsch. As duas últimas, inclusive, são reapresentadas em versão estúdio (junto com Coração) tirada de um compacto lançado naquele mesmo 1986. Se o relançamento não vai tirar a pecha brega que grudou forte em Elymar Santos, é certamente uma homenagem merecida a um cantor que venceu o ostracismo com coragem e muito trabalho.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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