Pra muita gente, Negra Li foi apresentada através da canção Não é Sério, interpretada ao lado do Charlie Brown Jr no último disco de fato interessante da banda. Morena bonita de voz sedutora, ela mostrava um discurso afinado e politizado de quem conhecia bem a dura realidade das minorias. Escolada em corais de igreja (evangélicas) e grupos de RAP, como o fundamental RZO, ela usou o espaço que teve ao lado dos conterrâneos paulistanos para seguir carreira e logo tacaram nela o posto de musa da black music brasileira. Aí veio, em 2005, um disco com o companheiro de RZO Helião, onde conectava sua estrada também com a de Marcelo D2. Guerreiro, Guerreira, o disco, teve vida curta e logo no ano seguinte veio Negra Livre, com canção título de Nando Reis e participação de Caetano Veloso. Mais perdida do que… vocês já sabem, ela agora lança Tudo de Novo, pela Universal Music. A produção de Rick Bonadio já entrega boa parte dos pontos. Homem à frente de bizarrices como Bro’z, Rebeldes, Fresno e Hateen, ele sempre ataca numa linha que mescla qualidade técnica com pasteurizações e sucesso rápido, custe o que custar. Vide seu dedo no disco de estreia dos Los Hermanos, aquele que nem a banda suporta mais ouvir. E foi essa a fórmula que ele tentou colar em Negra Li. Cercada de programações eletrônicas e letras apaixonadas, o disco veio para alimentar alguns novos shows e passar batido. Tudo de Novo é um trabalho pop no sentido mais próprio do termo e em muitos momentos lembra os trabalhos de Luciana Melo, inclusive pela semelhança das vozes. No entanto, Luciana já batalha nesse ramo de pop açucarado há muitos anos e, sempre que pode, foge para uma variedade que aumenta a qualidade do seu trabalho. É exatamente o contrário que acontece com Mrs. Li. Vinda de uma proposta crítica, ela se volta para o pote de açúcar com tanta vontade que decepciona. Das 11 faixas de Tudo de Novo, título que já transparece certo cansaço, apenas uma canção de fato surpreende e poderia apontar um novo caminho para a bela moça. Trata-se de Como iguais, composição do titã Sérgio Britto, que ganha um acento jazzístico elegante com baixo acústico e piano. De Leo Jaime e Leoni, Fotografia também ficou bonitinha, mas muito pouco se afasta das leituras dos autores. Pra encerrar, Culto ao Amor ganha delicada interpretação somente ao piano, mas se perde na falta de naturalidade em detrimento de uma necessidade de expor dotes vocais. Um tiro pela culatra que embota, mais uma vez, o talento de uma boa cantora.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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