Por mais que se fale na turnê pela Europa do Gusttavo Lima ou no show americano de Ivete Sangalo, é fato que, depois da Bossa Nova, quase nenhum artista brasileiro conseguiu se destacar no mercado internacional. As raras exceções a essa regra se dedicam a um mercado tão seleto, quase sempre jazzístico, que nem o Brasil de fato as conhece. Ainda assim, muitas parcerias continuam acontecendo.

Uma das mais ruidosas ultimamente foi com o crooner Tony Bennett. Sem lançar material inédito desde 2004, quando apresentou The art of romance, o americano de 86 anos vem se dedicando a rever o próprio repertório na série Duets, onde se encontra com artistas do porte de Paul McCartney e Stevie Wonder. Por conta do sucesso que o segundo volume dessa série (o que trazia a última gravação de Amy Winehouse) teve por estes lados do planeta, o cantor resolveu dedicar um terceiro número somente aos artistas latinos.

Embora três volumes seguidos demonstre certo cansaço, seria interessante se Viva Duets trouxesse Tony para uma levada mais quente (ou caliente) ou um repertório novo. No entanto, tirando as vozes de Christina Aguilera (um destaque em Sttepin’ out with my baby), Gloria Stefan e outros, não existem novidades na seleção de canções ou nos arranjos. No que toca ao Brasil, embora tenha se falado em Roberto Carlos e Vanessa da Mata, foram Ana Carolina e Maria Gadu as escolhidas pela gravadora para entrarem no disco. Repetindo os maneirismos já característicos, elas cantam, respectivamente, The very thought of you e Blue velvet.

É fato que Ana e Gadu não fazem feio, porém soam tão protocolares que nada acrescentam às faixas. Aliás, essa é a regra seguida pelos demais convidados, que (em alguns momentos) se limitam a verter as letras para o espanhol. A exceção a essa regra fica para a última faixa, Return to me (Regresa a mi), interpretada ao lado do mexicano Vicente Fernández. Dando uma de mariachi, Bennett deixa para o final a nota destoante de um disco que não é ruim, mas não chega a empolgar.

Mais conexões

O americano Jesse Harris também reforçou seus laços com o Brasil no recente e inspirado Sub Rosa. Compositor de Don’t know why, sucesso de estreia de Norah Jones, ele é também amigo de Maria Gadú e dividiu com ela a composição de duas faixas do disco Mais uma página (2011). Agora, ela retribui fazendo os vocais no folk meio blues I know it won’t be long, que traz o reforço de Vinicius Cantuária nas maracas. Embora as participações sejam discretas, elas acontecem na mesma medida das outras convidadas. Melody Gardot soa sensual na inocente Tant pis, enquanto Norah Jones empresta seus deliciosos sussurros em três faixas, incluindo Rocking chairs, uma parceria de Jesse com o leãozinho Dadi.

Querendo ir mais fundo na ideia de agradar os brasileiros, o grupo mexicano Maná também preparou uma seleção de convidados especiais para recriar alguns sucessos que seriam incluídos na coletânea Você é minha religião. No entanto, alguém esqueceu de avisá-los que os tais convidados não gozam de um prestígio muito grande por estes lados. Tidos como representantes do rock latino, com direito até a participação no último Rock in Rio, o Maná convidou os sertanejos Jorge & Mateus e Luan Santana, o pagodeiro Thiaguinho e a banda Jota Quest para recriarem respectivamente Você é minha religião, Porto do amor, Lábios divididos e Raiando o sol. Apesar das fotos com cara de mau, o resultado é tão inocente e insosso quanto o original. Curiosamente, o único roqueiro de verdade a entrar no disco, o guitarrista Carlos Santana, não é creditado na espetacular faixa Corazón espinado. Vá entender.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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