Na última quarta-feira (28), Maria Bethânia reuniu a imprensa brasileira para apresentar seu novo trabalho, o Oásis de Bethânia. O 50º, incluindo compactos, de uma carreira que já dura honrosos 47 anos. Num dia de céu nublado e chuva constante, o encontro se deu numa bela casa do bairro carioca de Botafogo, onde funciona a gravadora Biscoito Fino, responsável pelo lançamento.

Com cerca de 15 minutos de atraso, a cantora entrou na sala pisando uns dois palmos acima da terra. Mesmo trajada com simplicidade – camiseta branca, calças pretas, longo blazer vermelho e uma echarpe cor-de-rosa logo deixada de lado –, Bethânia não perde o ar de diva, apesar de repetir que é apenas uma “cantora de música popular”. Senta-se, brinca com um ou outro e mescla no semblante ares de seriedade, mansidão e disposição.

“É só isso que sei fazer. Sentar e conversar com as pessoas”, resume Bethânia que prefere um contato mais próximo do que as frias entrevistas por email. E foi na busca pelo mesmo calor que a baiana montou seu Oásis. “Eu queria estar mais perto dos músicos. Queria algo bem nu. De preferência, seria só voz e um instrumento. Se eu soubesse tocar, seria só eu e o instrumento”, explicou ela logo de início.

Partindo dessa ideia, ela foi escolhendo formações diferentes para cada canção. Diferentes e mínimas. A primeira selecionada, Lágrima (Cândido das Neves), que abre o disco, é acompanhada apenas pelo bandolim virtuoso de Hamilton de Holanda. “Essa já veio pronta com o músico. Eu queria essa elegância dele”, comentou a anfitriã.

Crédito: Tomas Rangel

Como nem todas as canções do Oásis de Bethânia vieram assim tão fáceis, ela contou bastante com os conselhos do baixista cearense Jorge Helder. “O Jorge é um estudioso. Ele veio com todo o prazer e foi sugerindo nomes”, elogia. De Alagoas veio Djavan com a inédita Vive, que traz o próprio compositor no violão. Da Bahia, Roque Ferreira, compositor obrigatório na obra recente da intérprete, veio Casablanca, Barulho e Fado. Esta última com os violões e violas do maestro Jaime Além. Do Rio de Janeiro, Chico Buarque ganha nova interpretação para Velho Francisco, guiada pelo violão de Lenine. “A versão do Chico é mais leve. E eu queria que doesse mais. Então chamei o Lenine, que tem uma pegada que é uma coisa, menino”. 

Uma novidade apresentada neste Oásis de Bethânia é um texto de próprio punho, intitulado Carta de Amor, que mais parece um recado a quem lhe critica. Apesar de ser um assumida fã de poesia – “Fernando Pessoa é o meu poeta” -, esta é a primeira vez que a cantora bota uma composição sua em disco. “Escrevo muito, desde pequena, mas queimo tudo. Escrevo pra me preservar da visibilidade. Mas não queimo por medo. Queimo por que purifica”, explica completando que já o Brasil já tem muitos bons poetas.

Com o disco lançado, Maria Bethânia espera pelo próximo semestre para iniciar a nova turnê. Embora sem saber onde, a Bahia está fora dos planos. “Meu pai sempre dizia que santo de casa não faz milagre”, justifica. Puxo a brasa pra sardinha cearense e sugiro começar por Fortaleza. “E por que não? Faz muito tempo que não vou lá”. Mais precisamente em 2008, quando cantou ao lado de Omara Portuondo. “Há! Pois tá na hora de voltar mesmo. Gosto muito daquilo ali”. Agora é só esperar.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles