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“Não só um abraço grande. Mas um abraço espalhado, abrangente ou múltiplo”. Essa é a definição de Caetano Veloso para a palavra “abraçaço”. O termo, criado sob os caracóis dos cabelos deste baiano de 70 anos, tem tudo a ver com o seu novo disco e, por isso, foi escolhido para lhe dar nome. Abraçaço também ficou sendo o nome da turnê que vem viajando pelo Brasil desde mês passado e que chega esta noite a Fortaleza, em única apresentação no Centro de Eventos.

Para quem espera um show de grandes sucessos pra cantar junto, talvez Abraçaço não seja a melhor pedida. Acompanhado de um trio dos jovens músicos da BandaCê – Pedro Sá (guitarra), Ricardo Dias Gomes (baixo e teclados) e Marcelo Callado (bateria e percussão) –, Caetano mantém a sonoridade crua e gritada que adotou em 2006, com o disco . Essa mesma sonoridade já pegou o público de Fortaleza de surpresa, quando o artista passou por aqui para um show aberto no Parque do Cocó. A plateia sedenta pelos grandes hits radiofônicos teve que se contentar com uma ou outra canção espalhada pelo roteiro.

No entanto, mesmo sem o apelo de Você é linda ou Sozinho, o encontro de Caetano Veloso com a BandaCê tem todo o sentido dentro da discografia do compositor baiano. Processando todas as informações rítmicas que se atravessam em seu caminho, o tropicalista procura sempre apontar sua carreira para as mais variadas direções. Experimentando na produção, na literatura, no cinema, na performance, ele foi ampliando os horizontes botando mais molho em seus discos, que já passaram por Bossa Nova, samba, rock, pop e outros estilos.

_MG_6898 crop finalEm Abraçaço, esses elementos aparecem de forma inseparável. Um comunista homenageia o guerrilheiro baiano Carlos Marighella (1911 – 1969), para quem Caetano mandou uma carta póstuma através da revista O Pasquim. Funk melódico se aproxima do ritmo carioca, enquanto A Bossa Nova é foda aproxima João Gilberto de Bob Dylan. Já Estou triste levanta a bandeira da extrema melancolia, enquanto Parabéns é tão somente um email enviado pelo cineasta Mauro Lima por conta do aniversário de Caetano.

Mas o repertório do show desta noite também tem seus momentos para cantar junto. Tirada do álbum Uns (1983), Eclipse oculto já mereceu boa regravação do Barão Vermelho. Cazuza até brincava que, não fosse o Caetano, era ele quem teria feito essa música. Lançadas, respectivamente, por Gal Costa e Maria Bethânia, Mãe e Reconvexo ganham, pela primeira vez, a voz do autor. O mesmo acontece com Alguém cantando, lançada no disco Bicho (1977), mas com a voz doce da irmã de Caetano, Nicinha.

No entanto, Caetano Veloso já anunciou que Abraçaço encerra a trilogia da BandaCê. Trilogia que, na verdade, já chegou a cinco (!) volumes. (2006) foi uma carta de apresentação roqueira, que gerou um disco Multishow Ao Vivo. Zii e Ziê veio três anos depois, transportando o samba para a sonoridade do quarteto. Esse também gerou um ao vivo, agora pela MTV. Para Abraçaço, o mais pesado e plural dos três, ainda não há previsão de um ao vivo. Assim como não há previsão do que virá depois. Por enquanto, o que é certo é que, a vida ficando odara, Caetano segue cantando.

Divulgaçao 5-cred Fernando YoungServiço
Quando: hoje (6), às 22h
Onde: Centro de Eventos do Ceará (Av. Washington Soares, 999 – Água Fria)
Quanto: R$ 50 (cadeiras – meia), R$ 100 (cadeiras – inteira), R$ 180 (Mesas Premium por pessoa) e R$ 150,00 (mesa ouro por pessoa). À venda na Sonho dos Pés (Via Sul, Benfica e Jardins Open Mall) e www.ingressando.com.br
Outras informações: 32301917

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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