12112012_ViviSeixas_DigipakMexer na obra de grandes músicos é sempre um risco. Disso ninguém duvida. Trata-se de um exercício que nunca deve ser evitado, posto que as composições não podem ficar congeladas nas supostas e duvidosas “versões definitivas”. No entanto, as releituras sempre passam por alguns perigos. O argumento de “atualizar a obra” traz embutido um outro que diz que essa tal obra já passou do seu tempo. Onde ficaria o atemporal, então? Outro perigo é o de apresentar essa obra para uma nova geração. Para isso, dependendo da obra em questão, não carece novas versões. Às favas com os perigos e Vivi Seixas lançou Geração da Luz (Warner), disco onde joga um molho eletrônico sobre 10 canções de Raul Seixas (1945 – 1989). Se, a princípio, a ideia parece uma heresia, ela tem a primazia por ser filha do Maluco Beleza. Com pouco menos de 10 anos de carreira como DJ, Vivi Seixas fugiu de qualquer argumento que justificasse a realização do projeto, a não ser para afirmar que era um desejo pessoal. Apostando nos hits de Raul Seixas, Geração da Luz agrada num primeiro momento, principalmente por que a voz e o discurso do baiano estão intactos. O trabalho da herdeira de um dos maiores ícones do rock brasuca foi, basicamente, sobre as melodias. Logo na abertura, ela bota um trecho de Raul afirmando que quer novidade, como quem quer mostrar que o pai, antes de ouvir, já aprovava a proposta. “Não quero ranço de coisa de velhice. Vamos fazer a cabeça dos novos por que os velhos já estão fritos”, manda o Carimbador Maluco. Daí seguem uma versão em espanhol para Metamorfose ambulante, Aluga-se, Como vovó já dizia, Só pra variar e outras. Super-heróis e a eletromacumba Mosca na sopa ficaram bem bacanas. No fim de menos de 40 minutos de audição, algumas impressões, todas já esperadas anteriormente, ficam no ouvinte. Tudo é bem feito e divertido, mas tem data de validade curta. O calor das versões originais é bem superior. Se qualquer das versões tocar na pista, o público vai delirar. Mas em disco, fazem pouco sentido. Apesar das críticas, Vivi Seixas merece elogios por conta de alguns detalhes. Começa que o lançamento discreto não buscou abusar da imagem icônica e saudosa de Raul. Ela mesma também buscou jogar luzes para o próprio trabalho, tirando o foco da sua vida pessoal. Esses e outros pontos valem para afirmar que Vivi teve cuidado com a memória do pai. Quanto aos remixes, é uma homenagem de filha para pai. O que, certamente, deixaria Raul Seixas orgulhoso. Você não ficaria?

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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