IMG_3415 cópiaCom mais de 30 anos de carreira, Aparecida Silvino não parece menos empolgada com seu ofício. Tanto que ela não perde um gancho para montar um novo projeto, uma nova ideia. É com essa empolgação que ela visitou O POVO para falar sobre o lançamento de Sinal de cais, disco que esperou muitos anos até se tornar realidade. Assim como o bordado que ilustra a capa, esse lançamento independente costura uma história de quase uma década, que será apresentada esta noite na Livraria Cultura.

“Eu queria fazer um disco de amor feliz, por que ser feliz todo dia é uma escolha”, explica a artista, que não pestaneja em assumir ser este o preferido da própria discografia. O repertório de Sinal de cais já vem sendo testado nos palcos desde 2006 e o disco começou a ser planejado para 2007. Não aconteceu, mas, em 2009, todas as canções ganharam arranjo para comporem um especial de TV. Como a banda já estava afiada, quando a gravação aconteceu de fato, em 2011, o trabalho levou apenas dois dias. “Minha música é simples, com cinco ou seis acordes. Elas vêm como o vento, uma onda do mar. São músicas que chegam como uma pessoa conhecida”, analisa.

Para Aparecida Silvino, tanta espera não envelheceu o repertório de Sinal de cais. “Ele não consegue envelhecer. Ouço todos os dias no carro e percebo isso. São as coisas que ele diz. Tudo ali sou eu que estou falando”, revela a cantora que até recebeu o prêmio de melhor intérprete no I Festival de Música da Assembleia com Janela aberta, composição própria em parceria com Gilvandro Filho. Além dele, outros parceiros – de vários cantos do Brasil – desfilam pelo disco, todos integrantes do M-Musica, um “clube” on line de compositores.

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Mas, entre todos, um parceiro chama mais atenção. Trata-se de Zé Rodrix, carioca que tem no currículo Casa no campo, sucesso na voz de Elis Regina, e uma passagem pelo Som Imaginário, banda que acompanhou Milton Nascimento nos anos 1970. Eles se conheceram em 2003, em um encontro de compositores. “Era o Rodrix que ia produzir o disco, mas ele morreu antes (em 2009)”, lamenta Aparecida, que compôs com ele (e a filha Barbara Rodrix) a balada Quando é amor, baseado num relacionamento mal sucedido da cantora. Rodrix também cedeu a pungente As fronteiras do amor, antiga parceria com Tavito, feita na mesma leva de Casa no campo.

Mais do que os presentes musicais, Zé Rodrix foi importante por mostrar a Aparecida Silvino um lado mais cru da vida artística. “Ele dizia que você tem que ser você e aproveitar as oportunidades. Se não quiser pagar o preço de ser quem se é, é melhor abrir uma franchising de pão de queijo”, lembra ela, citando o amigo. Para a cearense, que lembra outras várias lições aprendidas com Zé Rodrix, essas palavras foram importantes para delinear uma trajetória artística, que dosasse inspiração e transpiração nas medidas corretas.

Para Aparecida Silvino, que vive cercada de música desde os primeiros anos, essa trajetória se confunde com o curso da própria vida. Incentivada pela irmã Izaíra Silvino, ela começou a estudar a estudar música com apenas quatro anos e, aos seis, já tocava piano com desenvoltura. Na adolescência, começou a cantar em corais, sob regência de Izaíra. Soprano de voz segura e corajosa, Aparecida ainda ajudava a irmã a passar os arranjos. A primeira chance de se mostrar como artista solo veio em 1986, quando participou de um festival da Coelce, com uma música que ela nem lembra mais. “Mas ganhei o prêmio de melhor intérprete”, lembra ela que, na sequencia, recebeu um convite para montar o show Voz e Magia, no Theatro José de Alencar.

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O show rendeu o primeiro disco, Vidro e Aço, lançado em 1991, que contou com participações de Belchior e Kátia Freitas. Enquanto cantava e regia corais em Fortaleza, incluindo o Coral do Povo, do Grupo O POVO, Aparecida seguia sua carreira solo e lançou ainda os discos Presente (2001) e Mãe (2010). Agora, além de apresentar Sinal de Cais, ela planeja mais dois discos. Um deles, já gravado, é feito somente com músicas de Eugênio Leandro. O outro seria com composições próprias de Blues, que pretende dividir com o guitarrista Arthur Menezes.

Os planos são muitos e a energia para seguir cantando é ainda maior. Levando a sério o ofício de cantora, Aparecida Silvino foge de qualquer exposição que não seja de sua arte. Daí ela optar por não colocar seu rosto na capa de Sinal de Cais. De mais próximo, apenas o apelido de família “Apá”, para assinar o disco. “Eu vou fugir o máximo possível da minha cara, por que não acho que ela diz muito sobre mim. Minha voz diz muito mais”, confessa.

Serviço
CD Sinal de cais – Aparecida Silvino
Quando: lançamento nesta sexta-feira (21), às 20h
Onde: Livraria Cultura (Av. Dom Luís, 1010 – Meireles)
Quanto: aberto ao público. O disco vai ser vendido a R$ 19,90
Outras informações: 4008.0800

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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