Tivesse nascido na América do Norte ou na Europa, Luiz Gonzaga hoje seria celebrado como o grande popstar que de fato foi. Mas deu ele de nascer no Brasil, terra que trata com pouco respeito seus vultos, e pouco tem sido feito para marcar os seus 100 anos de nascimento. Um tributo aqui ou um livro ali, mas pouco de fato tem sido feito para ajudar a desvendar quem foi aquele homem que cantou o Nordeste na sanfona.

Já próximo do dia oficial do aniversário do velho Lua, dia 12 de dezembro, um alento veio com o filme Gonzaga – De pai pra filho. Dirigido por Breno Silveira, o filme alinha momentos tristes e cômicos para retratar a relação tortuosa do Rei do Baião com seu filho, o também cantor e compositor Gonzaguinha (1945 – 1991).

Criado no morro de São Carlos, no Rio de Janeiro, a custa de favores de amigos, Gonzaginha precisou quase de vida inteira para descobrir o amor do pai, um astro que vivia de palco em palco. Enquanto isso, Gonzagão escolheu a estrada como um paliativo para esquecer a morte de Odaleia dos Santos, mãe de Gonzaguinha, vitimada pela tuberculose. Embora fosse uma entre as muitas mulheres do sanfoneiro, ela é retratada no filme como o grande amor da vida de Luiz.

A história, já bem conhecida do público, ganha proporções na telona logo no início, quando Gilberto Gil, em off, dá as boas vindas para a película. O que se vê dali em diante é um intercalar situações que seriam corriqueiras, não estivessem todas elas nas mãos de dois saudosos artistas brasileiros. A luta pela sobrevivência, defesa da honra, machismo, abandono, tudo faz parte do cordel que conta a história de Luiz Gonzaga, interpretado por três pessoas com pouca ou nenhuma experiência cênica. No entanto, o que lhes falta em técnica, sobra em sinceridade.

Já Gonzaguinha chega a assustar logo nas primeiras cenas do filme. O trabalho feito pelo ator Júlio Andrade é realmente impressionante. Reproduzindo os gestos, a magreza, o olhar triste, a barba falha, até a voz rouca, ele parece ressuscitar o cantor que nos deixou prematuramente num acidente de avião. Não por acaso, é justamente nos seus momentos de embate com o pai que fica difícil segurar as lágrimas.

Cortado por imagens raras do verdadeiro Rei do Baião, Gonzaga – de pai para filho tenta ao máximo ser fiel à história do homenageado. Tem ainda o mérito de redimir o papel de Helena, ex-mulher do sanfoneiro considerada por muitos como uma megera que tentava separar pai e filho. Era, de fato, outra vítima da agenda pesada de Luiz. Mesmo que tenha sido criado com o intuito claro de emocionar multidões e que lance mão de recursos mitificadores, o filme de Breno Silveira mede palmo a palmo os limites do bom senso, e não se deixa cair na pieguice. Uma decisão certeira que faz jus à importância do seu Luiz Gonzaga.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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