simone-25dedezembro2528frente2529Quando, em 1995, a cantora baiana Simone lançou o disco 25 de Dezembro, nem ela tinha noção do aconteceria em seguida. O sucesso foi estrondoso e ela se tornou presença obrigatória em qualquer lugar por onde o Papai Noel passasse. Somente no primeiro mês, foram mais de um 1,5 milhão de cópias. Mais ainda, o disco abriu um novo nicho, até então, bem pouco explorado pelas estrelas da música nacional.

A ideia de Simone com 25 de Dezembro era bem mais simples do que se podia imaginar. Além de toda a simbologia religiosa que cerca o dia, esta é também a data do seu aniversário. Ou seja, o disco, que ela apresentou como um sonho antigo, era também uma forma de se homenagear. Comercialmente, a seleção natalina foi mais do que bem sucedida. Por outro lado, a onipresença de Então é Natal nas festas brasileiras trouxe junto um fardo para a cantora, que se tornou mais requisitada em fim de ano do que rabanada.

CoverCom o caminho aberto, muita gente resolveu repetir a fórmula. Bibi Ferreira, Chitãozinho & Xororó, Sérgio Reis e Roupa Nova são só alguns nomes tentaram faturar com a ideia. Ivan Lins foi o que se saiu melhor, quando fez dueto com José Feliciano no álbum Um novo tempo (1999). Entre as 15 faixas dedicadas à data, ele até inclui uma leitura própria de Então é Natal, se escorando na rebarba da amiga baiana. Ah, claro, Simone também participa do disco, cantando Um Natal brasileiro.

Além da ideia ter ficado meio batida, esses discos trazem praticamente o mesmo repertório, formado por clássicos do gênero. Isso por que foram poucos os compositores brasileiros que criaram temas próprios para a data. Assis Valente é um deles, que botou boa parte de suas tristezas em Boas festas (“O meu Papai Noel não vem. Com certeza já morreu”) e ganhou uma gravação antológica feita pelos Novos Baianos. O paulista Blecaute foi mais esperançoso em Natal das crianças, que se tornou um clássico nacional. Já Adoniran Barbosa, em Véspera de Natal, dá um desfecho hilário ao sacrifício de um pai amoroso.

Mais respeitosos com a tradição, Rildo Hora e Sérgio Cabral resolveram homenagear os mestres do samba em Meninos da Mangueira. Segundo os compositores, foi um Papai Noel mulato quem trouxe nova batucada para o morro, que já começa a se aquecer para o Carnaval. O cearense Evaldo Gouveia e seu parceiro Jair Amorim também preferiram não fazer piada em Balada para qualquer Natal, gravada por Altemar Dutra. O completo oposto fez o Joelho de Porco no reggae Noite de Natal, do disco Saqueando a Cidade (1983).

Se, no Brasil, foi preciso Simone abrir as portas do mercado para os discos de Natal, no exterior a moda já pegou há muito tempo. Bing Crosby, por exemplo, transformou White Christmas num hino cantado à exaustão, que vendeu muitos milhões de cópias e passou mais de 20 anos nas paradas. Outros crooners de respeito, como Michael Bublé, Tony Bennett e Frank Sinatra – e o falso crooner Rod Stewart – também dedicaram discos inteiros a esta noite feliz. Como o retorno, de um modo geral, é lucrativo, Justin Bieber, Mariah Carey, Lady Gaga e o elenco do Glee também fizeram os seus. Até o rei Elvis Presley já caiu nesta onda.

Claro que no meio de uma lista tão grande, há quem procure sair da mesmice. Nesse assunto, vale conferir Cee Lo’s Magic moment (2012), do soulman norte-americano Cee Lo Green. Com arranjos suingados, que evocam o melhor da black music, o músico fez um disco que resiste até fora da data em questão. Enquanto isso, no Brasil, ainda é Simone quem bate o sino pequenino sempre que dezembro chega. Mas, que bom que ficou com ela essa referência. Pior seria se fosse com Luan Santana, que acaba de regravar Então é Natal.

Outros natais:

> Garotos Podres – Ícone do punk nacional, a banda paulista também fez sua “homenagem” ao Bom Velhinho. De tão politicamente incorreta, ela acabou ganhando uma versão de título “Papai Noel velho batuta”.

> Happy xmas – John Lennon e Yoko Ono aproveitaram o Natal de 1971 para lançar um single, que, mais uma vez, pedisse o fim da Guerra do Vietnã. Tornou-se um hino. A propósito, “Então é Natal” é uma versão desta música.

> One wish – Pouco antes de mergulhar no turbilhão de polêmicas que a perseguiu até a morte, Whitney Houston também gravou seu álbum natalino. Sem novidades, foi seu penúltimo trabalho.

> Entre irmãos – Nos anos 1970, duas famílias do pop internacional gravaram suas músicas de Natal. O Jackson 5 veio com o Christmas album (1970), que fez sucesso com a voz ainda infantil do pequeno Michael. Já os irmãos Carpenters estavam perto de dar adeus à fama quando lançaram Christmas Portrait (1978).

> Instrumental – Pra quem acha que a Simone nunca deveria ter gravado um álbum de Natal, é bom lembrar que o saxofonista Kenny G já lançou nada menos que quatro discos sobre o tema. Pra completar, a coleção ainda rendeu duas coletâneas.

> Fab Four – Embora nunca tenham gravado um disco de Natal, os Beatles lançaram alguns compactos para a data. A sugestão partiu do assessor de comunicação da banda, com a ideia de distribuir como se fossem cartões para os fãs. Até Jingle bells rock entrou para o repertório.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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