patriciamarxtrintacapacdÉ impossível falar o nome de Patrícia Marx sem lembrar daquele rosto angelical que integrava o Trem da Alegria com apenas 6 anos de idade. Sucesso da década de 1980, o trio infantil teve início em 1984 e emplacou muitos sucessos entre a garotada ao longo de quatro anos. Desde então, Patrícia passou por muitos momentos, desde o pop radiofônico feito por produtores que queriam aproveitar o público que crescia junto com ela, até uma refinada mistura soul/bossa/jazz/eletrônica que a levou a muitas turnês pelo exterior. Espécie de redenção artística, essa mistura é a tônica do disco Trinta, projeto comemorativo dessas três décadas de carreira que chega em disco pela gravadora Lab 344. Com a cantora exibindo seu corpão de 37 anos na capa, o disco traz 10 canções que buscam, com algum custo, alinhar momentos do passado pop com algo mais recente. Custo por que são épocas e repertórios muito díspares para serem unidos sob uma sonoridade tão elegante. Não à toa, toda a produção infantil e infanto-juvenil foi deixada de lado nesta comemoração. Eis, então, um ponto negativo do projeto. Como boa parte da discografia da artista se perdeu no tempo, seria bem interessante que as canções viessem com pequenos textos de apresentação. Isso por que a única faixa que talvez não precise de apresentação seja Espelhos d’água, canção de Dalto e Cláudio Rabello, que a cantora paulistana gravou com sucesso em Quero mais (1995). No disco Trinta, a balada conta com a participação de Seu Jorge, fazendo um contraponto grave à voz aguda da anfitriã. Também dessa época, Ficar com você é uma versão de Nelson Motta para I wanna be where you are (funk lançado por Michael Jackson em 1972)apresentada por Patrícia em seu disco de 1994. Reacomodadas depois de um banho de loja no novo projeto, não deixam de transparecer a irregularidade que guiou a carreira da artista ao longo desses 30 anos. O que é muito natural para quem começou tão cedo. Dessa forma, Trinta acaba resgatando um passado mais recente, registrado nos últimos 11 anos, quando ela já havia assumido uma carreira independente. Despertar, por exemplo, é uma balada sensual gravada no bom Respirar (2002), que traz na letra um recado sobre os novos tempos (“o que está no ar são os ventos pra mudar”). Já Diego Oliveira faz um rap sobre o samba jazz Menino, homenagem ao filho Arthur (13) pescada do insosso e despercebido disco de 2004. Também convidado para o projeto, Ed Motta comparece com seus groovies em Tudo que eu quero (Patrícia Marx/ Filiph Neo/ Sorry Drummer/ Bruno E), uma das canções inéditas do projeto. Já planejando um segundo volume para o fim do ano e um desdobramento em CD e DVD ao vivo, Trinta soa melhor como álbum do que como uma seleção de faixas. Exibindo boa voz e coerência com as escolhas recentes, Patrícia Marx comemora parte do passado, sabendo que futuro é mais interessante.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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