Um dos nomes mais importantes da cena roqueira cearense, a banda Renegados chegou aos 19 anos fazendo o que mais sabe: rock puro. Carregando influências da era de ouro de estilo americano (mais precisamente nas décadas de 1960 e 70) e da matriz nordestina, eles criaram um som limpo e seco, que mistura Jimi Hendrix com Luiz Gonzaga, Raul Seixas com Ave Sangria, Yes com Jackson do Pandeiro. Um resumo dessa ópera de sotaques está no disco Além dos Rótulos, que o grupo apresenta esta noite (19h) na Livraria Cultura.

Além dos rótulos vem nove anos após A essência e 11 anos após a estreia com Sem Fronteira. Mantendo o discurso apontado para as questões políticas e filosóficas da sociedade, o novo trabalho vai mais fundo na proposta de ampliar a linguagem do rock com outros sons de base nordestina. Ao longo de 15 faixas – parte gravada ao vivo e parte em estúdio – eles, sem querer criar um novo estilo ou um novo rótulo, agregam maracatu e viola caipira à linguagem universal do rock. “Nesse disco, a gente colocou essas influências com mais evidência, tudo que a gente ouviu durante nossa formação”, explica o guitarrista e vocalista Marcelo Pinheiro, lembrando também ser neto do violeiro Hercílio Pinheiro.

Responsável pela maior parte das composições, Marcelo segue com a caneta apontada para as feridas sociais. “A multidão vivendo à linha da miséria enquanto o deputado aumenta o seu próprio salário”, dispara ele em Ataque Blues. Já George Bush entra na mira em Iraque (“Ambição e arrogância de um jogador sem limites massacrando em cenas tristes um povo já massacrado”). Em rimas secas e palavras duras, ele discorre sobre temas variados tendo sempre uma mensagem guardada. “Não estamos querendo ser um disco panfletário. Gosto de escrever de uma forma ampla e aberta pra fazer as pessoas interpretarem da própria maneira, sem dizer o que é certo ou errado”.

Para emoldurar esse discurso, o Renegados conta ainda com Ricardo Pinheiro (bateria e voz) e Romualdo Filho (baixo e voz). Eles ainda se revezam nos instrumentos e ampliam as possibilidades do power trio agregando violões, gaita, vocais. Fieis aos melhores momentos da música internacional, eles optam por ainda usar amplificadores valvulados, no lugar dos equipamentos mais modernos. “Mas não é uma banda que faz revival. É que os amplificadores valvulados têm um som mais consistente, quente, aveludado, mais apurado”, esclarece Marcelo.

Além do resultado do novo disco “lapidado a mão”, o guitarrista também comemora os bons ventos que vêm soprando para o rock que é feito no Ceará. “Fácil não é, mas tem melhorado bastante. Tem mais pessoas tendo acesso e ouvindo esse tipo de som. Comparando com quando a gente começou, hoje está mais amplo”, comenta ele acrescentando que não faz parte dos planos da banda tentar carreira fora do Estado. Pelo contrário, eles pretendem seguir firmes no Ceará com o som e o estilo que iniciaram 19 anos e que levaram a palcos importantes como o Ceará Music e a Mostra SESC Cariri, mesmo que pra isso tenham que “jogar nas 11” na hora de produzir um show. “Todo artista quer o reconhecimento, mas a proposta nunca foi o estouro. Por isso é Renegados. Queremos o reconhecimento, mas não a qualquer custo”, diz Marcelo encerrando o assunto.

Serviço:

O quê: lançamento do disco Além dos rótulos, terceiro trabalho da banda cearense Renegados

Quando: hoje (29), às 19h

Onde: Livraria Cultura (Av. Dom Luís, 1010 – Meireles. No Shopping Varanda Mall)

Quanto: Aberto ao público (90 lugares)

Preço do disco: R$ 20

Outras informações: 40080800

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles