erasmo-carlos

Enquanto não chega às lojas o disco de inéditas produzido por Kassin previsto para o segundo semestre, Erasmo Carlos tem sua sua melhor fase criativa empacotada na coleção Três Tons. Projeto da gravadora Universal que já relançou parte fundamental das obras de Luiz Melodia, Fafá de Belém, Carlos Lyra e Alceu Valença, traz agora três discos lançados pelo Tremendão entre 1971 e 1976. Nessa época, o carioca mantinha sólida, poética e luminosa parceria com o amigo Roberto, mas também criava um história paralela em carreira solo. Vivendo uma fase hippie ensolarada, turbinada pelo amor de sua esposa Narinha e pela paternidade, cantada em verso e prosa, Erasmo estava cheio de inspiração e compunha cada vez melhor canções que acabaram sendo eclipsadas pela parceria com o Rei. Como intérprete, ele também surpreendia  ao dar sua voz matreira para canções de Jorge Ben, Taiguara e Belchior. A caixa Três Tons começa com o fundamental Carlos, 42126840Erasmo (1971), que conta com arranjos de Chiquinho de Moraes e Arthur Verocai, e participação de membros dos Mutantes. Aqui, Erasmo se afasta do rock e cria uma obra prima cheia de ritmo, beleza e novidade. Destaque para as faixas Ciça, Cecília, Mundo deserto e a pungente Masculino, Feminino, interpretada em dueto com Marisa Fossa. Depois, a caixa vem com Sonhos e Memórias, talvez o disco mais bonito da história do tijucano. Sábado morto, Grilos, Sorriso dela, Mundo cão. É uma maravilha atrás da outra. Por fim, Banda dos contentes (1976), abre com o hino adolescente Filho único, uma balada folk de beleza indescritível. Acompanhado pelos músicos da efêmera banda Karma, Erasmo ainda manda a versão original de Paralelas (cuja letra foi depois modificada pelo autor Belchior); Queremos saber, reflexão de Gilberto Gil sobre a modernidade, redescoberta por Cássia Eller em seu acústico; e a faixa título, uma espécie de Band On The Run nacional. Para quem ainda acha que Erasmo Carlos é “só” um compositor da Jovem Guarda que fez sucesso compondo com Roberto Carlos, os discos da caixa Três Tons provam o quanto se está enganado.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles