Apesar da descoberta recente do grande público, a carreira de Filipe Catto já conta um bom tempo. Natural de Lajeado, no Rio Grande do Sul, ele cresceu em Porto Alegre numa casa sempre habitada por muita música. Filho de músicos, desde a adolescência ele se aventura pelos palcos cantando o que bem tinha vontade. Bares, botecos, casamentos, onde houvesse uma oportunidade, ele punha para fora o som, a princípio estranho, de uma voz aguda, feminina e ousada.

Cercado por comparações já bem batidas com Ney Matogrosso, ele lançou em 2011 o elogiado disco Fôlego, que apresentou este fim de semana, pela primeira vez, em Fortaleza. Absorvendo detalhes das grandes divas da música brasileira, como Elis Regina, Maysa e Dalva de Oliveira, o disco apresenta um artista, hoje com 25 anos, já bem seguro de como quer construir sua história.

Quanto às comparações com o ex-Secos & Molhados, elas devem se limitar aos tons agudos do contra-tenor e à entrega no palco. Bem mais interessantes, as diferenças começam quando, das 15 faixas de Fôlego, oito são de próprio punho. Cheias de passionalidade e imagens sinuosas (“meu corpo seja palco vertido e tomado em pelo à tua poesia”), as letras e melodias de Filipe caem como luva para uma interpretação que vai além da voz aguda.

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Se essa extensão vocal já fez escola em artistas consagrados, como Ney e Edson Cordeiro, e novos, como João Fênix e Rubi, não é esse o ponto mais importante para Filipe Catto. “Ta errado acreditar nessa bandeira da voz. Minha bandeira é outra, é musical. Se não, pode virar uma atração de circo”, comenta ele por telefone. Seguro do quer como artista, ele só se interessa no que pode fazer com essa voz. “Eu nunca tive esse estranhamento. A coisa do contra tenor é uma coisa mais externa. A busca da voz é um detalhe. Eu até tenho essa região (vocal) grave, mas machuca por que não é tão fluido. A voz é um veículo de expressão e eu acredito na voz diferente, mas aliada a uma ideia, uma estética”.

E essa aliança entre voz e estática ele explora ao máximo nos palcos. “Eu preciso do outro. Meu tesão é o palco. Gosto de fazer a coisa presencial. A troca é um fator que potencializa a composição”, explica ele lembrando que se descobriu em cena quando se mudou para São Paulo. Ainda assim, ele faz uma observação quando é dito que sua interpretação é teatral, posto que a atuação não é marcada e ensaiada. “Pra mim é muito tênue a linha entre o teatro e a interpretação (do cantor). É viver aquela letra. Eu não to muito preocupado com a forma, mas preciso do meu corpo quando to cantando. A interação com a luz, ela vem do momento, vem da letra. A coisa do teatral técnico cai por terra. Visceralidade cabe mais”, explica.

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E essa visceralidade ele procurou levar para seus discos. Fosse o EP de sete faixas lançado em 2009 ou em Fôlego, a ideia é que não houvesse diferença entre estúdios e shows. Para isso, Filipe teve o auxílio de um repertório onde alinha as próprias canções com alguns covers. No primeiro time está o primeiro hit, Saga, e Johnny, Jack e Jameson, uma homenagem a Amy Winehouse. E no segundo, novas interpretações para Dia perfeito, blues da banda gaúcha Cachorro Grande, e Garçon, sucesso do brega Reginaldo Rossi. Nos shows, ele também inclui Alazão, do cearense Ednardo.

Os planos agora são de registrar essa apresentação em CD e DVD, ainda sem planos para serem lançados. Feliz por atender às solicitações dos fãs para se apresentar pela primeira vez em Fortaleza, ele não tem tanta pressa em gravar coisas novas, mesmo que já tenha um material guardado. “É a primeira vez que vou tocar no Nordeste. Não espero a hora. O nordeste é o nosso deserto, é nossa Rota 66”, brinca.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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