Nem bem começou a apresentar seu novo disco, Black Heart, Dinho Ouro Preto começou a emendar elogios à banda Selvagens à Procura de Lei. Segundo o vocalista do Capital Inicial, em entrevista exclusiva para o DISCOGRAFIA na semana passada, ele entrou em contato com o som dos cearenses por sugestão do produtor David Corcos, responsável pelo novo trabalho solo do cantor. “É a banda que mais me deixou de boca aberta nos últimos tempos. To vendo se faço uma produção, uma apadrinhada, por que precisa de renovação no rock brasileiro”, comentou Dinho que ainda pretendia passar no estúdio paulista onde os Selvagens estavam trabalhando para lhes “apertar a mão”. Formada por Gabriel Aragão (vocais e guitarra), Rafael Martins (vocais e guitarra), Caio Evangelista (baixo) e Nicholas Magalhães (bateria), os Selvagens à Procura de Lei lançaram em 2011 o disco Aprendendo a Mentir, gravado em Recife e mixado em São Paulo. A intinerância, além de alguns shows, rendeu uma estreia bem cantada, bem tocada e bem ouvida num som limpo. Apostando numa linguagem universal do rock, cheia de energia e bons riffs, eles reuniram 13 faixas autorais aceleradas que não deixam a bola murchar ao longo de 43 minutos. Deixando de longe as baladas, Aprendendo a Mentir tem como um dos pontos altos o balanço de Adeus é tudo que eu preciso ouvir de você. Presença garantida em muitos eventos pelo Ceará, o quinteto também garante momentos luminosos nas letras, como no desabafo Casona. Embora Gabriel quase não alcance as notas mais altas, Jamoga também mistura suingue, letra (“Nós éramos dois becos que se procuravam, seguindo caminhos separados”) e originalidade. Produzido com uma certa linearidade de tons, sem monotonia, Aprendendo a Mentir carece de pontos baixos. Não por ser um clássico da rock nacional. Ainda não. Mas por trazer uma boa dose de sinceridade e simplicidade, ponto alto de bons trabalhos feitos sem muita pretensão.

Outra banda citada por Dinho Ouro Preto como sendo um ponto alto dos novos tempos do rock nacional (embora venha depois dos Selvagens na sua lista de preferências), o Vivendo do Ócio é um quarteto baiano formada em 2006 que também tem uma pegada vigorosa que transita por várias épocas do rock. Lançando seu terceiro disco, O Pensamento é Imã, pelo selo Vigilante da Deck Disc eles têm ao lado uma produção mais refinada entregue nas mãos de Rafael Ramos e Chuck Hipolito. Isso não significa necessariamente que seja um trabalho melhor do que o dos companheiros cearenses. As três primeiras faixas são um teste de energia e velocidade, com destaque para o punk/country Tudo que eu quero (Eu quero uma vida toda pra jogar pela janela). Em seguida, Nostalgia desacelera e conta com a presença econômica de Pitty nos vocais e Martin nas guitarras (leia-se, a dupla Agridoce). Pra confundir tudo, Dois mundos tem cara de fim de tarde, por do sol e saudade. Já O mais clichê tem um pé no Gipsy Kings e outro na novela O Clone. Pontuada por cajon, kazoo e charango, a faixa parece completamente deslocada de um disco de rock. No quesito letras, o Vivendo do Ócio é uma aula de filosofia “forever young”. O mundo é um parque, por exemplo, diz “O mundo é um eterno parque. As pessoas esquecem disso quando crescem”. E Por um punhado de reais afirma categoricamente: “Nas mãos uma guitarra e o necessário pra seguir. Não me bastou comer e dormir. Preciso me expandir”. Encerrando com mais duas faixas aceleradas, O Pensamento é um Imã é um bom disco de rock’n’roll, empolgante, feita para animar plateias.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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