Djavan 1 crédito Tomás Rangel

Em 2010, Djavan realizou um sonho que já acalentava há muitos anos. Resgatando a essência do crooner que ele foi nos primeiros anos de vida artística, o músico gravou Ária, um disco onde atuava exclusivamente como intérprete. A fórmula, aparentemente simples, acabou se tornando um desafio diante da infinidade de belas canções que se atravessaram no seu caminho.

Desejo realizado, dois anos depois o alagoano voltou à sua porção mais evidente: a de compositor. O resultado desse retorno foi seu 21º trabalho, Rua dos Amores, que apresentou 13 novas canções permeadas pelo balanço, pela delicadeza e pelas palavras características deste senhor de 64 anos. Sete dessas canções estão entre as 24 do show Rua dos Amores, que Djavan apresenta esta noite em Fortaleza, em única apresentação no Siará Hall.

“Um êxtase total” é como o artista define o espetáculo de duas horas que já está viajando desde novembro do ano passado. Em entrevista por telefone, Djavan lembra que passou quatro anos totalmente afastado do ofício de compositor, dedicado exclusivamente ao mergulho que fez na obra dos outros. “Tive que radicalizar, por que, antes, toda vida que ia fazer (um disco de intérprete), fazia uma ou outra canção e lançava um disco de inéditas”. No retorno, a primeira que nasceu foi Vive, que ganhou a voz de Maria Bethânia antes da do autor. As demais levaram apenas três meses para ser escritas. “Tenho que compor ali e já gravar, que é pra ter frescor”, explica.

djavan-capa-cd-rua-dos-amoresApesar de parecer mais fácil, a escolha das 12 músicas de Ária exigiu um esforço tremendo de Djavan. Ouvindo toda o cancioneiro nacional, de Villa-Lobos a Gilberto Gil (com algumas estações na música internacional), ele foi em busca do que mais lhe tocava, ensinava e acrescentava. Passada a experiência, ele ainda não consegue avaliar o que apreendeu dessa experiência. “Foi um contato muito incrível com a obra brasileira, que pode ter dado uma influenciada na hora de fazer (o novo disco). É uma coisa meio implícita, mas dá uma subsidiada mesmo. Quando fui compor o Rua dos Amores, é provável que tenha ficado uma reminiscência”.

No entanto, também é certo que poder voltar a dar voz às próprias palavras parece libertador para Djavan. Sem cogitar, no momento, um “Ária 2”, ele mantém como plano principal apenas compor, compor e compor. “Minha expectativa foi completamente correspondida. É muito difícil (fazer outro disco de intérprete), até por que a composição é uma necessidade física. Eu preciso compor, trazer novas informações”, afirma o artista, que conta com as facilidades e o conforto de um estúdio próprio.

Bem diferentes das produções típicas dos anos 1980, quando as gravadoras investiam pesado em estúdios e músicos americanos (até Stevie Wonder entrou nesse time), os novos discos de Djavan primam pela simplicidade e pela “mão-de-obra” nacional. “Comecei a ter a necessidade de gravar exclusivamente com músicos brasileiros. Eu quero mesmo fazer essa troca de informações com os músicos jovens que querem trabalhar comigo. É provável que eu faça algo com músicos americanos, mas eu quero manter essa proximidade (com os brasileiros)”, adianta.

Djavan 2 crédito Tomás RangelE, como é o inédito que o apaixona e faz viver, Djavan anuncia que algumas novas parcerias estão a caminho, das quais só revela uma, com Zeca Pagodinho, que será gravada no novo disco de Alcione. Outras virão, mas permanecem em segredo. “Sem o trabalho, não existe vida. Você precisa se envolver com a criação, mover seus neurônios para a evolução. Vivo envolvido com essa profissão que eu adoro e isso tem facilitado as coisas”.

Serviço:
Quando: hoje (1º), às 23h
Onde: Siará Hall (Av. Washington Soares, 3199 – Edson Queiroz)
Quanto: R$ 50 (Pista – Meia), R$ 100 (Pista – Inteira), R$ 110 (Front Stage – open bar), R$ 120 (Camarote 1º Piso – Meia), R$ 240 (Camarote 1º Piso – Inteira), R$ 80 (Camarote 2º Piso – Meia), R$ 160 (Camarote 1º Piso – Inteira), R$ 75 (Mesa individual – Meia) e R$ 150 (Mesa individual – Inteira)
Outras info.: 32301917 e 32788400

Saiba mais:

> Próximo dos 40 anos de carreira, Djavan tem apenas dois discos ao vivo lançados. O terceiro está previsto para o fim da turnê Rua dos Amores. “Eu não escuto os meus discos. O tempo urge e eu preciso pensar no futuro”, explica o músico. “O que foi feito foi feito. Meu interesse é pela novidade. Eu só faço discos ao vivo por que quero registrar aquele momento. Mas não faço o disco ao vivo e a turnê do disco ao vivo”.

> Está previsto para o próximo semestre o lançamento de um box com a obra completa de Djavan. Com cereja do bolo, esse pacote vai trazer gravações raríssimas, feitas antes mesmo do lançamento do disco de estreia, A voz e o violão (1976). “Tem coisas que nem eu sabia que tinha gravado”, revela.

> Fã de longa data da obra de Djavan, a cantora Rosa Passos está lançando pela gravadora Universal o tributo Samba dobrado. Com sua personalidade cool, a baiana recria, nos próprios termos, 12 músicas do alagoano, como a seminal Pedro Brasil e a elegante Cigano. Pra fechar, ela ainda lhe dedica Doce menestrel, uma parceria inédita com Fernando de Oliveira.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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