Mesmo que nunca tenha perdido o ar de diva, Gal Costa já atravessou muitos picos e vales de popularidade e criatividade ao longo desses quase 50 anos e carreira (tendo como referencial o álbum Domingo, de 1967). Disputando com Maria Bethânia e Elis Regina o posto de maior cantora brasileira, ela já foi musa da contracultura com postura roqueira, bela e sensual carnavalesca, bossanovista disposta a homenagear os mestres e figura pop romântica de baladas açucaradas.
Outras muitas cantoras já habitaram a estrela de Gal Costa, que, em cada um desses personagens, procurou não perder as marcas da qualidade, modernidade e, sempre que possível, da ousadia. Principalmente esse último aspecto é o que norteia seu último trabalho de estúdio, Recanto, lançado em 2011. Todo rebocado com intenções eletrônicas, o álbum idealizado e dirigido por Caetano Veloso gerou uma bem-sucedida turnê, que passa pela primeira por Fortaleza esta noite, no Centro de Eventos.
Em cena, a baiana de 67 anos costura sua história de sucessos, transgressões e reinvenções ao lado de um jovem trio formado por Domenico Lancellotti (bateria), Pedro Baby (guitarra e violão) e Bruno di Lullo (baixo). Já registrado em CD e DVD, a turnê Recanto usa com precisão cirúrgica os poucos elementos cênicos do espetáculo. Vestida de preto, sem detalhes sobrando, Gal deixa sobressair apenas a voz aguda, que ganhou do tempo alguns contornos de rouquidão.
A vocação roqueira do trio que acompanha a cantora é valorizada ao longo das 23 músicas do show. O exemplo óbvio fica para a performance incendiária de Pedro Baby em Vapor barato (Jards Macalé/ Waly Salomão). Trazendo à memória o antológico happening Gal Fa-Tal, os quatro ainda reinventam pérolas tropicalistas como Barato total (Gilberto Gil), Deus é o amor (Jorge Ben), D” (Caetano Veloso/ Gilberto Gil) e Da maior importância, de Caetano Veloso. Esta última, escolhida para abrir o set list, faz lembrar ainda os 40 anos do disco Índia, onde Gal assumiu as belas curvas numa das capas mais provocantes da história da MPB.
Por falar em Caetano Veloso, o “doce bárbaro” é onipresente no repertório, que traz o álbum Recanto quase na íntegra. Tem a macumba computadorizada Miami maculelê, a crítica afiada de Neguinho, as tristezas profundas de Tudo dói e Recanto escuro, e o pseudo-blues Cara do mundo. Sem perder o estranhamento que o disco de 2011 causou, ao vivo, esse repertório cresce e ganha calor com a proximidade do público.
No meio dessa viagem, Gal Costa faz breves paradas em alguns hits absolutos da sua trajetória. Num primeiro momento, eles podem até soar deslocados diante das estranhezas de Recanto. Mas acabam se condensando na proposta minimalista do show e cativando (mais uma vez) o público. Por exemplo, impossível não se emocionar com a pungente delicadeza de Força estranha (Caetano Veloso) ou com a feminilidade assumida de Folhetim (Chico Buarque) e Meu bem meu mal (Caetano Veloso). Uma surpresa fica para a presença de Um dia de domingo (Paulo Massadas/ Michael Sullivan), gravada em 1985 em dueto com Tim Maia (1942 – 1998). A balada de tom cafona, que estourou além das fronteiras brasileiras, vem junto com uma homenagem ao saudoso Síndico, quando a baiana brinca com os tons graves.
Meio operístico, escuro e com emoções latentes, o show da turnê Recanto pode ser incluído entre os grandes momentos da carreira de Gal Costa. Tem algo de agressivo e doce. Algo de alegre e triste. Algo de lado B e lado A. Assim como aconteceu tantas vezes na história desta artista, é mais um momento de reinvenção. Mesmo que não resolva a questão de quem é a maior cantora do Brasil, reafirma porque esta baiana foi incluída na disputa.
Serviço
Gal Costa – Recanto Ao Vivo
Quando: hoje (14), às 22h
Onde: Centro de Eventos do Ceará (av. Washington Soares, 999 – Água Fria)
Quanto: R$ 45 (cadeiras – meia), R$ 90 (cadeiras – inteira), R$ 170 (Mesas Premium por pessoa) e R$ 140 (mesa ouro por pessoa)
À venda na Skyler Iguatemi (cadeiras) e Vitrine Mall – Via Sul (mesas)
Outras informações: 32301917
Gal Costa jamais disputou o título de melhor cantora do Brasil com Maria Bethânia. Com Elis Regina, sim. A crítica musical sempre dividiu-se entre Gal e Elis na hora de apontar a maior cantora do país. Já com Bethânia, repito, não. E para quem entende de música é óbvio o porquê de Maria Bethânia não poder ser considerada uma cantora perfeita. Falta-lhe extensão vocal e afinação (entre outros atributos técnicos) para qualificá-la como tal. Bethânia tem belo timbre – lapidado arduamente ao longo de quase meio século de carreira, potência expressiva (confere ênfase e verdade à palavra cantada) e forte postura cênica capturada do teatro e do circo. Esses elementos serviram para compensar, em parte, sua deficiência técnica, dotando o seu canto de emoção ímpar e transformando-a em uma grande artista brasileira. Mas, definitivamente, em nenhum momento, lhe conferiram prestígio internacional a ponto de fazê-la ser considerada uma das melhores cantoras do mundo – como o foram Gal Costa e Elis Regina -, sequer a melhor cantora da nossa terra.
Gal Costa é uma das maiores cantora do Brasil. Amo sua voz, ela canta com a alma, canta com o coração. Uma cantora que podemos falar com TODA CERTEZA: “GAL COSTA? ESSA SIM É UMA CANTORA DE VERDADE”.
Elis,Gal e Bethânia,necessariamente nessa ordem, foram as maiores estrelas da música brasileira dos anos 70.A Elis é a mais completa.
A Gal é realmente fantástica. Tem o canto fino, criativo e apurado. Além disso, é a nossa eterna musa do tropicalismo.