Ele nasceu Celso Ricardo Furtado de Carvalho, em 5 de janeiro de 1956, mas foi como Celso Blues Boy que assinou seu passaporte para entrar de vez no seleto hall dos grandes mestres da música brasileira. Cantor, compositor e músico virtuoso, Celso escreveu uma trajetória única ao atrelar o som negro americano às brasilidades do País do Futebol. E foi cantando em português que ele viveu uma carreira de mais de 30 anos, interrompida na última segunda-feira, quando o artista faleceu vítima de um câncer de garganta.

Fumante incorrigível, Celso Blues Boy sofria com o câncer há cerca de um ano, mas preferia manter o assunto em segredo. Segundo o Serviço de Verificação de Óbito de Joinville (SC), cidade onde morava há mais de 10 anos, ele inclusive se negou a fazer os tratamentos necessários. Também foi uma decisão do músico que seu corpo não fosse velado e fosse encaminhado direto para o crematório de Blumenau.

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Carioca torcedor do Vasco da Gama, a carreira de Celso Blues Boy começou por volta dos 17 anos, quando ele passou a integrar a banda de Raul Seixas (1945 – 1989). É dele, por exemplo, o solo guitarra em Se o rádio não toca, parceria do ídolo baiano com Paulo Coelho. Dono de um estilo seguro de dedilhar seu instrumento, ele ainda gravou com nomes como Luiz Melodia, Renato & Blue Caps e Sá & Guarabyra. Outro fã de blues, Cazuza (1958  – 1990) chegou a dividir com Celso a explosiva Marginal, do disco Marginal blues (1986).

Como artista solo, o guitarrista passou a ser reconhecido na década de 1980. “Eu era uma alternativa no meio do escracho da música pop”, comentou ele, em 1996, à Folha, sobre a geração conhecida como BRock. O primeiro dos seus 15 discos veio em 1984, Som na Guitarra, e já trazia sucessos como Aumenta que isso é rock and roll e Brilho da noite. Dez anos depois, no disco Indiana Blues, ele recebeu seu ídolo B.B. King (motivo, inclusive para o apelido Blues Boy) na faixa Mississipi, em homenagem a outro herói do gênero, Robert Johnson. Em seguida, B. B. e Blues Boy acabaram ficando amigos.

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Veterano dos palcos nacionais e internacionais, a última passagem do músico por Fortaleza aconteceu em 2010, dentro da programação do Oi Blues By Night. A apresentação, que aconteceu no Acervo Imaginário, acabou sendo interrompida logo no começo por conta de problemas técnicos. Sem sobressaltos, Celso deixou o palco e foi para a calçada fumar um cigarro e trocar uma ideia com o músico pernambucano Otto, que chegou de surpresa para conferir a apresentação do blueseiro. Um encontro inusitado que poderia ter rendido muita música.

Representantes do blues cearense comentam a morte do músico:

Arthur Menezes

“O som dele era rock, mas foi um dos primeiros caras a tocar blues. Ele foi pioneiro não só no blues, mas na guitarra brasileira. E o lance dele era fazer blues em português e isso é muito difícil. Era um cara muito do bem. Uma pena ter morrido tão cedo”.

Roberto Lessa

“A importância do Celso é porque ele é o Colombo do blues aqui no Brasil. Algumas pessoas já faziam alguma coisa, mas ninguém era um Blues Boy. Hoje existe muita gente se destacando nesse cenário (do Blues), mas não com o carisma dele”.

Marco Aurélio

“Fiz um show com ele por volta de 1987, no Circo Voador. Passamos das 15h às 18h esperando pra ensaiar, mas ele só chegou às 19h. O cara era cara gente boa, já chegou bem extrovertido com um casaco tipo terno e os bolsos cheios de garrafinhas de whisky. Ele dizia, ‘minha música é regada a whisky’”.

Discografia:
1984 – Som na guitarra.
1986 – Marginal Blues
1987 – Celso Blues Boy 3
1988 – Blues Forever
1989 – Quando a noite cai
1991 – Ao vivo – Celso Blues Boy
1996 – Indiana Blues
1998 – Nuvens Negras Choram
1999 – Vagabundo errante
2008 – Quem foi que falou que acabou o rock n’ roll?
2011 – Por um monte de cerveja

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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